Estava a preparar-me para o nosso diálogo sobre o frente-a frente de Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa, ontem na Sic, com Clara de Sousa a orquestrar, mas a minha amiga desprezou:
- Não vi! A que horas foi isso?
Tanto desinteresse emurcheceu-me, não que eu me julgue superior em interesses pátrios:
- Foi depois do noticiário. Pois eu até perdi o Allô, Allô e ainda o Sherlock Holmes, já à conta dos programas críticos seguintes.
Desligou:
- Olhe lá, e aquela da Manuela p’rá rua?
Também dei conta, mas só no final do dia, do reboliço que provocou. Mas a minha amiga gosta dela:
- Eu estou convicta de que ela é daquelas a quem mete raiva tanta ladroeira, tanta pouca vergonha.
- Pois, mas tem muito maus modos, ou demasiado arrogantes e sempre incriminatórios, e isso é pouco jornalístico. Mas o que pensa...
Não pude meter a minha colherada sobre os do frente-a-frente, com a minha amiga vogando noutra onda:
- Há muita gente que vai ficar contente da Manuela ser corrida. Mas os colegas em bloco demitiram-se. Essa é que é a parte bonita da questão.
- Ai foi? Mas não lhes faz falta o emprego?
- Não sei como é que isso vai ficar. Mas os Espanhóis têm sido criticados ao máximo. Como é que se permite que os Espanhóis venham mandar cá?! Já mandam em tanta coisa! Os limões, quase a 1E.80! São espanhóis.
- Mas não há limões nossos?
- Não há quem os apanhe, ou então preferem o salário que lhes deram para não os apanharem.
- O Louçã...
- Outra coisa! Já viu a quantidade de carros que há neste país? E queixamo-nos de sermos pobres?
Alinhei, momentaneamente distraída da minha obsessão:
- Eu ontem perguntei à minha neta que está a estudar em Paris se por lá também há assim tanto automóvel. Respondeu que eles andam mais de metro, de autocarro, não precisam de tanto veículo. Cada família tem um, para passearem. Nós aqui tínhamos muitos carros e muitos telemóveis. Eu lembrei também os magalhães.
- Eu só me pergunto a que horas é que os Portugueses chegam aos empregos. Duvido que comecem a trabalhar às 9 da manhã. Para mim é uma das grandes causas deste país não andar, a falta de pontualidade. Um país assim não vai lá. Tudo o que é trabalho tinha que ser levado a sério. Trabalham o quê! Porque nós sabemos que nos outros países da Europa o horário é a obrigação número um. E em Portugal é exactamente o contrário. Fizeram autoestradas, mas os carros são a mais. Não fizeram combóios nem metros que cheguem.Fica tudo entupido, engarrafamentos brutais... Não, não podem chegar a horas.
-Pois, mas eu gostava...
- Ainda há bocado ouvi um homem na televisão a falar nas causas, nas soluções. As pessoas sabem! Por exemplo o caso Casa Pia: Há um Tribunal, há juízes, há advogados só para tratarem deste assunto. Já se passaram dez anos. O que é que ele quis dizer? Aquela raça não está interessada. O português mais analfabeto sabe que o Casa Pia não anda, não vai andar. Há direito que a Justiça não queira saber das vítimas? Que deixe caducar? E a gente inda vai votar! Minha nossa! Santa Bárbara!
Decididamente hoje não era o dia do Jerónimo nem do Louçã. Porque a minha amiga ainda falou da Senhora que foi Provedora da Casa Pia e que vai deixar tudo escrito. Ela diz que pode morrer amanhã, mas que deixa tudo escrito, porque sabe tudo. Escreveu tudo para a posteridade. Disse a minha amiga, que o ouviu.
E foi assim que saiu gorado o comentário do frente-a-frente de ontem. Primeiro, porque a minha amiga não assistiu. Segundo, porque não quis saber, profusa noutras informações.
Desta maneira, eu só posso dar o meu ponto de vista, e a garantia de que estiveram ambos muito comportadinhos, nos tempos certos, bem educados, respeitadores, com os dados exactos dos seus bons pensamentos, bem diferentes dos antecessores, tudo numa correcção exemplar, que apeteceu galardoar. Talvez conquistem o galardão, que nós sempre soubemos galardoar segundo o mérito de cada um.
- Não vi! A que horas foi isso?
Tanto desinteresse emurcheceu-me, não que eu me julgue superior em interesses pátrios:
- Foi depois do noticiário. Pois eu até perdi o Allô, Allô e ainda o Sherlock Holmes, já à conta dos programas críticos seguintes.
Desligou:
- Olhe lá, e aquela da Manuela p’rá rua?
Também dei conta, mas só no final do dia, do reboliço que provocou. Mas a minha amiga gosta dela:
- Eu estou convicta de que ela é daquelas a quem mete raiva tanta ladroeira, tanta pouca vergonha.
- Pois, mas tem muito maus modos, ou demasiado arrogantes e sempre incriminatórios, e isso é pouco jornalístico. Mas o que pensa...
Não pude meter a minha colherada sobre os do frente-a-frente, com a minha amiga vogando noutra onda:
- Há muita gente que vai ficar contente da Manuela ser corrida. Mas os colegas em bloco demitiram-se. Essa é que é a parte bonita da questão.
- Ai foi? Mas não lhes faz falta o emprego?
- Não sei como é que isso vai ficar. Mas os Espanhóis têm sido criticados ao máximo. Como é que se permite que os Espanhóis venham mandar cá?! Já mandam em tanta coisa! Os limões, quase a 1E.80! São espanhóis.
- Mas não há limões nossos?
- Não há quem os apanhe, ou então preferem o salário que lhes deram para não os apanharem.
- O Louçã...
- Outra coisa! Já viu a quantidade de carros que há neste país? E queixamo-nos de sermos pobres?
Alinhei, momentaneamente distraída da minha obsessão:
- Eu ontem perguntei à minha neta que está a estudar em Paris se por lá também há assim tanto automóvel. Respondeu que eles andam mais de metro, de autocarro, não precisam de tanto veículo. Cada família tem um, para passearem. Nós aqui tínhamos muitos carros e muitos telemóveis. Eu lembrei também os magalhães.
- Eu só me pergunto a que horas é que os Portugueses chegam aos empregos. Duvido que comecem a trabalhar às 9 da manhã. Para mim é uma das grandes causas deste país não andar, a falta de pontualidade. Um país assim não vai lá. Tudo o que é trabalho tinha que ser levado a sério. Trabalham o quê! Porque nós sabemos que nos outros países da Europa o horário é a obrigação número um. E em Portugal é exactamente o contrário. Fizeram autoestradas, mas os carros são a mais. Não fizeram combóios nem metros que cheguem.Fica tudo entupido, engarrafamentos brutais... Não, não podem chegar a horas.
-Pois, mas eu gostava...
- Ainda há bocado ouvi um homem na televisão a falar nas causas, nas soluções. As pessoas sabem! Por exemplo o caso Casa Pia: Há um Tribunal, há juízes, há advogados só para tratarem deste assunto. Já se passaram dez anos. O que é que ele quis dizer? Aquela raça não está interessada. O português mais analfabeto sabe que o Casa Pia não anda, não vai andar. Há direito que a Justiça não queira saber das vítimas? Que deixe caducar? E a gente inda vai votar! Minha nossa! Santa Bárbara!
Decididamente hoje não era o dia do Jerónimo nem do Louçã. Porque a minha amiga ainda falou da Senhora que foi Provedora da Casa Pia e que vai deixar tudo escrito. Ela diz que pode morrer amanhã, mas que deixa tudo escrito, porque sabe tudo. Escreveu tudo para a posteridade. Disse a minha amiga, que o ouviu.
E foi assim que saiu gorado o comentário do frente-a-frente de ontem. Primeiro, porque a minha amiga não assistiu. Segundo, porque não quis saber, profusa noutras informações.
Desta maneira, eu só posso dar o meu ponto de vista, e a garantia de que estiveram ambos muito comportadinhos, nos tempos certos, bem educados, respeitadores, com os dados exactos dos seus bons pensamentos, bem diferentes dos antecessores, tudo numa correcção exemplar, que apeteceu galardoar. Talvez conquistem o galardão, que nós sempre soubemos galardoar segundo o mérito de cada um.
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