terça-feira, 29 de setembro de 2009

Comentários a textos ou a outros comentários

O mundo dos comentários aos textos dos blogues sendo menos visível do que os próprios textos, entendi reunir alguns postados no PortugalClub, como processo de dar continuidade a um pensamento contestatário ou de paralelismo ideológico.

I - Assim, o sr. Braamcamp Mancellos comentou da seguinte maneira o meu texto “Não é uma questão de dentes”, que se propusera estranhar a forma como um governo, tão posto em causa ao longo de quatro anos, conseguira mobilizar tanta adesão de uma população absurdamente incoerente:

Berta Brás, os meus cumprimentos. Perante a pelintrice deste país, qualquer esforço é uma pura perda de tempo. Exceptuando uma pequena percentagem que cultiva os verdadeiros valores em principios e em educação,tudo o resto, só nos faz envergonhar por pertencermos a esta raça. Já reparou na TV, no indice mental dos idiotas que percorrem as ruas acompanhando os politicos nesta campanha eleitoral? E os outros, dentro do nosso quotidiano diário? Os nossos Pais, há cinquenta ou há sessenta anos quando saíram desta mixórdia para as Colónias, jamais imaginariam que este povo continuaria na mesma, passado tanto tempo. Apenas evoluiram materialmente. Com mais ou menor formação académica, o desastre mantem-se. Não há qualquer tipo de antídoto para contrariar esta corrente. Faz parte. De uma tacanhez mental e de uma "superioridade" bronca que gela qualquer ser civilizado. Ninguém lhes tira o orgulho de serem "Europeus". Enquanto entrarem diáriamente neste país milhões de euros, o regabofe vai continuar. Aos estúpidos, é fácil criar ilusões. Antigamente só os pobres eram estúpidos, hoje é uma miscelânea.
Portanto, nada a fazer, minha Cara Senhora. Braamcamp Mancellos

A resposta, um pouco longa, explicita melhor os motivos dessa incoerência:

“Sr. Braamcamp Mancellos, às vezes também tenho vontade de pensar tão duramente, mas não quero generalizar assim. Creio que somos um povo que, por qualquer razão que escapa, vivemos sempre em penúria, de que não seremos totalmente responsáveis. Penúria de igualitarismo social, por falha dos que, julgando-se superiores, não estenderam às classes "inferiores" a convicção de que poderiam igualar-se-lhes, estudando. Os judeus burgueses fizeram-no e ultrapassaram os fidalgos em competências, fidalgos que, muitas vezes nada mais faziam que impor as suas marialvices e as suas arrogâncias sem conteúdo também. Mas nunca o povo se libertou da miséria, nunca se esforçou por isso. Faltou-nos uma "Magna Charta" que estabeleceu direitos democráticos a povos talvez mais inteligentes e trabalhadores. Custa olhar para os espectáculos de carnavaladas constantes, entre nós, começando pelo predomínio dado ao futebol, como espectáculo gerador de mesas redondas até. Felizmente, há sempre um escol. Mas não basta para criar outra mentalidade entre o nosso povo. O povo que ficou definido, nos próprios filmes antigos - as mulheres, pelo xaile e lenço, os homens talvez pelo chapéu e o bigode, como marcas distintivas do nosso charme. Hoje, se a mocidade foge um pouco a isso, graças à globalização, que penúria ainda, nas conversas, na deselegância, no vazio das atitudes. Não, nunca chegaremos aos calcanhares dos outros povos. Porque nesses, apesar de ditaduras terríficas - falo dos povos do leste europeu, que os do oeste estão, naturalmente fora das nossas ambições igualitárias - em todo o caso a Educação foi prioridade que teve como consequência os imigrantes de leste se superiorizarem, como estudantes, aqui, como trabalhadores seja em que emprego for - habituados a respeitar valores que nós pontapeamos sem educação.

Desculpe esta tirada, eu gosto do nosso povo porque é aberto e sensível, mas não gosto da sua humildade, e muito menos do seu atrevimento grosseiro em manifestações de rua. Como gostaríamos que uma varinha mágica qualquer chamasse à liça os valores do civismo e da cultura! Não, não vamos a tempo. Como muito bem disse no seu excelente comentário.” Berta Brás


II - O comentário seguinte é ao texto de Alberto Ribeiro Soares "Manuela Ferreira Leite”, que admirei como índice de lealdade e sensibilidade às competências reveladas pela dirigente do Partido Social-Democrata. Terminava assim, em excelente síntese psico-sociológica sobre a nossa idiossincrasia:

“Triste País o nosso!
Cada vez mais entregue ao marketing, ao oportunismo, ao clientelismo, à corrupção e à degradação da moral e dos costumes.
A derrota (apenas nas urnas) de MFL mostra à saciedade que, quem não quiser usar essas armas, não consegue ir longe.
Mas, nesta hora que não pode deixar de ser amarga, MFL continua a ser admirada por muitos milhões de Portugueses!” Alberto Ribeiro Soares

Respondi, num entusiasmo de conivência:

Eu sou uma delas, reconheci-o bastantes vezes, quer por escrito, quer em conversa. Creio que os leaders novos que estão surgindo no PSD, cheios de aparentes bons princípios, a cobrir ambição, a mesma que catapultou Sócrates, como já catapultara, em tempos, Soares, Almeida Santos e mais pandilha, terá os apoiantes específicos, do seu grupo de amiguinhos, que não souberam defender a chefe - salvo honrosas excepções, entre as quais Pacheco Pereira, de extrema nobreza porque igualmente superior, em saber e ética - talvez porque esta lhes está muito acima, quer em discrição, quer em inteligência, quer em elevação moral e amor pátrio. Concordo em absoluto consigo. Mas diz-se que cada povo tem os chefes que merece. E o nosso, embora alertado - há longos anos alertado, na própria pele sofrendo esse alerta - deixa-se manipular por esses discursos balofos de uma esquerda fictícia, que vive de chavões e se está nas tintas para a nação. Como se viu no governo de ruína que tivemos. Oxalá Manuela Ferreira Leite não desista, precisamos de discursos sérios e rigorosos como os dela, oxalá os seus verdadeiros amigos, do seu partido, lhe transmitam a coragem de continuar. Contra as vozes altissonantes dos ambiciosos do poder, em começo de carreira. Figuras como a de Manuela Ferreira Leite não teremos mais, num país cada vez mais degradado.” Berta Brás

Seguiu-se o comentário ao mesmo texto de um Sr. António Freire vincando a sua vinculação a outros ideais políticos, em discurso desdenhoso de pseudo-saber mas repetindo puramente os slogans de fácil memorização postos na praça pública para bacoco ouvir:

“Alberto Ribeiro Soares escreve que Manuela Ferreira Leite (MFL) “ continua a ser admirada por muitos milhões de portugueses”. Creio que exagera. Mas não vale a pena continuar a falar muito da velha senhora que, daqui a 15 dias, logo após as autárquicas, será morta politicamente e passará para a já longa galeria dos ex- presidentes do PSD.. Mais importante é debater se as teses de MFL de “ não se gasta”, “não se deve investir”, “não há dinheiro” devem, ou não, continuar a ser bandeiras do PSD.” António Freire


Não compreendo o comentário anterior. Manuela F. Leite falou em investimentos nas PMEs, e quanto aos grandes projectos, lembrou o estado actual da dívida pública, dos milhões que recebemos sem produzir, o que parece grave a todos os que não percebem como se pode usar toda a vida da teta alheia. Mas neste país, como muitos são os habituados à teta alheia - mendigos que somos - não se lhes dá que os países ricos, que produzem porque trabalham, vão alimentando o nosso parasitismo e inércia e vaidades. Teremos o TGV do nosso disparo económico. Turistas virão que o ajudarão a pagar... se houver condições turísticas para os recebermos. Quanto aos atropelamentos sociais e às falcatruas, também somos um povo de falcatruas, aceitamos do coração os que as institucionalizam. Por isso repudiamos Manuela Ferreira Leite. Por ser honesta e equilibrada. E inteligente. Berta Brás

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