quinta-feira, 24 de setembro de 2009

“Está aqui o meu programa”

- Agora há matéria em barda, diz a minha amiga, é por isso que os “Gatos” estão a ter tanta saída. Fartam-se de esgatanhar.
- Não tenho visto.
- Mas tem perdido. Que eles têm muita graça.
- Pois! Mas a TV Memória agora repete “Uma família às direitas” e eu faço por não perder, apetecendo o humor sem as zagunchadas venenosas do nosso humor sombrio.
- Mas o deles é sempre elegante.
- De facto é, e o Ricardo até tem resposta pronta, defende-se bem da mordacidade dos outros, por vezes, nas respostas à sua. Mas tudo isto existe e é triste e é fado. Prefiro o humor americano. Há muita gente entre nós assanhada contra a Ferreira Leite, o Cavaco não sei se a tramou, o que é certo é que o Sócrates vai à frente nas sondagens, e o Paulo Portas, apesar do seu dinamismo confiante, fica sempre no fim, basta-lhe afirmar-se da direita. Que este país cada vez está mais virado à esquerda.
A minha amiga tenta criar ilusão:
- Essa questão das percentagens pode ser uma boa treta, um sofisma manipulador da opinião. Eu não acredito. Cada um mente por seu lado. Pode ser que seja verdade, mas é uma coincidência.
- Quem dera que fosse verdade isso que diz! Mas eu acredito nas sondagens. Com o desejo secreto, é certo, de que sejam falsas, e que o Santo António continue a ajudar-nos, meninos que somos, no seu colo protector.
- O que vale é que a semana está a acabar. Estas passeatas, estes sacrifícios... já não devia ser assim! Basta haver uma televisão. Explicar bem o que querem fazer e chega. “Está aqui o meu programa”. Isto era o bastante. Eles esgotam-se, trovejam, injuriam-se, no pó das estradas. E ficamos na mesma. Só que, mais empobrecidos, por causa dos gastos. A televisão bastava.
- Não, nós queremos testar resistências, adoramos o espectáculo, não dispensamos a garraiada, nem que a vaca tussa.
- E agora mais a greve da Tap! Já viu o oportunismo, a dois dias das eleições?
- É verdade! Mais desemprego, talvez, em perspectiva. Mas quem se importa com a nação?
- Sim, ninguém se importa, nem políticos, nem sindicatos, nem pilotos aviadores que até têm vencimentos e regalias q.b....
- E as greves, é geralmente a esquerda que as fomenta. Querem lá saber do país? Mas a esquerda vai ganhar.
- Pois! A esquerda é que defende os interesses dos trabalhadores. Pelo menos é o que ela diz.
- Trouxe-lhe um texto que li hoje, no blog “A bem da Nação” . É de Luís Soares de Oliveira, muito expressivo sobre esse conflito social entre o capital e o trabalho, concluindo que não era necessário acabar com uma das classes, da proposta de Karl Marx.
Vou transcrever este excerto:
“Já nos anos 90, quando estudei o fenómeno do desenvolvimento económico sul-coreano, constatei que os preconizadores do modelo tiveram o cuidado de provocar artificialmente uma luta de classes. Foi criada uma classe capitalista, arrebanhando os especuladores que tinham conseguido fazer fortuna durante a guerra de 1950. Exigiu-se-lhes que criassem as indústrias constantes do programa oficial. Se o não fizessem, os seus bens ser-lhes-iam confiscados ao abrigo de uma lei do enriquecimento ilícito então promulgada. As greves e outros processos de luta pacíficos – ainda que por vezes violentos – foram consentidos. Tais actividades não podiam, contudo, colidir ou reduzir o horário laboral (48 horas por semana). E assim, em 30 anos, a Coreia do Sul passou de um dos países mais pobres do mundo para um dos dez países com mais elevado rendimento per capita.”
- É caso para dizer como o Fernando Pessa “E esta hein!” E também para levarmos os nossos donos do capital fraudulento a utilizá-lo nas indústrias nacionais.
- Pois! Mas quem é que vai nisso? Aqui são protegidos, os donos dos capitais ilícitos. E mesmo a esquerda, se viesse a governar, entrava nos mesmos conluios que a direita. Aqui quem manda é o capital, tenha a origem que tiver. E, bons e sensíveis como somos, também não estou a ver o governo a impor regras tão duras ao povo trabalhador. Isso está bem para os Coreanos, e os Chineses, etc, etc, habituados a trabalhar muito e a ganhar pouco. E vê-se bem que é para bem da nação. Creio que têm cultura para isso. Nós não sabemos o que significa essa palavra – Nação.

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