Estranho mundo este nosso português com pessoas
cultas que analisam o mundo que nos rodeia com olhares tão divergentes de
sabedoria, e jamais se apontam o dedo crítico em comentário de pura ética sobre
a “nostra culpa”, fundamental no
processo, que nos leva agora ao receio de perdermos o leite que temos mamado
dessa Europa leiteira em vias de extinção. Francisco Louçã acusa a
Áustria, país de nomes sonantes da cultura e arte, de virar à direita em
saudosismo de preferência nazi, à trágica embrulhada em que o mundo europeu
anda metido, com gente invasora chegada do leste e com países não pagadores das
dívidas feitas em nome dos convenientes princípios dessa união democrática que
se dispusera a ajudá-los e se via na contingência de os punir por incumprimento.
Um seu comentarista anónimo – Epicuro - igualmente, em fúria destruidora
de uma arrogância destemida, desata a chamar a esses povos germânicos bárbaros
compulsivos e eternizados, jamais corrigidos, que nem os exemplos dos valores ilustres
citados por Louçã serviram para contrariar.
Cada um dos textos é ilustrativo de uma
sabedoria guiada por parti pris, que oculta o caso deste nosso país, igualmente
bárbaro, na sua mansidão finória, desrespeitadora das regras do civismo e de
cumprimento de normas, que se dá ao luxo de esbanjar dinheiros de empréstimos desses
tais bárbaros altruístas mas arrependidos, sem pensar em ressarci-los… Não
posso concordar com nenhum deles, nem
com a ironia receosa do primeiro, nem com a violência atrabiliária do segundo.
Socorro-me do texto de Bagão Félix, do mesmo “Tudo menos Economia” do
Público de 28/5, como amostra da nossa irredutível falta de escrúpulos no
atropelamento das regras, que devia servir a ambos – o cronista e o seu
comentador - na percepção da verdadeira nobreza de princípios.
Francisco Louçã
União? Pergunte se faz favor:
União?
A
Áustria escolheu por uma unha negra o presidente que não é o homem da
extrema-direita. O país de Freud e de Reich, de Mozart, Haydn, Schubert,
Mahler, Strauss e Klimt, de Godel, Wittgenstein e Von Neumann, de Viena capital
da Europa, esse é o país que dá hoje metade dos votos a uma figura de um
partido nascido da saudade da invasão pelas tropas nazis (e já não é o primeiro
susto que a Áustria nos prega). Se este é o resultado da fragilidade do
regime democrático, da decadência das suas políticas sociais, do medo dos
refugiados e da perturbação criada pela guerra fria de baixo nível nas
fronteiras da Rússia, então é caso para nos questionarmos sobre a sobrevivência
da própria política europeia, porque ela é um dos factores principais desta
desagregação.
Quanto
ao discurso, nem vale a pena cuidar disso. Como lembrou Teresa de Sousa, para já passou o susto e
portanto as instituições europeias tratarão de esquecer o assunto o mais
depressa possível – até à próxima. Entretanto, forças afins da
extrema-direita dominam ou participam nos governos da Polónia, Hungria,
Dinamarca, Finlândia e Holanda.
Mas,
se isto é o susto, o que dizer da normalidade? No Reino Unido, o primeiro
ministro conservador ajusta contas dentro do seu partido e com a direita
nacionalista convocando um referendo a nada menos do que a participação na
União Europeia. Em França, o presidente do Partido Socialista provoca o
tumulto popular com uma lei que forçaria a precarização do trabalho, como já o
tinha feito Matteo Renzi em Itália. Na Grécia, o parlamento aprova medidas de
austeridade para serem aplicadas se não resultarem as medidas actuais, um novo
pacote de austeridade, numa lei à condição que pelo menos deixa claro o caminho
que é imposto ao país. Esta é a normalidade. Não se faz portanto ideia do que
vem a seguir. O normal já é o assustador.
Repare-se
na negociação entre a Comissão Europeia e Cameron. Para facilitar o discurso
do chefe conservador, Juncker e os seus comissários concederam-lhe restrições
aos direitos dos trabalhadores europeus em Inglaterra: as enfermeiras
portuguesas (e todos os outros) perderão o abono de família para os seus
filhos. Ou seja, na dificuldade – criada pelo jogo político de Cameron –, o
argumento para ficar na União Europeia é que as suas regras deixem de se
aplicar quando se trata de pessoas. Isto é a normalidade europeia nos dias
que correm.
Talvez
por isso, as palavras dos federalistas decepcionados são das mais lúcidas que
podemos ler sobre a Europa (como é o caso, entre nós, de Viriato Soromenho Marques). Acreditavam numa
convergência, acreditavam em mecanismos comuns, acreditavam em políticas
dirigidas, acreditavam em cooperação e sai-lhes Schauble e Cameron, Juncker e
Hollande. Mas, ao reconhecerem o problema com a franqueza de quem defende os
seus pontos de vista, traçam o retrato do medo que a União vai suscitando. Não
são os únicos a perceberem que o risco para Portugal se chama Comissão Europeia
e Banco Central Europeu.
Entendemo-nos.
Quando Bruxelas nos repete a palavra União já não quer dizer nada.
Comentário:
Viena
nunca foi uma capital da europa civilizada. Viena nasceu tarde, foi um
acampamento militar romano no limes, uma periferia, coisa da barbárie. Nunca
saiu do estado de barbárie, tem um nome bárbaro e é um centro da barbárie
germânica.
A
barbárie germânica nunca foi civilizada, não tem cultura para tal, o atraso cultural
milenar desses pré-históricos não permite a passagem ao comportamento
civilizado.
Nem
um estado e muito menos um “regime democrático” alguma vez existiram na “europa
bárbara” (a europa depois do século III). A barbárie germânica desconhece e
estranha a estrutura social greco-romana. O estado é a instituição da
sociedade (coisa que os germânicos nunca tiveram) e o “demos” (gens em latim) é
o patamar anterior à cúria na organização interna de uma sociedade greco-romana
(organização que a barbárie nunca teve).
A
plebe pré-histórica vive em matilha desde sempre. Não tem sociedade, tem
a sua antítese. Não tem: familia-gens-cúria-tribo-cidade da sociedade
greco-romana; tem: chefes, feiticeiros e plebe da matilha pré-histórica. Antes
chamavam nobreza, clero e povo à matilha pré-histórica; agora chamam
investidores, “comunidade científica” e trabalhadores à mesma matilha.
A
matilha feirante actual é a continuidade da mesma estrutura pré-histórica da
barbárie: os chefes, os feiticeiros e os servis. Sociedade e matilha são
incompatíveis em termos estruturais. Não há estado nem democracia
mesmo que na matilha se façam eleições para eleger o chefe da matilha feirante.
Isso
do estado ser o mesmo que o “reino” bárbaro e do demos querer dizer povo, são
analfabetismos dos universitários (sempre pródigos em ensinar a sua ignorância
à barbárie). São analfabetismos que servem para a barbárie acreditar que é
civilizada e, ao mesmo tempo, revela o quão ignorante e atrasada é essa plebe.
O exemplo das anedotas anglo-saxónicas, que se apresentam como sendo uma
monarquia e democracia ao mesmo tempo, é paradigmático do atraso cultural dessa
plebe boçal e pré-histórica que é a barbárie germânica. E o quão atrasada e
imbecil é a “europa bárbara”.
O
único regime que a barbárie conhece é a bandalheira e as suas versões: a
bandalheira bélica e a bandalheira feirante.
Não
há qualquer hipótese da barbárie germânica e cristã ter uma democracia. A base
cultural abraâmica é incompatível com a cultura que determina a democracia e o
civismo.
Algum
dia esta plebe, que adora um deus delinquente e individualista e valoriza o
roubo pela mercadoria, vai ter comportamentos civilizados? Nunca, não sai
sequer do ciclo de delinquência feirante, das ideologias de feira, quanto mais
entrar no domínio do civismo.
O
problema da “europa bárbara” é sempre o mesmo: a insalubridade cultural, que a
barbárie apresenta desde que veio dos confins da periferia nórdica.
A
UE é um buraco de maus vizinhos, controlado pelo país com mais cadastro
criminal, à boa maneira da miséria cultural germânica.
O
que vemos hoje é mais do mesmo na “europa bárbara”: a impossibilidade da
barbárie se comportar de forma civilizada entre eles.
A
bandalheira feirante, o roubar através da mercadoria, é a prática desta
barbárie que nega a ordem, o civismo, o estado e não sabe sequer o que é uma
democracia. Viena é uma capital da barbárie germânica e não da europa
civilizada, e não há qualquer “regime democrático” na barbárie.
O
caro Louçã deveria empenhar-se mais em termos culturais, para não ter um
discurso com erros e demonstrações de ignorância. Lembre-se que a ignorância
é o orgulho da direita, a prática da esquerda e a causa da miséria
da “europa bárbara”.
Bagão Félix:
Proibido, permitido, assim-assim
Há
dias li uma notícia (http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=613127)
sobre os mais recentes dados relativos ao pagamento do estacionamento de
automóveis nas ruas da cidade do Porto.
A
situação de incumprimento atingiu em Dezembro passado o mais elevado valor (89%
não pagaram), tendo, nos meses seguintes, havido alguma melhoria com o aumento
da fiscalização por parte da entidade gestora. Mesmo assim, só cerca de 20% dos
condutores pagaram o estacionamento.
Não
conheço números comparáveis de outras cidades, em particular de Lisboa. Julgo
que, aqui, o grau de incumprimento é menor, por certo em razão do maior e
intensivo controlo. Pelo que li, no Relatório da EMEL de 2014, os indicadores
da fiscalização evidenciam um assinalável decréscimo de incumprimento (avisos para
pagamento, desbloqueamentos e remoções) que passaram de cerca de 1,2 milhões em
2011 para 0,8 milhões em 2014. A esta melhoria não são alheias a
disponibilização da excelente aplicação para dispositivos móveis e as novas
formas de fiscalização.
Estes
índices revelam uma incrustada e resiliente cultura de incumprimento, que se
espalha por muitos aspectos da vida quotidiana. Há uma arreigada atracção pela
prática da proibição, de que o estacionamento é um dos mais expressivos sinais
exteriores. Se a esta atitude automobilística, juntarmos sucedâneos
comportamentais como o estacionamento em segunda fila (às vezes impunemente
prolongado) e o parqueamento sobre a calçada ou em reduzidos passeios que não
deixam espaço para as pessoas (felizmente, em menor escala do que há anos),
vemos como é lamentável esta falta de sentido de respeito e de cidadania
(palavra que toda a gente tem na ponta da língua, quando se trata de direitos,
mas nunca de deveres). Situações há em que comodistas ou preguiçosos condutores
só não levam o carro para o elevador dos prédios por incontornável
impossibilidade física… Não raro, se verifica a barafunda de parqueamento nas
ruas ao mesmo tempo que novos parques subterrâneos estão parcialmente vazios.
Verdade seja dita que tal também se deve aos preços exorbitantes das suas
tarifas que, na minha opinião, ultrapassam o que seria razoável.
Os
lugares para estacionamento na via pública são, tecnicamente, bens (muitíssimo)
rivais. Ou seja, se um lugar está ocupado, significa que outra viatura não o
pode ocupar. Logo, justifica-se o princípio da exclusão nas horas e dias em que
a rivalidade é acentuada, ou seja tem de se pagar um preço pela acessibilidade
e disponibilidade temporária do espaço público. Mas, com “conta, peso e
medida”, isto é com tarifas adequadas e justas e não como uma forma suplementar
de quase fiscalidade.
Estou
a escrever esta breve reflexão e recordo-me do que Churchill disse um dia,
ainda que num diferente contexto geopolítico: “Na Inglaterra tudo é
permitido, excepto o que é proibido. Na Alemanha tudo é proibido excepto o que
é permitido. Em França tudo é permitido mesmo o que é proibido. Na URSS tudo é
proibido mesmo o que é permitido.”
Onde
estaremos nesta interessante caricatura simplificada dita por Churchill? Não difícil
responder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário