Ou a opinião pública, que vem a dar no mesmo.
É Mr. Whitestone de “Uma Família Inglesa” que, a conselho da sua filha Jenny, para poder futuramente casar o seu filho Carlos com Cecília, a jovem pobre, filha de Manuel Quintino, dedicado guarda-livros da casa comercial do inglês, elevando-lhe o estatuto por via das conveniências e dos escrúpulos de superioridade, decide promovê-lo à condição de sócio. Para isso, irá contar na praça portuense, até com o exagero próprio destes factos, os feitos comerciais de Manuel Quintino, para preparar a opinião pública e impedir a sua estranheza quando se efectuasse o evento. E resultou, que inúmeros comerciantes se dirigiram ao guarda-livros, a felicitá-lo pelos casos de sucesso da sua actividade comercial, deixando-o meio encabulado, que era pessoa pouco afeita às mascaradas da adulação.
Já era assim, pois, nos tempos de Júlio Dinis, cujos romances de cabeceira, encantadores, nos embalavam o sono nos tempos da adolescência e continuaram a embalar, até mesmo agora, quando as frustrações e pesadelos da vida nos aconselham a desviar o sono nocturno das leituras mais pesadas, para adormecermos tranquilamente com os enredos e descrições da ternura e graça do homem que “viveu de leve, escreveu de leve, morreu de leve” segundo síntese do requiem queirosiano, ao exprobar-lhe a morte precoce, ironizando-lhe talvez a obra, por ser delicada, sem o traço grotesco da caricatura, mas assaz real e actual na visão do mundo e da psicologia humana.
E assim, descontando os efeitos tentaculares dos actuais media, já naquela altura o diz-que-diz, o levantar suspeitas, o apontar indícios, provocavam imediato zum-zum, embora sem o estardalhaço dos novos tempos.
Porque vivemos disso, na praça pública de agora, vivemos de visibilidade, do alarido, do abocanhamento, da suspeição e da injúria, de destruirmos ou exaltarmos, conforme o clube ou o partido a que pertencemos, os actores da nossa predilecção. E os media são responsáveis, embora não unicamente.
Porque temos, também, as marchas, quer das greves, quer para as promoções, e os discursos dos chefes e dos partidários dos chefes, e, sem grande educação, por vezes, acusamos os opositores de vários desmandos. E de velhice.
Tenho ouvido sobre Manuela Ferreira Leite que está velha, boa para a reforma. Provavelmente dos mesmos que, a darem-lhes a oportunidade, não se eximirão a eleger Mário Soares para um novo mandato presidencial, que, vaidoso como é, não deixará de lhe apetecer, apesar da idade e da monotonia do discurso e dos cargos sucessivos do seu pobre sucesso vivido.
Ninguém quer escutar argumentos de pessoas capazes, que deixam prever boa preparação técnica, boa formação moral e se afirmam amantes da sua nação. E esta nada tem de velha, mas de inteligente e ponderada. Preferem escutar as vozes altissonantes do ministro que se socorre da obra que fez como tal, mesmo que, na maioria das vezes, tenha sido uma obra adiada ou infeliz. Não importa os destroços das vidas sem trabalho, ou o espezinhamento das vidas a quem foi retirada a dignidade de bem servirem, com leis arbitrárias e de injustiça flagrante, não importa o défice contínuo, a hipoteca acelerada, o futuro comprometido, o esbanjamento palavroso, mentiroso e vazio, a ruína económica, cultural e moral a que condenamos as gerações vindouras.
Afinal sempre fomos um país - uma praça - arrumado. Na atrofia. Devemos continuar.
É Mr. Whitestone de “Uma Família Inglesa” que, a conselho da sua filha Jenny, para poder futuramente casar o seu filho Carlos com Cecília, a jovem pobre, filha de Manuel Quintino, dedicado guarda-livros da casa comercial do inglês, elevando-lhe o estatuto por via das conveniências e dos escrúpulos de superioridade, decide promovê-lo à condição de sócio. Para isso, irá contar na praça portuense, até com o exagero próprio destes factos, os feitos comerciais de Manuel Quintino, para preparar a opinião pública e impedir a sua estranheza quando se efectuasse o evento. E resultou, que inúmeros comerciantes se dirigiram ao guarda-livros, a felicitá-lo pelos casos de sucesso da sua actividade comercial, deixando-o meio encabulado, que era pessoa pouco afeita às mascaradas da adulação.
Já era assim, pois, nos tempos de Júlio Dinis, cujos romances de cabeceira, encantadores, nos embalavam o sono nos tempos da adolescência e continuaram a embalar, até mesmo agora, quando as frustrações e pesadelos da vida nos aconselham a desviar o sono nocturno das leituras mais pesadas, para adormecermos tranquilamente com os enredos e descrições da ternura e graça do homem que “viveu de leve, escreveu de leve, morreu de leve” segundo síntese do requiem queirosiano, ao exprobar-lhe a morte precoce, ironizando-lhe talvez a obra, por ser delicada, sem o traço grotesco da caricatura, mas assaz real e actual na visão do mundo e da psicologia humana.
E assim, descontando os efeitos tentaculares dos actuais media, já naquela altura o diz-que-diz, o levantar suspeitas, o apontar indícios, provocavam imediato zum-zum, embora sem o estardalhaço dos novos tempos.
Porque vivemos disso, na praça pública de agora, vivemos de visibilidade, do alarido, do abocanhamento, da suspeição e da injúria, de destruirmos ou exaltarmos, conforme o clube ou o partido a que pertencemos, os actores da nossa predilecção. E os media são responsáveis, embora não unicamente.
Porque temos, também, as marchas, quer das greves, quer para as promoções, e os discursos dos chefes e dos partidários dos chefes, e, sem grande educação, por vezes, acusamos os opositores de vários desmandos. E de velhice.
Tenho ouvido sobre Manuela Ferreira Leite que está velha, boa para a reforma. Provavelmente dos mesmos que, a darem-lhes a oportunidade, não se eximirão a eleger Mário Soares para um novo mandato presidencial, que, vaidoso como é, não deixará de lhe apetecer, apesar da idade e da monotonia do discurso e dos cargos sucessivos do seu pobre sucesso vivido.
Ninguém quer escutar argumentos de pessoas capazes, que deixam prever boa preparação técnica, boa formação moral e se afirmam amantes da sua nação. E esta nada tem de velha, mas de inteligente e ponderada. Preferem escutar as vozes altissonantes do ministro que se socorre da obra que fez como tal, mesmo que, na maioria das vezes, tenha sido uma obra adiada ou infeliz. Não importa os destroços das vidas sem trabalho, ou o espezinhamento das vidas a quem foi retirada a dignidade de bem servirem, com leis arbitrárias e de injustiça flagrante, não importa o défice contínuo, a hipoteca acelerada, o futuro comprometido, o esbanjamento palavroso, mentiroso e vazio, a ruína económica, cultural e moral a que condenamos as gerações vindouras.
Afinal sempre fomos um país - uma praça - arrumado. Na atrofia. Devemos continuar.
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