Nos Estados Unidos festeja-se mais
um lançamento espacial, em Inglaterra prepara-se mais duas ligações férreas pelo
túnel da Mancha - entre Londres e Amesterdão e Roterdão - em Portugal há muito
que se permite a destruição do maior rio ibérico, as autoridades portuguesas fechando
os olhos em estranha conivência, sem que os grupos ecológicos ao menos,
recorram a denunciar externamente esses crimes.
Lurdes Ferreira expõe,
na Editorial do Público de 6/ 2 mais este nosso crime de lesa humanidade,
lesa ambiente fluvial e terreno, lesa ética… E tudo chafurda na asneira. «Pobre
Rio Tejo», de facto. Pobres dos que dele vivem, fauna e flora. Sagrada
escuridão em que vivemos, os crimes denunciados já quando os casos estão
consumados, rasteiros que somos.
Pobre Rio Tejo
EDITORIAL
12 mil metros cúbicos
Não se sabe se o ministro
vai fazer destes casos o ponto de partida para uma mudança de registo do
Ministério do Ambiente no combate à poluição nos rios. Politicamente não lhe
restarão grandes alternativas.
LURDES FERREIRA
PÚBLICO, 6 de Fevereiro de
2018
Em vez das brandas admoestações do costume sem
consequências de fundo, o Ministério do Ambiente decidiu prolongar por mais 30
dias as restrições ao despejo diário de efluente da Celtejo no rio Tejo, e que
poderão arrastar-se por ainda mais 30 dias. Ao mesmo tempo dá ordens de
encerramento à Centroliva e à Fabrióleo, duas outras fábricas responsáveis por
cargas poluentes no mesmo rio. Se são iniciativas pontuais ou se isto marca uma
mudança no comportamento das autoridades está para se ver. Para as populações
que vivem do rio e para a vida que nele habita com cada vez maiores
estrangulamentos é um momento promissor.
O problema que se apresenta tem, para já, a forma
esmagadora de 12 mil metros cúbicos. São sedimentos depositados
no fundo do leito do rio, que vão começar a ser removidos. É difícil ter uma
ideia certa do volume desta poeira de matéria orgânica que pousou no fundo e
que chegou a esta dimensão por causa do baixo caudal e da baixa velocidade da
água do Tejo, ao contrário do que costumava acontecer. Doze mil metros cúbicos
equivalem a um campo de futebol com 1,2 metros de altura. Se a água corresse
como antes, as partículas eram levadas. Sem ela são borras de café que
assentaram no fundo da chávena. A poluição já lá existia, o rio levava-a mas
não se via. Esta é a grande diferença.
A seca e os transvases espanhóis explicam a falta de
água. A falta de uma fiscalização eficaz e de uma governação coerente explicam
os sedimentos e o ponto de tortura ambiental a que chegou o Tejo. O governo que
agora pune é o mesmo que há alguns meses aprovou o aumento da
capacidade da Celtejo, na prática, o aumento das cargas poluentes no rio quando
o seu caudal já não o permitia. E o caso culmina com um jogo do gato e do rato
com as amostras para investigação desaparecidas.
Não se sabe se o ministro vai fazer destes casos o ponto de
partida para uma mudança de registo do Ministério do Ambiente no combate à
poluição nos rios. Politicamente não lhe restarão grandes alternativas. Numa
matéria em que os partidos tão raramente se entendem, desta vez todos concordam
na tomada de medidas urgentes que diminuam a carga poluente do Tejo – uma
espécie de consenso de regime. Por outro lado, o ministro João Matos Fernandes
terá de compensar o impasse forçado pela sua homóloga espanhola no último
encontro bilateral e provar que a reivindicação portuguesa de um acompanhamento
de caudais diários em vez de semanais não caiu no vazio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário