quarta-feira, 22 de junho de 2016

Exames no violão



Foi um seu colega, compositor de música, que lhe pediu os versos, de preferência em inglês, para o seu violão. E a Paula logo os compôs, mais familiar do francês. Dantes, quando era permitido os professores sentarem-se durante as vigilâncias, também eu conseguia escrever, sobretudo se os testes eram de matemática, do 2º ou 5º anos naqueles tempos, do 6º ou 9º, nos anos mais próximos, palavras cruzadas para me ajudar a passar o tempo discretamente, nesse vácuo da longa espera, de vez em quando olhando em volta, dum modo geral confiando na lisura estudantil. Agora não é permitido sentar-se, nem sequer sussurrar com o colega, quais postes de olhar atento às sinuosidades malandras que as tecnologias fizeram multiplicar.
Julgo que o mesmo sentimento de “seca” motivou o escrito da Paula, para o colega musicar: observar – ou “fingir” - de pé, os pensamentos tantas vezes dispersos na vida própria, os alunos “de joelhos”, na ânsia subentendida do êxito, nessa etapa da vida simbolizada pela caneta traçando o destino de cada um.
Eis o poema da Paula:
Les Examens
Salut, la danse
des surveillances!
Oh! Enfin le silence
de l’existence.
Pouvoir regarder.
Observer (ou feindre) debout…
tout autour de nous:
la salle pleine de gens,
se concentrant
à genoux.
Et c’est là qu’on pense
aussi,
à soi-même,
à sa vie pleine,
De plaisirs,
De souffrances, au jour le jour…
Et des images passent
dans nos yeux qui se ferment
pour mieux voir
ces tableaux de jeunes
écrivant à peine
la marque de leur présence
vers l’avenir.
La persistance
C’est leur chance
à ouvrir.
Les chemins se tracent
à partir de feuilles écrites
à stylo noir ou bleu
d’encre durable :
le seul geste ferme et net
de leur existence
presque parfaite.

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