A nossa entrada na UE
implicou a destruição da Agricultura, das Pescas, da nossa Indústria, ao que se
informou na época, atrasadas em relação à Europa e que tivemos que modernizar,
para podermos vender melhor. O mal foi que gastámos demais, com essa ajuda, que
a Banca europeia nos cobra, à sua maneira. Sentimo-nos, pois, em palpos de
aranha, sendo o FMI - o bom e o mau – o aracnídio que nos segura a carcaça para
sugar – de maneira mais ou menos bárbara, conforme seja mais ou menos forte a
economia dos povos a quem empresta. Por isso, ao que se diz também, as medidas
com os povos em dívida variam conforme o cumprimento e a responsabilidade desses a quem se dirigem, o que parece justo, como princípio. Bagão Félix, no
seu artigo de 18 de Junho, aponta a discrepância entre as políticas monetárias
do “Fundo” e as políticas de disfarce do seu acrónimo. Parece-me um justo
artigo, que inicio com o passo final de um seu comentador:
(Excerto de um comentário de Mescalito)
… Quando o FMI empresta dinheiro a um
Estado, a intenção é sempre a de recapitalizar os bancos para que estes possam,
em primeira instância, pagar aos bancos estrangeiros e, por tabela, impedir que
os mercados caiam a pique, desvalorizando os investimentos estrangeiros, de
social nada, de estrutural nada, de crescimento treta nenhuma.
Terá o Fundo Monetário Internacional dupla personalidade?
Bagão Félix
Público,
18/6/16
De vez em quando e em crescendo, são publicados
artigos e opiniões de quadros e técnicos do Fundo Monetário Internacional que,
aparentemente, não comprometem a instituição. Uma espécie de desabafos
tecnicamente fundamentados, como ainda recentemente se viu com o artigo
assinado (Neoliberalism: Oversold?) por três
economistas do departamento de investigação e publicado na revista trimestral
da instituição.
Perante a dissonância tão clara entre o que se decide
e o que se escreve ou fala, será caso para concluir que o Fundo Monetário
Internacional tem dupla personalidade. Por outras palavras e em sentido
figurado, Fundo Monetário Internacional não é igual a FMI. Nós é que temos a
tendência para associar o acrónimo ao dito Fundo por extenso. Senão vejamos:
O Fundo (por extenso) é o “(des)multiplicador
austeritário das crises financeiras” através de clássicos e invariáveis
remédios (comparticipados) bem conservados nas câmaras frigoríficas juntos dos
“direitos de saque especiais” (DSE). São prescritos por aparentes
autómatos, segundo um protocolo-chapa, independentemente do contexto do doente.
Tenha ele moeda própria ou não, défices viciosos ou virtuosos, dívida interna
ou externa, esteja ou não inserido em espaços económicos. É-lhe indiferente
que o mesmo receituário seja aplicado para situações partindo de pontos
diferentes ou para países com valor de défice ou de dívida com estruturas
produtivas e de desenvolvimento social e educativo dissemelhantes. Para quê
o Fundo entediar-se em “customizar” medidas e critérios para países com
capacidade assimétrica de choques cíclicos (petróleo, por exemplo) e com
diferente grau de especialização de bens económicos? Porquê estabelecer
diferenciadas soluções em países que não estão em condições de suportar a mesma
pressão tributária e onde as taxas e estrutura da poupança são muito díspares?
É o Fundo dos silêncios, dos técnicos alinhados e dos
financiadores-sentenciadores sem apelo.
Já o FMI, o acrónimo, é, candidamente, a
instituição da aparência e do disfarce. É o lado reverso da moeda (leia-se DSE)
do Fundo Monetário Internacional. Só sorrisos e diplomacia. Divulgando
estudos dos técnicos e quadros do FMI que não comprometem as decisões da
direcção e dos técnicos e quadros do Fundo Monetário Internacional (certamente
por mera coincidência, muitas vezes, os mesmos). O FMI passou a ser uma
espécie de Relações Públicas do Fundo Monetário Internacional, em versão
simpática de ventríloquo do que este último jamais pode admitir, ou seja os
seus erros ou rigidezes. É a diplomacia tecnocrática por via de
investigado e apurado empirismo. No directório da Europa, o FMI é muito
apreciado. Nada como dizer uma coisa, com ar intelectualmente majestático, e
fazer outra.
Há quem peça a fusão do Fundo Monetário Internacional
(o mau) com o FMI (o bom). Pelo menos, ganhava-se em coerência, abertura de
caminhos, escrutínio e verdade. E obrigaria, quem manda, a discutir
diferentes vias para atingir os mesmos objectivos, sem vãs metas e ilusórios
devaneios.
Agora, que o Reino Unido sai do Euro, que valor terão
estes estudozinhos críticos dentro de uns anos, uns meses? Será necessária uma
nova consciência de responsabilidade, para fazer face à hecatombe…
Nenhum comentário:
Postar um comentário