O do Público,
de 21/2/2018:
1ª vinheta: O barman, por trás do balcão, sujeito sabedor, boca em O no
queixo descido de quem informa, três pêlos em tufo partindo do olho esquerdo, coroando
a cabeça invisível, o olho enorme, a pupila assestada sobre o freguês de boné,
cujo olho direito também transparece, camisa e calça de riscado, sentado no
primeiro dos três bancos assinalados, o dorso arqueado dos desgastes da vida,
os braços cruzados sobre o balcão, a caneca de cerveja ao lado, a transbordar, em
frente-a-frente atento, a boca reduzida a um ponto. A informação do barman:
HOJE COMEMORA-SE O DIA DA LÍNGUA MATERNA
2ª vinheta: o mesmo quadro, 2ª informação:
AMANHÃ
ASSINALA-SE O DIA DA VÍTIMA DO CRIME
3ª vinheta: Alteração ligeira, no quadro: a boca do barman fechada no
ponto mudo, a do freguês aberta no seu pequeno O de estranheza interrogativa. A
questão do freguês:
DIAS CONSECUTIVOS. É CURIOSO. HÁ ALGUMA LIGAÇÃO ENTRE OS
DOIS?
4ª vinheta: Retoma o O da boca do barman que responde em força, surgem três dedos
da sua mão direita, o indicador espetado, sobre os dois seguintes fechados, em
aviso decisivo:
ASSIM DE REPENTE, VEIO-ME À CABEÇA O ACORDO
ORTOGRÁFICO.
Dir-se-ia que o crime compensa, em face da agudeza drástica
da caricatura, embora o fito seja de o
impedir.
Mas a inteligência dos que comandam não é afectada por tão
pouco.
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