quinta-feira, 9 de junho de 2016

Que dívidas? Ora essa!



Estranho mundo este nosso português com pessoas cultas que analisam o mundo que nos rodeia com olhares tão divergentes de sabedoria, e jamais se apontam o dedo crítico em comentário de pura ética sobre a “nostra  culpa”, fundamental no processo, que nos leva agora ao receio de perdermos o leite que temos mamado dessa Europa leiteira em vias de extinção. Francisco Louçã acusa a Áustria, país de nomes sonantes da cultura e arte, de virar à direita em saudosismo de preferência nazi, à trágica embrulhada em que o mundo europeu anda metido, com gente invasora chegada do leste e com países não pagadores das dívidas feitas em nome dos convenientes princípios dessa união democrática que se dispusera a ajudá-los e se via na contingência de os punir por incumprimento. Um seu comentarista anónimo – Epicuro - igualmente, em fúria destruidora de uma arrogância destemida, desata a chamar a esses povos germânicos bárbaros compulsivos e eternizados, jamais corrigidos, que nem os exemplos dos valores ilustres citados por Louçã serviram para contrariar.
Cada um dos textos é ilustrativo de uma sabedoria guiada por parti pris, que oculta o caso deste nosso país, igualmente bárbaro, na sua mansidão finória, desrespeitadora das regras do civismo e de cumprimento de normas, que se dá ao luxo de esbanjar dinheiros de empréstimos desses tais bárbaros altruístas mas arrependidos, sem pensar em ressarci-los… Não posso concordar  com nenhum deles, nem com a ironia receosa do primeiro, nem com a violência atrabiliária do segundo. Socorro-me do texto de Bagão Félix, do mesmo “Tudo menos Economia” do Público de 28/5, como amostra da nossa irredutível falta de escrúpulos no atropelamento das regras, que devia servir a ambos – o cronista e o seu comentador - na percepção da verdadeira nobreza de princípios.
Francisco Louçã
União? Pergunte se faz favor: União?
A Áustria escolheu por uma unha negra o presidente que não é o homem da extrema-direita. O país de Freud e de Reich, de Mozart, Haydn, Schubert, Mahler, Strauss e Klimt, de Godel, Wittgenstein e Von Neumann, de Viena capital da Europa, esse é o país que dá hoje metade dos votos a uma figura de um partido nascido da saudade da invasão pelas tropas nazis (e já não é o primeiro susto que a Áustria nos prega). Se este é o resultado da fragilidade do regime democrático, da decadência das suas políticas sociais, do medo dos refugiados e da perturbação criada pela guerra fria de baixo nível nas fronteiras da Rússia, então é caso para nos questionarmos sobre a sobrevivência da própria política europeia, porque ela é um dos factores principais desta desagregação.
Quanto ao discurso, nem vale a pena cuidar disso. Como lembrou Teresa de Sousa, para já passou o susto e portanto as instituições europeias tratarão de esquecer o assunto o mais depressa possível – até à próxima. Entretanto, forças afins da extrema-direita dominam ou participam nos governos da Polónia, Hungria, Dinamarca, Finlândia e Holanda.
Mas, se isto é o susto, o que dizer da normalidade? No Reino Unido, o primeiro ministro conservador ajusta contas dentro do seu partido e com a direita nacionalista convocando um referendo a nada menos do que a participação na União Europeia. Em França, o presidente do Partido Socialista provoca o tumulto popular com uma lei que forçaria a precarização do trabalho, como já o tinha feito Matteo Renzi em Itália. Na Grécia, o parlamento aprova medidas de austeridade para serem aplicadas se não resultarem as medidas actuais, um novo pacote de austeridade, numa lei à condição que pelo menos deixa claro o caminho que é imposto ao país. Esta é a normalidade. Não se faz portanto ideia do que vem a seguir. O normal já é o assustador.
Repare-se na negociação entre a Comissão Europeia e Cameron. Para facilitar o discurso do chefe conservador, Juncker e os seus comissários concederam-lhe restrições aos direitos dos trabalhadores europeus em Inglaterra: as enfermeiras portuguesas (e todos os outros) perderão o abono de família para os seus filhos. Ou seja, na dificuldade – criada pelo jogo político de Cameron –, o argumento para ficar na União Europeia é que as suas regras deixem de se aplicar quando se trata de pessoas. Isto é a normalidade europeia nos dias que correm.
Talvez por isso, as palavras dos federalistas decepcionados são das mais lúcidas que podemos ler sobre a Europa (como é o caso, entre nós, de Viriato Soromenho Marques). Acreditavam numa convergência, acreditavam em mecanismos comuns, acreditavam em políticas dirigidas, acreditavam em cooperação e sai-lhes Schauble e Cameron, Juncker e Hollande. Mas, ao reconhecerem o problema com a franqueza de quem defende os seus pontos de vista, traçam o retrato do medo que a União vai suscitando. Não são os únicos a perceberem que o risco para Portugal se chama Comissão Europeia e Banco Central Europeu.
Entendemo-nos. Quando Bruxelas nos repete a palavra União já não quer dizer nada.
Comentário:
Viena nunca foi uma capital da europa civilizada. Viena nasceu tarde, foi um acampamento militar romano no limes, uma periferia, coisa da barbárie. Nunca saiu do estado de barbárie, tem um nome bárbaro e é um centro da barbárie germânica.
A barbárie germânica nunca foi civilizada, não tem cultura para tal, o atraso cultural milenar desses pré-históricos não permite a passagem ao comportamento civilizado.
Nem um estado e muito menos um “regime democrático” alguma vez existiram na “europa bárbara” (a europa depois do século III). A barbárie germânica desconhece e estranha a estrutura social greco-romana. O estado é a instituição da sociedade (coisa que os germânicos nunca tiveram) e o “demos” (gens em latim) é o patamar anterior à cúria na organização interna de uma sociedade greco-romana (organização que a barbárie nunca teve).
A plebe pré-histórica vive em matilha desde sempre. Não tem sociedade, tem a sua antítese. Não tem: familia-gens-cúria-tribo-cidade da sociedade greco-romana; tem: chefes, feiticeiros e plebe da matilha pré-histórica. Antes chamavam nobreza, clero e povo à matilha pré-histórica; agora chamam investidores, “comunidade científica” e trabalhadores à mesma matilha.
A matilha feirante actual é a continuidade da mesma estrutura pré-histórica da barbárie: os chefes, os feiticeiros e os servis. Sociedade e matilha são incompatíveis em termos estruturais. Não há estado nem democracia mesmo que na matilha se façam eleições para eleger o chefe da matilha feirante.
Isso do estado ser o mesmo que o “reino” bárbaro e do demos querer dizer povo, são analfabetismos dos universitários (sempre pródigos em ensinar a sua ignorância à barbárie). São analfabetismos que servem para a barbárie acreditar que é civilizada e, ao mesmo tempo, revela o quão ignorante e atrasada é essa plebe. O exemplo das anedotas anglo-saxónicas, que se apresentam como sendo uma monarquia e democracia ao mesmo tempo, é paradigmático do atraso cultural dessa plebe boçal e pré-histórica que é a barbárie germânica. E o quão atrasada e imbecil é a “europa bárbara”.
O único regime que a barbárie conhece é a bandalheira e as suas versões: a bandalheira bélica e a bandalheira feirante.
Não há qualquer hipótese da barbárie germânica e cristã ter uma democracia. A base cultural abraâmica é incompatível com a cultura que determina a democracia e o civismo.
Algum dia esta plebe, que adora um deus delinquente e individualista e valoriza o roubo pela mercadoria, vai ter comportamentos civilizados? Nunca, não sai sequer do ciclo de delinquência feirante, das ideologias de feira, quanto mais entrar no domínio do civismo.
O problema da “europa bárbara” é sempre o mesmo: a insalubridade cultural, que a barbárie apresenta desde que veio dos confins da periferia nórdica.
A UE é um buraco de maus vizinhos, controlado pelo país com mais cadastro criminal, à boa maneira da miséria cultural germânica.
O que vemos hoje é mais do mesmo na “europa bárbara”: a impossibilidade da barbárie se comportar de forma civilizada entre eles.
A bandalheira feirante, o roubar através da mercadoria, é a prática desta barbárie que nega a ordem, o civismo, o estado e não sabe sequer o que é uma democracia. Viena é uma capital da barbárie germânica e não da europa civilizada, e não há qualquer “regime democrático” na barbárie.
O caro Louçã deveria empenhar-se mais em termos culturais, para não ter um discurso com erros e demonstrações de ignorância. Lembre-se que a ignorância é o orgulho da direita, a prática da esquerda e a causa da miséria da “europa bárbara”.
Bagão Félix:
Proibido, permitido, assim-assim
Há dias li uma notícia (http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=613127) sobre os mais recentes dados relativos ao pagamento do estacionamento de automóveis nas ruas da cidade do Porto.
A situação de incumprimento atingiu em Dezembro passado o mais elevado valor (89% não pagaram), tendo, nos meses seguintes, havido alguma melhoria com o aumento da fiscalização por parte da entidade gestora. Mesmo assim, só cerca de 20% dos condutores pagaram o estacionamento.
Não conheço números comparáveis de outras cidades, em particular de Lisboa. Julgo que, aqui, o grau de incumprimento é menor, por certo em razão do maior e intensivo controlo. Pelo que li, no Relatório da EMEL de 2014, os indicadores da fiscalização evidenciam um assinalável decréscimo de incumprimento (avisos para pagamento, desbloqueamentos e remoções) que passaram de cerca de 1,2 milhões em 2011 para 0,8 milhões em 2014. A esta melhoria não são alheias a disponibilização da excelente aplicação para dispositivos móveis e as novas formas de fiscalização.
Estes índices revelam uma incrustada e resiliente cultura de incumprimento, que se espalha por muitos aspectos da vida quotidiana. Há uma arreigada atracção pela prática da proibição, de que o estacionamento é um dos mais expressivos sinais exteriores. Se a esta atitude automobilística, juntarmos sucedâneos comportamentais como o estacionamento em segunda fila (às vezes impunemente prolongado) e o parqueamento sobre a calçada ou em reduzidos passeios que não deixam espaço para as pessoas (felizmente, em menor escala do que há anos), vemos como é lamentável esta falta de sentido de respeito e de cidadania (palavra que toda a gente tem na ponta da língua, quando se trata de direitos, mas nunca de deveres). Situações há em que comodistas ou preguiçosos condutores só não levam o carro para o elevador dos prédios por incontornável impossibilidade física… Não raro, se verifica a barafunda de parqueamento nas ruas ao mesmo tempo que novos parques subterrâneos estão parcialmente vazios. Verdade seja dita que tal também se deve aos preços exorbitantes das suas tarifas que, na minha opinião, ultrapassam o que seria razoável.
Os lugares para estacionamento na via pública são, tecnicamente, bens (muitíssimo) rivais. Ou seja, se um lugar está ocupado, significa que outra viatura não o pode ocupar. Logo, justifica-se o princípio da exclusão nas horas e dias em que a rivalidade é acentuada, ou seja tem de se pagar um preço pela acessibilidade e disponibilidade temporária do espaço público. Mas, com “conta, peso e medida”, isto é com tarifas adequadas e justas e não como uma forma suplementar de quase fiscalidade.
Estou a escrever esta breve reflexão e recordo-me do que Churchill disse um dia, ainda que num diferente contexto geopolítico: “Na Inglaterra tudo é permitido, excepto o que é proibido. Na Alemanha tudo é proibido excepto o que é permitido. Em França tudo é permitido mesmo o que é proibido. Na URSS tudo é proibido mesmo o que é permitido.
Onde estaremos nesta interessante caricatura simplificada dita por Churchill? Não difícil responder.

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