sexta-feira, 17 de junho de 2016

Marchas de Lourenço Marques




A nossa amiga já me perguntara o peso, assim que cheguei, t-shirt despida de casaco invernal encobridor das deselegâncias, dando a entender que tenho que me precaver, se não quero enfileirar no grupo dos obesos/obesas que ela condena sobremaneira, como doença nacional de peso. Lembrei, com desportivo fair play, a Irene Gil - de quem conservo “Uma Página por Dia” e algumas fotos da velha amizade -  a qual costumava dizer, com coqueteria, a propósito dos papos da idade – ou do apetite – que acima de tudo, era necessário salvar a silhueta, salvá-la do papo, digo. O mundo pode, pois, girar nas suas tortuosidades, o que é preciso é salvar a silhueta, ser-se rigoroso com os nossos papos, a elegância física sendo imprescindível na manutenção da nossa auto-estima.
E foi assim que a conversa do domingo passado rodou num certo apuro de elegância, em que as minhas duas companheiras são peritas, até que ouvi a frase inesperada, da boca da nossa amiga: «- A mulher parece uma alface!» Tratava-se da rainha da Inglaterra, que fizera anos na véspera e se vestira de verde, o chapéu inseparável no conjunto uniformemente colorido, como é seu hábito. A minha irmã adiantou sobre o péssimo gosto da rainha do globo e a sua necessidade de mudar de modista - alvitre que nenhuma de nós considerou imaginável - e acrescentou com autoridade: «- Outra que veste mal é a Sofia de Espanha», mas neste ponto, a nossa sensível amiga preferiu comentar, com piedade: «- Ela deve estar a passar por um mau bocado, coitada! Ver a filha na  cadeia…» Também me apiedei e desejei do coração que tal não suceda, acho simpática a família real espanhola – e a rainha Sofia em especial, uma mulher aprumada, com um ar triste, mas quem leu a sua biografia foi a minha irmã. Suspirámos, tantos são os males do mundo conhecidos, fora os desconhecidos, que abrangem, felizmente, os nossos.
Mas estamos na época das marchas populares, e, já no passeio, começámos, a minha irmã e eu, a cantar, a meio tom, as marchas de Lourenço Marques, três mulheres recuperando o passado africano de raparigas, alegremente desinibidas, e prestando homenagem à velha cidade que nos está atravessada nos corações. Tenho as canções no meu blog, mas a minha irmã pediu-mas, avessa à internet, pois perdera as folhas que em tempos lhe dera. Tenho pena de a memória me não trazer de volta as estrofes que faltam. A nossa amiga não as viveu com o mesmo empenhamento e só lhes lembrava o rasto. De resto, a canção que me põe sempre embevecida a ouvi-la é “Ai quem me dera ter outra vez vinte anos”.

Recordação dos anos 46/47:

MARCHAS DE LOURENÇO MARQUES
(Com falhas )

Marcha da Malhangalene (1º prémio)
(Cantada por Julieta Palhares)
1ª Estrofe

Malhangalene bonita

De graça humilde e modesta
Com teu vestido de chita
Também hás-de entrar na festa.
Se querem saber quem és,
Podes dizer sem vaidade
Que és o bairro mais bairrista
Que és o bairro mais bairrista
Que existe cá na cidade.

Refrão

Esta marcha vai

Na rua a passar
Na Malhangalene
Toda a gente sai
P’r’à ouvir cantar
Vamos, rapariga,
Que a tua cantiga
É que vai ganhar.
Toda a gente a canta
E a todos encanta
Porque é popular.
2ª Estrofe
Tanto na rua de baixo
Como na rua de cima
Toda a gente se conhece
E toda a gente se estima
E se alguém te quiser mal
Não tens nada que temer

Tens cá a Rua da Guarda

Tens cá a Rua da Guarda
Que te há-de defender.

Refrão

Esta marcha vai...

Marcha do Alto Maé

(2º prémio)

1ª Estrofe
...?

Refrão

Alto Maé

É bairro da simpatia
Canta sempre noite e dia
Como tu não há igual.
Alto Maé
Vive ali toda a nobreza
Da tradição portuguesa
Cá da nossa capital
2ª Estrofe
É lá que vive o operário
Com a sua ganga honrada
É a sua namorada
Riqueza do seu sacrário
É gente duma só fé
É bairro como nenhum
Pois são todos só por um
Neste nosso AltoMaé.

Refrão

Alto Maé...

Marcha da Baixa  (3º Prémio)
(Cantada por Raquel Augusto)

1ª Estrofe
...?

Refrão

Minha Baixa, tu és tão linda

Não sou eu, a cidade é que o diz.
E vocês podem crer
Que merece bem ser
A princesa do nosso país.
2ª Estrofe
Vai a passar um bando de caixeirinhas
Que põem tontos os corações
Lá vão pousar como um bando de andorinhas
Na fantasia dos seus balcões
E ninguém mais tem sorrisos tão brejeiros
Como os sorrisos que elas têm
Olhos ideais, fulgurantes, feiticeiros,
Que fazem prisioneiros
Sem molestar ninguém.

Refrão

Minha Baixa, tu és tão linda...

Marcha da Maxaquene


1ª Estrofe
Já foi trono de rainha
Maxaquene, o bairro lindo,
Que mal o sol se avizinha
Desperta e canta sorrindo.
E quando voltam em bando
As formosas caixeirinhas,
Parece um pombal esperando
O seu bando de pombinhas.

Refrão

Maxaquene

Com as lindas avenidas
Cheias de acácias floridas
Parece um jardim em flor,
Maxaquene
Tens a mansão do Colono
Teu rosto parece um trono
De mimo, vida e amor.
2ª Estrofe
Moçambique quis um dia
Com amor, com devoção,
Dar aos bons velhos colonos
Uma pequena mansão.
E correu toda a cidade
P’ra do meu bairro, afinal,
Fazer um lindo canteiro
Dessa mansão ideal.

Refrão

Maxaquene..

Marcha da Polana


1ª Estrofe

… ?

Refrão

Polana, Polana,

Princesa encantada
De areia dourada
De prata a sorrir
Polana, Polana,
Tens a lua e o sol
No teu caracol
Sempre sempre a subir.

Lá lá lá lá lá lá
Lá lá lá lá lá lá.
Lá lá lá lá lá lá
Lá lá lá lá lá lá.
2ª Estrofe
Desde a praia ao seu palmar
Muito sonho anda perdido
E o luar comprometido.
Mora ali a claridade
Tem a praia que seduz
Tem banhos de mar e luz
Leva a palma da cidade.

Refrão

Polana, Polana...

Marcha da Carreira de Tiro

1ª Estrofe
Bairro lindo e majestoso
De casas novas e belas
Erguidas no céu vaidoso
Quase beijando as estrelas
Tem tal beleza
Que embriaga o coração
Tem a alma portuguesa
Vinda na expedição.
Refrão

Carreira de Tiro

Parece um jardim
Desperta cedinho
Ao som do clarim.
Meu bairro adorado
 Que não tem rival
És tão invejado
És tão invejado
Como é Portugal.

2ª Estrofe
Quando o sol lá no poente
Diz adeus a esta cidade,
O meu bairro reluzente
Fica cheio de saudade.
Então a lua
Vem dar-lhe um beijo de amor
E o bairro lindo flutua
Num poema encantador.

Refrão

Carreira de Tiro...

Marcha de S. José de Lhanguene


1ª Estrofe
Mesmo no fim da cidade
Passado o Alto Maé
O bairro da cristandade,
O bairro de S. José.
Tudo lá é cativante
Nada tem um ar solene
Não há bairro que suplante
O S. José de Lhanguene.
Refrão
Ó Bairro de S. José,
Ó bairro do meu encanto,
Tens um ar santificado.
No teu nome tenho fé
Tu és o bairro dum santo
S. José abençoado.
La lá lá lá
Lá lá rá lá lá.
La lá lá lá
Lá lá lá lá lá lá lá.
2ª Estrofe
.... ?
Refrão
Ó Bairro de S. José...

Nenhum comentário: