sábado, 19 de setembro de 2009

Retrocesso

O papá já é crescido e ele é que sabe o que quer para mim e o que não quer”.
Uma frase com quatro proposições, da minha neta de quatro anos de quem já falei, e que revela uma correcta construção discursiva, acompanhando um pensamento que o próprio Confúcio não desdenharia.
É claro que lhe não pertence – ou a ouviu na escola ou em casa - mas, para além da rapidez com que foi perfeitamente articulada, admirei a sua actualidade em termos políticos, não segundo um ideal democrático, note-se, mas segundo uma visão de mando e de comando que em todos os partidos se tem verificado – o quero, posso e mando que a todos convém, sob a capa de um objectivo pelo bem comum: os papás são crescidos, eles sabem o que convém aos “filhotes”, segundo terminologia hipocorística dos afectos familiares dos nossos tempos.
E o bem comum, por todos destacado com arreganho, leva a que todos se batam entre si, para defenderem as suas propostas como superiores às dos outros em importância e alcance, baralhando os dados, menos preocupados, talvez, com a comunidade, do que com a conquista do seu lugar no poder.
Eu acredito, todavia, na preocupação de alguns pelo próprio país, que me parece escorregar miseravelmente para um beco sem saída, no atropelar de direitos dos cidadãos a que temos sido submetidos neste primeiro mandato socialista, corolário de muitos outros mandatos da mesma igualha ideológica, mas, apesar de tudo, de maior respeito humano do que este, que se tem divertido a vilipendiar uns e a enaltecer outros a quem se permite o acumular de fundos tantas vezes resultantes de falcatruas de vária ordem, institucionalizada a fraude, a corrupção, a trapaça e a desvergonha.
Mas a maioria dos comentadores políticos não ajudam ao enveredar por vias mais honestas, divertindo-se a desmistificar as intenções dos que parecem mais credíveis, mas que são demasiado rígidos para a nossa massa humana, formada por um povo cada vez mais resvalando num caminho de degradação, pelo “facilitismo” cultural e ético a que tem sido submetido, numa impreparação e falha de princípios de que nunca mais recuperaremos.
Esses, os que parecem sérios e bem formados, são rotulados de retrógrados, para gáudio dos espertos e lição dos medíocres, instalados na aparência de um viver suficientemente confortável pelas esmolas que vão recebendo, ignorando os que perderam o seu trabalho e o seu direito a uma vida decente.
As sondagens indiciam essa satisfação, no nosso país de pedintes, a esmola tudo cobre com o seu manto de rosas milagreiras. Indiferentes aos males, indiferentes a uma nação de que fazem parte no degrau ínfimo da sua escala, não pensam em recuperação inteligente, em esforço comum, como outros países mais cultos duma Europa a que não pertencemos, nem com os TGV da nossa hipoteca cada vez mais absurda.
O papá é que sabe o que quer para nós.”

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