- Eu não quero acreditar no que ouvi ontem ao Paulo Portas sobre o ministro da Agricultura! Como? Como? Como? Não utilizou uma quantidade de milhões de euros da UE na nossa Agricultura?!
- Duzentos mil milhões de euros, leio eu nas minhas notas.
- Isto tem que ter uma explicação! Mas o povo português fica indiferente a esta declaração do Paulo Portas? Eu vou votar nele! Mais ninguém tinha ainda feito referência a isto! Como é que o Jaime Silva pode andar na rua? Será que as pessoas não pensam como eu? Eu quero realmente ver se alguém menciona isso desta entrevista!
- Acho que ninguém mais referiu, pelo menos não ouvi!
- Claro que os ladrões do Banco ele também os apontou e que o Victor Constâncio, moribundo, faria tudo da mesma maneira, segundo contou Portas. Isto quer dizer o quê? Que estão todos inocentes! Pois o Paulo Portas para mim ganhou as eleições! Eu vou votar nele! Que coisa horrível um país assim! Esta coisa do Ministro da Agricultura, acho tão espantosa!
- Mas olhe que não é a primeira vez que acontece! Só talvez não fossem assim tantos milhões!
Retomou, com mais gana ainda:
- Qual é a justificação? A agricultura não merece? Não se deve trabalhar na terra?
- Oh! E então os dinheiros que recebem para isso? Para não trabalharem! Veja lá se fossem comprar maquinarias ou aprender técnicas para nos equipararmos nas hortaliças aos outros países! O trabalho que não daria aprendermos todas essas coisas novas! E com a proibição para as exportarmos, as maquinarias enferrujavam. Como nos hospitais e casas de saúde certos aparelhos sem uso, porque não lhes dão autorização para os usarem.
Não ligou à interrupção:
- O que é certo é que os agricultores dizem que a pior coisa para eles é o vento, a chuva – em excesso, claro – e o Silva. Mas como? Como? Como justifica tal coisa? Unicamente assim: Não levanta o dinheiro: perde o dinheiro. Não é de burro?
A minha amiga aplica expressões das suas iras a que não há meio de me habituar, delicada como sou. Também usou a mesma expressão desprestigiante – os habituados a fazer humor insinuariam que para os burros – em referência ao tardio do “Prós e Contras”, que ouviu a seguir ao frente-a-frente Paulo Portas - Jerónimo de Sousa, na SIC, moderado por Clara de Sousa, de que estávamos a falar:
- Vou escrever à RTP que enquanto houver cabeças burras, que põem no ar programas tão tardios, o país não vai longe. Este programa é feito para a nação? Este programa é caro? Qual o interesse em dá-lo à meia noite? Um país vai levantar-se porquê? O quê!? Fazem o sacrifício de não dormir para os ouvir? Cabeças burras! Mas alguém reclamou? Nunca vi isso escrito em lado nenhum!
Vê-se bem que o sono a apanhou quando estava interessada no debate com o Ministro dos Assuntos Parlamentares e alguns parlamentares a atropelarem-se nas razões, com a Fátima Campos Ferreira ao comando. É, de resto, uma conversa que ela já há muito explora, nas volutas aromáticas do nosso café matinal, e sempre com a mesma indignação, a hora tardia do “Prós e Contras”.
Mas, retomando o tema do frente-a-frente, achámos que se portaram ambos à altura, com mais ênfase sobre a actuação de Paulo Portas, embora a minha amiga pessimista insista na ineficácia dos argumentos, farta de ouvir programas de reabilitação num terreno sem habilitação, e daí a sua inutilidade.
Eu não achei que tivéssemos falta de habilitação, porque nos reconheço até muita habilidade. E assim vamos cozinhando o nosso caldinho verde, que pertence à nossa habilidade caseira, e até nos damos todos bem, interessados no bem de todos.
A direita e a esquerda foram bem representados ontem, pois, por Paulo Portas e por Jerónimo de Sousa, aquele, brilhante nos raciocínios, demasiado rápidos, todavia, por conta da moderação imposta, este muito mais animado do que nos anteriores debates contra os da sua área ideológica.
Desta vez tratava-se de um opositor real, com quem jogavam os seus interesses, ambos mais ou menos empatados nas votações, além de que, para Jerónimo de Sousa convinha acentuar ironicamente as diferenças sociais entre ele, habituado por tradição à carne de vaca do guizado, e o seu opositor, mais afim do lombo do bife, em imagem a propósito das doenças de mais alto gabarito, citadas por Portas - cataratas, ortopedias - tratáveis nas casas de saúde, ignorando o encerramento das maternidades pelo governo de Sócrates.
Mas Paulo Portas revelou ser sensível, como Cesário Verde, à “dor humana” que “busca os amplos horizontes e tem marés de fel, como um sinistro mar”, relatando os seus conhecimentos adquiridos nas feiras das suas andanças eleitorais, e apontando soluções do seu percurso de intelectual estudioso e brilhante.
Quanto a Jerónimo de Sousa, tal como o soubera dizer também ironicamente a José Sócrates, ele falava por experiência própria da sua vida mais sofrida e orientada, intelectualmente, pelo credo marxista, contido na Constituição.
Concluiu mesmo que as divergências entre ambos se centravam no maior ou menor seguidismo da Constituição pós-abrilina.
Ambos estiveram bem. Eu, como a minha amiga, também vou votar em Paulo Portas.
- Duzentos mil milhões de euros, leio eu nas minhas notas.
- Isto tem que ter uma explicação! Mas o povo português fica indiferente a esta declaração do Paulo Portas? Eu vou votar nele! Mais ninguém tinha ainda feito referência a isto! Como é que o Jaime Silva pode andar na rua? Será que as pessoas não pensam como eu? Eu quero realmente ver se alguém menciona isso desta entrevista!
- Acho que ninguém mais referiu, pelo menos não ouvi!
- Claro que os ladrões do Banco ele também os apontou e que o Victor Constâncio, moribundo, faria tudo da mesma maneira, segundo contou Portas. Isto quer dizer o quê? Que estão todos inocentes! Pois o Paulo Portas para mim ganhou as eleições! Eu vou votar nele! Que coisa horrível um país assim! Esta coisa do Ministro da Agricultura, acho tão espantosa!
- Mas olhe que não é a primeira vez que acontece! Só talvez não fossem assim tantos milhões!
Retomou, com mais gana ainda:
- Qual é a justificação? A agricultura não merece? Não se deve trabalhar na terra?
- Oh! E então os dinheiros que recebem para isso? Para não trabalharem! Veja lá se fossem comprar maquinarias ou aprender técnicas para nos equipararmos nas hortaliças aos outros países! O trabalho que não daria aprendermos todas essas coisas novas! E com a proibição para as exportarmos, as maquinarias enferrujavam. Como nos hospitais e casas de saúde certos aparelhos sem uso, porque não lhes dão autorização para os usarem.
Não ligou à interrupção:
- O que é certo é que os agricultores dizem que a pior coisa para eles é o vento, a chuva – em excesso, claro – e o Silva. Mas como? Como? Como justifica tal coisa? Unicamente assim: Não levanta o dinheiro: perde o dinheiro. Não é de burro?
A minha amiga aplica expressões das suas iras a que não há meio de me habituar, delicada como sou. Também usou a mesma expressão desprestigiante – os habituados a fazer humor insinuariam que para os burros – em referência ao tardio do “Prós e Contras”, que ouviu a seguir ao frente-a-frente Paulo Portas - Jerónimo de Sousa, na SIC, moderado por Clara de Sousa, de que estávamos a falar:
- Vou escrever à RTP que enquanto houver cabeças burras, que põem no ar programas tão tardios, o país não vai longe. Este programa é feito para a nação? Este programa é caro? Qual o interesse em dá-lo à meia noite? Um país vai levantar-se porquê? O quê!? Fazem o sacrifício de não dormir para os ouvir? Cabeças burras! Mas alguém reclamou? Nunca vi isso escrito em lado nenhum!
Vê-se bem que o sono a apanhou quando estava interessada no debate com o Ministro dos Assuntos Parlamentares e alguns parlamentares a atropelarem-se nas razões, com a Fátima Campos Ferreira ao comando. É, de resto, uma conversa que ela já há muito explora, nas volutas aromáticas do nosso café matinal, e sempre com a mesma indignação, a hora tardia do “Prós e Contras”.
Mas, retomando o tema do frente-a-frente, achámos que se portaram ambos à altura, com mais ênfase sobre a actuação de Paulo Portas, embora a minha amiga pessimista insista na ineficácia dos argumentos, farta de ouvir programas de reabilitação num terreno sem habilitação, e daí a sua inutilidade.
Eu não achei que tivéssemos falta de habilitação, porque nos reconheço até muita habilidade. E assim vamos cozinhando o nosso caldinho verde, que pertence à nossa habilidade caseira, e até nos damos todos bem, interessados no bem de todos.
A direita e a esquerda foram bem representados ontem, pois, por Paulo Portas e por Jerónimo de Sousa, aquele, brilhante nos raciocínios, demasiado rápidos, todavia, por conta da moderação imposta, este muito mais animado do que nos anteriores debates contra os da sua área ideológica.
Desta vez tratava-se de um opositor real, com quem jogavam os seus interesses, ambos mais ou menos empatados nas votações, além de que, para Jerónimo de Sousa convinha acentuar ironicamente as diferenças sociais entre ele, habituado por tradição à carne de vaca do guizado, e o seu opositor, mais afim do lombo do bife, em imagem a propósito das doenças de mais alto gabarito, citadas por Portas - cataratas, ortopedias - tratáveis nas casas de saúde, ignorando o encerramento das maternidades pelo governo de Sócrates.
Mas Paulo Portas revelou ser sensível, como Cesário Verde, à “dor humana” que “busca os amplos horizontes e tem marés de fel, como um sinistro mar”, relatando os seus conhecimentos adquiridos nas feiras das suas andanças eleitorais, e apontando soluções do seu percurso de intelectual estudioso e brilhante.
Quanto a Jerónimo de Sousa, tal como o soubera dizer também ironicamente a José Sócrates, ele falava por experiência própria da sua vida mais sofrida e orientada, intelectualmente, pelo credo marxista, contido na Constituição.
Concluiu mesmo que as divergências entre ambos se centravam no maior ou menor seguidismo da Constituição pós-abrilina.
Ambos estiveram bem. Eu, como a minha amiga, também vou votar em Paulo Portas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário