terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ninguém ninguém

Estamos em vias das conclusões – dos finalmentes, em designação novelesca do perfeito de Sicupira, Odorico Paraguaçu, na interpretação de Paulo Gracindo, na telenovela “O bem Amado” - os partidos cada vez mais assanhados, Cavaco Silva acusado de irregularides telefónicas absurdas para quem acreditou na sua pose de honestidade e que se revelou dúbio como os mais, Louçã aproveitando-se disso para matar o PSD e Manuela Ferreira Leite, satisfeito porque a campanha destes “se esvaziou como um balão furado”; Sócrates, confessando-se amigo sério de Cavaco, dizendo não acreditar nas aleivosias contra ele mas atraiçoando-o de seguida nos Açores, a respeito da questão do Estatuto Constitucional que Cavaco ganhou, lembrando, ardilosamente, que fora contra; sempre oportunista, sempre hipócrita, recorrendo a todos os truques para angariar votos e enrolar os que o escutam e são cada vez mais, em discurso directo ao educador Obama, chamando a atenção para a liderança americana de que ele se pretende alma gémea; convidando, para a sua campanha triunfal, os seus apoiantes de peso – Soares o fundador, Manuel Alegre o poeta.
Quanto a Jerónimo de Sousa, o mesmo de sempre, dizendo verdades sem arriscar a cabeça; Paulo Portas dizendo também as suas, por vezes pouco discretamente, desagradando na fanfarronice, em vez de colaborar com o PSD na salvação da Pátria.
Deste modo, Mário Soares veio a terreiro. Vem a terreiro sempre que é requisitado. O velho guerreiro da palavra fácil feita de chavões libertários, que há uns anos desceu em ombros na estação, com o seu V da vitória e o punho cerrado para abater opositores e tomar conta do país que conquistara para si, embora longe do terreiro pátrio. Por lá onde andara, fundara o Partido Socialista, tratara dos conluios com os terroristas da época para libertar as colónias, arrojado na forma espectacular e impiedosa com que provocara as hecatombes dos que fizera expulsar e tiveram que zarpar para os sítios onde se pudessem acolher.
Não lhe chegam os cargos que teve, os que tem que não dão tanto nas vistas, ele quer dar sempre nas vistas. E vem a terreiro, uma vez mais. E quem o ouvir, mesmo que não acredite nele e precise de sais de frutos a seguir, beijoca-o, como em tempos, com a familiaridade galhofeira e inconsciente do que tal figura representou para o povo português e as mazelas da sua história.
Reconheceu-o Nicole Fontaine, candidata, como ele em tempos à presidência do Conselho Europeu e vencedora, reconhecendo-lhe a deficiente preparação intelectual, vingando-se ele apodando-a de “dona de casa”, o que traduz bem a mediocridade e deselegância do seu pensamento, juntamente com a de seu filho João Soares que se refere a Manuela Ferreira Leite com o apodo de “a outra senhora” - bem na esteira de Sócrates - que da Pátria, juntamente com seu pai, e tantos mais da mesma linha utilitária só entendem o lucro que dela pode advir.
A essa “outra Senhora” chamou Soares “fanática” ou “irresponsável” por, segundo afirmou, confundir “crise social” com “crise económica”. Já Sócrates a apelidara de “anti-democrática”, no seu “conservadorismo retrógrado”, de “visão radical e maniqueísta” a propósito de um TGV ruinoso, embora não para Sócrates, indiferente à ruína, defensor do progresso, num país cada vez mais endividado.
A “outra Senhora” ao responder que o discurso de Soares “não merece o mínimo dos comentários” coloca-se na posição educada e elegante da pessoa que desdenha responder a quem nunca lhe mereceu mais do que desprezo.
Mas não ganha votos com isso. Porque, de longa data, somos um povo de bulha, de agressão palavrosa e não vamos mudar tão radicalmente.
Levemos o caso numa boa. Com Marco Paulo cantemos “Ninguém, ninguém poderá mudar o mundo”. E sentir-nos-emos mais confortados.

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