domingo, 20 de setembro de 2009

Samaritano

Ricardo de Araújo Pereira fez, na sua entrevista ao nosso Ministro Plenipotenciário, presentemente em solavancos e almoços de estrada, mais os beijinhos para o seu ganho eleitoral, uma pergunta sobre o caso de vir a perder o emprego em S. Bento. Não quis significar, por supuesto, que aquele teria que concorrer ao subsídio de desemprego, e o nosso Primeiro Ministro só pôde responder que não era emprego.
Mas corou, viu-se bem. Até me lembrei com ternura dos versos da Samaritana cantados em primeira mão por Edmundo Bettencourt, e comparei o nosso Sócrates ao bom Jesus que também corou depois de beijar a Samaritana que lhe deu de beber junto à fonte de Jacob.
Sócrates respondeu ao Ricardo não se tratar de emprego, querendo subentender que se tratava de uma espinhosa missão. E corou por ver quanta luz irradiara dessa missão em prol da nossa nação. Missão samaritana que é com ela que ingerimos o alimento e a bebida das nossas importações e até nem nos ficamos só pela água. Eu, pelo menos, só me contento com a coca-cola da minha perdição, digo-o sem corar, também porque já passei a idade do rubor.
Mas Sócrates não passou, enrubesce sempre que se exalta, na sua missão de bom Jesus humano, susceptível de se apaixonar, e simultaneamente de samaritano que dá de beber a quem tem sede, a começar por si próprio, e não só recorrendo à fonte de Jacob, porque muitas são as fontes dos seus recursos hidráulicos, cada vez mais renovados com as energias renováveis criadas por essa missão da sua paixão.
Por isso, agradeçamos a Sócrates, missionário empenhado, de humana fraqueza como Jesus, pois se apaixona e cora de paixão ao ver quanta luz irradia da sua missão, de humana solidariedade também, pois dá de beber como bom samaritano, que empalidecerá se perder a missão – no que eu não acredito, ao escutar os cérebros estruturados dos que lhe bebem as palavras e a água das suas sedes.
Agradeçamos a Sócrates que concentra em si, alegoricamente, as duas personagens do fado de Bettencourt, numa espécie de dois em um das nossas publicidades, e ouçamos o lindo fado de Coimbra, na sua pureza de desdobramento em duas personagens distintas segundo a lenda encantada:
Dos amores do Redentor não reza a história sagrada
Mas diz uma lenda encantada que o bom Jesus sofreu de amor.
Sofreu consigo e calou sua paixão divinal
Assim como qualquer mortal um dia de amor palpitou.

Samaritana, plebeia de Sicar,
Alguém espreitando te viu Jesus beijar
De tarde quando foste encontrá-lo só
Morto de sede junto à fonte de Jacob.

E tu, risonha, acolheste o beijo que te encantou.
Serena, empalideceste, e Jesus Cristo corou.
Corou ao ver quanta luz irradiava da tua fronte
Quando disseste –“Ó meu Jesus,
Que bem que eu fiz, Senhor, em vir à fonte.

Samaritana....

Porque hoje é domingo...

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