quinta-feira, 30 de junho de 2016

Com um Acordo Ortográfico sabotador?



Dois textos chegados ontem por email:
1º Texto:
por smartandhappykids, em 27.06.14

A língua mais falada do hemisfério sul e a quarta mais falada em todo o mundo completa hoje oito séculos. 
Para o deputado português José Ribeiro e Castro estas são razões mais do que suficientes para comemorar. “Queremos saudar uma das mais importantes línguas internacionais e contemporâneas em tempo de globalização. A língua portuguesa é ela própria uma ferramenta da globalização”, sublinha o deputado, que promoveu, em conjunto com o editor João Pinto, o 'Manifesto 2014 - 800 anos da língua portuguesa' - subscrito por mais de 50 personalidades da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). 
O texto do manifesto é proclamado hoje junto ao Padrão dos Descobrimentos, onde 800 crianças irão lançar 800 balões com desenhos de artistas plásticos dos oito países da CPLP. Embaixadores e representantes oficiais destes países juntam-se ao evento, que terá momentos de dança e declamação de poesia. À noite, no Martim Moniz, serão lançados outros 244 balões luminosos, símbolo dos 244 milhões de falantes de português em todo o mundo. 
Macau também vai celebrar: hoje de manhã, serão lançados balões a partir da Escola Portuguesa.

 Testamento de D. Afonso II, de 27 de Junho de 1214 (Dois excertos)
1º -Em o nome de Deus.
Eu, rei Dom Afonso, pela graça de Deus, rei de Portugal, sendo são e salvo, temente o dia de minha morte, a saúde de minha alma e a prol de minha mulher, rainha Dona Urraca, e de meus filhos, e de meus vassalos e de todo meu reino, fiz minha manda, por que depois minha morte, minha mulher, e meus filhos, e meu reino, e meus vassalos e todas aquelas cousas que Deus me deu em poder estejam em paz e em folgança.
Primeiramente, mando que meu filho, infante Dom Sancho, que hei da rainha Dona Urraca, haja meu reino inteiramente e em paz.
 2º - E manda seja cumprida; das quais tem uma o Arcebispo de Braga, a outra o Arcebispo de Santiago, a terceira o Arcebispo de Toledo, a quarta o Bispo do Porto, a quinta o de Lisboa, a sexta o de Coimbra, a sétima o de Évora, a oitava o de Viseu, a nona o mestre do Templo, a décima o prior do Hospital, a undécima o prior de Santa Cruz, a duodécima o abade de Alcobaça, a terça-décima faço eu guardar em minha reposte.
E foram feitas em Coimbra, quatro dias por andar de junho, Era MCCLII.
Testamento real é o marco histórico

O Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, o Presidente da República e o primeiro-ministro de Timor-Leste, Taur Matan Ruak e Xanana Gusmão, o embaixador Hélder Lucas, chefe da Missão de Angola junto da CPLP, o embaixador de Moçambique em Portugal e secretário-executivo da CPLP, Murade Murargy, e o presidente do Instituto Internacional de Macau, Jorge Rangel, são algumas das personalidades que subscreveram este manifesto. O documento é  assinado também por escritores - como Pepetela, José Eduardo Agualusa e António Lobo Antunes -, linguistas, jornalistas e personalidades da cultura.
Mas porquê 27 de Junho? É que há precisamente 800 anos, no dia 27 de Junho de 1214, era assinado em Coimbra o Testamento do rei D. Afonso II - considerado o mais antigo documento oficial escrito em português. 
O objectivo inicial dos promotores da iniciativa, era celebrar este marco a partir do Brasil, epicentro do Campeonato do Mundo de Futebol. “Gostaríamos que houvesse uma grande festa no país onde se realiza a copa do mundo e se fala português”, explica Ribeiro e Castro. Mas, lamenta o deputado do CDS, “não foram reunidas condições para isso”, em parte devido ao “contexto politicamente problemático do mundial”.


2º Texto:  
Date: Wed, 29 Jun 2016 18:47:29 +0100
ANÓNIMO

De vez em quando - e pena é que seja só de vez em quando - aparecem-nos textos que, depois de lidos, apetece relê-los
 Só não se percebe é porque o autor não dá a cara, tanto mais que qualquer de nós é certo que não desdenharia de o ter escrito.

PORTUGAL: QUE FUTURO ?
Trinta e cinco anos de vida. 
Filho de gente humilde. Filho da aldeia. Filho do trabalho. 
Desde criança fui pastor, matei cordeiros, porcos e vacas, montei móveis, entreguei roupas, fui vendedor ambulante, servi à mesa e ao balcão. Limpei chãos, comi com as mãos, bebi do chão e nunca tive vergonha. Na aldeia é assim, somos o que somos porque somos assim. Cresci numa aldeia que pouco mais tinha que gente, trabalho e gente trabalhadora. Cresci rodeado de aldeias sem saneamento básico, sem água, sem luz, sem estradas e com uma oferta de trabalho árduo e feroz. Cresci numa aldeia com valores, com gente que se olha nos olhos, com gente solidária, com amigos de todos os níveis, com família ali ao lado. Cresci com amigos que estudaram e com outros que trabalharam. Os que estudaram, muitos à custa de apoios do Governo, agora estão desempregados e a queixarem-se de tudo. Os que sempre trabalharam lá continuam a sua caminhada, a produzir para o País e a pouco se fazerem ouvir, apesar de terem contribuído para o apoio dos que estudaram e a nada receberem por produzir. Cresci a ouvir dizer que éramos um País em Vias de Desenvolvimento e ... de repente éramos já um País Desenvolvido, que depois de entrarmos para a União Europeia o dinheiro tinha chegado a "rodos" e que passamos de pobretanas a ricos "fartazanas". Cresci assim, sem nada e com tudo. E agora, o que temos nós?

1.       Um país com duas imagens.
               A de Lisboa: cidade grandiosa, moderna, com tudo e mais alguma coisa, o lugar onde tudo se decide e onde tudo se divide, cidade com passado, presente e futuro.
     E a do interior do país, território desertificado, envelhecido, abandonado, improdutivo, esquecido, pisado.

1.       Um país de vícios.
                Esqueceram-se os valores, sobrepuseram-se os doutores.
     Não interessa a tua história, interessa o lugar que ocupas.
    Não interessa o que defendes, interessa o que prometes.
    Não interessa como chegaste lá, mas sim o que representas lá.
     Não interessa o quanto produziste, interessa o que conseguiste.
    Não interessa o meio para atingir o fim, interessa o que me podes dar a mim.
    Não interessa o meu empenho, interessa o que obtenho.
        Não interessa que critiquem os políticos, interessa é estar lá.
      Não interessa saber que as associações de estudantes das universidades são o primeiro passo para a corrupção activa e passiva que prolifera em todos os sectores políticos, interessa é que o meu filho esteja lá.
   Não interessa saber que as autarquias tenham gente a mais, interessa é que eu pertença aos quadros.
    Não interessa ter políticos que passem primeiro pelo mundo do trabalho, interessa é que o povo vá para o diabo.
1.       Um país sem justiça.
     Pedófilos que são condenados e dão aulas passados uns dias.
     Pedófilos que por serem políticos são pegados em ombros, e juízes que são enviados para as catacumbas do inferno.
     Assassinos que matam por trás e que são libertados passados sete anos por bom comportamento!
             Criminosos financeiros que sempre escapam por motivos que nem ao diabo lembram.
      Políticos que passam a vida a enriquecer e que jamais têm problemas ou alguém questiona tais fortunas.
      Políticos que desgovernam um país e que, entre outros, "emigram" para Bruxelas e Paris, a par dos que se mantém ainda ativos. 
      Bancos que assaltam um país e que o povo ainda ajuda a salvar.
     Um povo que vê tudo isto e entra no sistema, pedindo favores a toda a hora e alimentando a máquina que tanto critica e chora.

1.       Um país sem educação.
                 Quem semeia ventos colhe tempestades.
      Numa época em que a sociedade global apresenta níveis de exigência altamente sofisticados, em Portugal a educação passou a ser um circo.
      Não se podem reprovar meninos mimados.
      Não se pode chumbar os malcriados.
      Os alunos podem bater e os professores nem a voz podem levantar.
      Entrar na universidade passou a ser obrigatório por causa das estatísticas.
      Os professores saem com os alunos e alunas e os alunos mandam nos professores.
      Ser doutor, afinal, é coisa banal.

1.       Um país que abandonou a produção endógena.
      Um país rico em solo, em clima e em tradições agrícolas que abandonou a sua história.
      Agora o que conta é ter serviços sofisticados, como se o afamado portátil fosse a salvação do país.
      Um país que julga que uma mega fábrica de automóveis dura para sempre.
      Um país que pensa que turismo no Algarve é que dá dinheiro para todos.
      Um país que abandonou a pecuária, a pesca e a agricultura.
      Que pisa quem ainda teima em produzir e destaca quem apenas usa gravata.
      Um país que proibiu a produção de Queijo da Serra artesanal na década de 90 e que agora dá prémios ao melhor queijo regional.
      Um país que diz ser o do Pastel de Belém, mas que esquece que tem cabrito de excelência, carne mirandesa maravilhosa, Vinho do Porto fabuloso, Ginjinha deliciosa, Pastel de Tentúgal tentador, Bolo Rei português, Vinho da Madeira, Vinho Verde, lacticínios dos Açores e Azeite de Portugal para vender…
      E tanto, tanto mais... que sai da terra e da nossa história.

1.       Um país sem gente e a perder a alma lusa.
·      Um país que investiu forte na formação de um povo, em engenharias florestais, zoo técnicas, ambientais, mecânicas, civis, em arquitectos, em advogados, em médicos, em gestores, economistas e marketeers, em cursos profissionais, em novas tecnologias e em tudo o mais, e que agora fecha as portas e diz para os jovens emigrarem.
                Um país que está desertificado e sem gente jovem, mas com tanta gente velha e sábia que não tem a quem passar tamanha sabedoria.
               Um país com jovens empreendedores que desejam ficar, mas são obrigados a partir.
               Um país com tanto para dar, mas com o barco da partida a abarrotar
               Um país sem alma, sem motivação e sem alegria.
               Um país gerido por porcaria.

  E agora, vale a pena acreditar? Vale. Se formos capazes de participar, congregar novos ideais sociais e de mudar. Porquê acreditar? Porque oitocentos anos de história, construída a pulso, não se destroem em tempo algum . Porque o solo continua fértil, o mar continua nosso, o sol continua a brilhar e a nossa alma, ai a nossa alma, essa continua pura e lusitana e cada vez mais fácil de amar

Mas como recuperar orgulhos rácicos, com um Acordo Ortográfico comprovativo  do nosso afundamento maior?

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