Excerto da Proposição e da Invocação de “O Hissope” :
“Eu canto o Bispo, e a espantosa guerra,
Que o Hissope excitou na Igreja de Elvas,
Musa ... Tu me lembra o motivo; tu, as causas,
Por que a tanto furor, a tanta raiva
Chegaram o Prelado e o seu Cabido.
Não, de maneira nenhuma se trata de uma celeuma eclesiástica, como a que está patente neste poema herói-cómico de António Diniz da Cruz e Silva. Nele, o bispo da Sé de Elvas foi grosseiramente desconsiderado pelo deão da mesma Sé, Lara de seu nome, que costumava, nas cerimónias religiosas, apresentar-lhe o Hissope com a consideração devida, e um dia de rebeldia falhou, já imbuído de ideais de democracia igualitária, por desconhecimento de que, mesmo em igualdade, há sempre os mais iguais do que outros. Repostas as hierarquias, com a primeira vitória do Bispo, sobre os seus direitos de “precedência” nos cerimoniais, mais tarde será um sobrinho do deão, continuador do bom Lara, entretanto morto, que ganhará o processo, com o apoio da Coroa.
Não, não se trata das rudes vaidades clericais, mas que havia já nessas alturas oitocentistas querelas importantes, havia-as com certeza. A nossa história está, de resto, semeada de polémicas, umas de foro mais literário, outras de foro mais político e todas com grande arreganho. Basta ler os dois volumes “As Grandes Polémicas Portuguesas” da Editorial Verbo, com Prefácio de Vitorino Nemésio, para a gente se ilustrar um pouco. Mas a Questão “Bom Senso e Bom Gosto” existe em dois volumes, que devíamos rever, nalguns textos principais, como o de Antero, que lhe deu o título, de tanta necessidade hoje.
Não, eu não quero saber do assunto em si. Parece da costumeira “lana caprina” própria da nossa pequenez humana. Tenho pena de que o nosso Presidente, já por duas vezes – não sei se com razão ou sem ela – tenha entrado em querela com o Governo astuto e prepotente. Da primeira vez ganhou e avançou para a segunda, em plenas férias de um verão bronzeante.
Em seu redor, a preocupação dos aflitos, dos que clamam contra a falta de condições últimas das suas vidas. Mas também a despreocupação de alguns, que gozam as férias a que “têm direito”, apesar da crise, que não deixam de comprar os carros e os telemóveis das suas necessidades vitais.
Por isso, o nosso Presidente se entretém levantando pó, com razão ou sem ela, em malabarismos detectivescos inanes, indiferente à paisagem humana do seu País sem rumo, ensimesmado em torno do seu próprio umbigo. “Papagaio real, diz-me quem passa? – É o Rei D. Simão que vai à caça”, já o afirmou Guerra Junqueiro no seu “Finis Patriae”, também da nossa expectativa de hoje.
O Governo responde, pela voz do seu Ministro dos Assuntos Parlamentares, não mais tonitruante por não ser maioritária, mas impregnada de cautelosa malícia – derrubando as pistas presidenciais com superioridade, talvez reconhecendo as verdades do pobre Presidente, sobre o cinismo de que foi rodeado por um Governo maioritário e de outra facção política.
E o pobre Presidente, mantendo a exigência do hissope e da cortesia, assim se entretém, na sua caça aos gambozinos. Desta vez sem o apoio de ninguém
“Eu canto o Bispo, e a espantosa guerra,
Que o Hissope excitou na Igreja de Elvas,
Musa ... Tu me lembra o motivo; tu, as causas,
Por que a tanto furor, a tanta raiva
Chegaram o Prelado e o seu Cabido.
Não, de maneira nenhuma se trata de uma celeuma eclesiástica, como a que está patente neste poema herói-cómico de António Diniz da Cruz e Silva. Nele, o bispo da Sé de Elvas foi grosseiramente desconsiderado pelo deão da mesma Sé, Lara de seu nome, que costumava, nas cerimónias religiosas, apresentar-lhe o Hissope com a consideração devida, e um dia de rebeldia falhou, já imbuído de ideais de democracia igualitária, por desconhecimento de que, mesmo em igualdade, há sempre os mais iguais do que outros. Repostas as hierarquias, com a primeira vitória do Bispo, sobre os seus direitos de “precedência” nos cerimoniais, mais tarde será um sobrinho do deão, continuador do bom Lara, entretanto morto, que ganhará o processo, com o apoio da Coroa.
Não, não se trata das rudes vaidades clericais, mas que havia já nessas alturas oitocentistas querelas importantes, havia-as com certeza. A nossa história está, de resto, semeada de polémicas, umas de foro mais literário, outras de foro mais político e todas com grande arreganho. Basta ler os dois volumes “As Grandes Polémicas Portuguesas” da Editorial Verbo, com Prefácio de Vitorino Nemésio, para a gente se ilustrar um pouco. Mas a Questão “Bom Senso e Bom Gosto” existe em dois volumes, que devíamos rever, nalguns textos principais, como o de Antero, que lhe deu o título, de tanta necessidade hoje.
Não, eu não quero saber do assunto em si. Parece da costumeira “lana caprina” própria da nossa pequenez humana. Tenho pena de que o nosso Presidente, já por duas vezes – não sei se com razão ou sem ela – tenha entrado em querela com o Governo astuto e prepotente. Da primeira vez ganhou e avançou para a segunda, em plenas férias de um verão bronzeante.
Em seu redor, a preocupação dos aflitos, dos que clamam contra a falta de condições últimas das suas vidas. Mas também a despreocupação de alguns, que gozam as férias a que “têm direito”, apesar da crise, que não deixam de comprar os carros e os telemóveis das suas necessidades vitais.
Por isso, o nosso Presidente se entretém levantando pó, com razão ou sem ela, em malabarismos detectivescos inanes, indiferente à paisagem humana do seu País sem rumo, ensimesmado em torno do seu próprio umbigo. “Papagaio real, diz-me quem passa? – É o Rei D. Simão que vai à caça”, já o afirmou Guerra Junqueiro no seu “Finis Patriae”, também da nossa expectativa de hoje.
O Governo responde, pela voz do seu Ministro dos Assuntos Parlamentares, não mais tonitruante por não ser maioritária, mas impregnada de cautelosa malícia – derrubando as pistas presidenciais com superioridade, talvez reconhecendo as verdades do pobre Presidente, sobre o cinismo de que foi rodeado por um Governo maioritário e de outra facção política.
E o pobre Presidente, mantendo a exigência do hissope e da cortesia, assim se entretém, na sua caça aos gambozinos. Desta vez sem o apoio de ninguém