sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Eu sempre votei no CDS...

... desde os tempos do sentimento de destroço em face do país destruído, no regresso a esse país reduzido ao seu mínimo territorial, mas sempre máximo nas ambições de quantos se lançaram sobre ele para o chupar com arreganho.
O CDS passou a representar para mim aquele escol de bravos que ainda ousavam defender valores que cada vez mais se iam diluindo, nas volúpias do conforto dos abutres que fingiam amar as populações para melhor se locupletarem, no amor cego dos povos, reconhecidos com as côdeas recebidas.
Admirei Freitas do Amaral, na sua discreta mas decisiva demonstração dos princípios que gostava de ouvir, em face da facúndia falaciosa dos demais concorrentes. Admirei Lucas Pires, que achava um príncipe na expressão brilhante do seu discurso. Apreciei – e mantenho – Adriano Moreira na amplitude da sua formação intelectual e seriedade dos seus princípios.
Paulo Portas sucedeu a Manuel Monteiro e fiquei grata por isso, pelo esplendor do seu discurso vibrante, que afastara decisivamente um Monteiro tosco, incompatível com o que para mim representava o chefe de uma nação, verdadeiro senhor, nos seus princípios morais e espirituais.
Mas o povo não o entendeu assim, e deixou-se fascinar pelas demagogias expendidas pelos tais que desprezaram a Pátria, e jamais deu oportunidade ao CDS para crescer, identificando-o com os representantes do fascismo opressor, indiferente a ideologias ou valores que preservassem a Pátria, antes crédulo nos que lhe lançavam o isco de uma pseudo-solidariedade.
Mas Paulo Portas confia ainda na possibilidade de crescimento, distribuindo abraços e discursos que revelam ampla facúndia, na desmontagem dos seus argumentos salvadores da nação.
Não sei se ele próprio acredita nisso que propala. Em caso de ser governo, talvez lhe não corresse tão bem como afirma, no rigor dos seus cálculos e dos seus estudos. Porque o povo não muda assim, e os governos têm que flectir perante os que realmente detêm o poder dos lucros.
Mas não gostei da arrogância, revestida de simpatia, com que se lançou sobre Manuela Ferreira Leite, acusando-a de ambiguidade, nas suas semelhanças com o PS, e achando-se imprescindível para pôr ordem nas políticas salvadoras do país.
Manuela Ferreira Leite não se deixou impressionar. Não esbanja profusão de conhecimentos, nem se perturba com o novo-riquismo intelectual das demonstrações de Portas. Ela se revela íntegra e arguta, na moderação da sua resposta, quer de defesa quer de ataque imediato, imperturbável ante a irrequietude atrevida e calculada deste “menino de bibe” que quer sobrepor a sua voz, na espectacularidade do seu discurso, de há muito decorado.
Um dia, a respeito de José Sócrates, lembrei o “Aprendiz de Feiticeiro”, do poema de Goethe, adaptado por Walt Disney, através do Rato Mickey, no film Fantasia, com a música do compositor Paul Dukas, para lembrar que os aprendizes devem ter cautela, pois os feitiços se podem virar contra os feiticeiros, e mais ainda contra eles, aprendizes néscios.
Paulo Portas lembra-me antes o “menino de bibe” do nosso Miguel Torga, no poema “Brinquedo”:

“Foi um sonho que eu tive.
Era uma grande estrela de papel,
Um cordel
E um menino de bibe.

O menino tinha lançado a estrela
Com ar de quem semeia uma ilusão;
E a estrela ia subindo, azul e amarela
Presa pelo cordel à sua mão.

Mas tão alto subiu,
Que deixou de ser estrela de papel;
E o menino, ao vê-la assim, sorriu
E cortou-lhe o cordel.”

Paulo Portas não deve cortar o cordel à sua estrela, mesmo que esta seja de papel. Deve puxá-la para terra, para se solidarizar com quem compartilha de tantas das suas opiniões, num sentido de interapoio para o bem comum que ambos defendem.
Doutra forma mostrar-se-á apenas desleal e esse aspecto não condiz com o seu ar de “menino de bibe”.
É tempo de voltar ao trabalho consciente, porque as estrelas, no poema, não passam de lirismo inútil, na prosa do suor do rosto, com que, adultos, nos foi mandado fabricar o pão de cada dia.




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