quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

"Agora é que eu não vou perder!"

Foi a propósito de uma reunião parcial do Parlamento, onde se debatiam assuntos de saúde, com representantes de todos os partidos. A Maria José Nogueira Pinto chamou palhaço a um deputado do PS – Ricardo Gonçalves – a propósito do seu estatuto de inimputabilidade, creio que por ser do PS, que lhe dava o privilégio de insultar toda a gente, sem consequências de maior. Ricardo Gonçalves lá se apurou nos insultos a Nogueira Pinto, enxofrado com a história do palhaço, embora afirmasse não se encrespar na época do Natal por via disso. Por aqui se viu que ele considera o Natal festa de palhaços e Nosso Senhor lhe perdoará, que Nosso Senhor tudo perdoa. Mas viu-se que não gostou, no dilatar de argumentos à portuguesa – grosseiramente insultuosos - pontuado pelos furiosos “oh! oh! sr. Deputado!”, “oh! oh! Srª doutora, oh! oh! srª deputada!” do moderador do debate e concluído pelas severas palavras de João Semedo do BE de que nem os palhaços nem os esquizofrénicos mereciam as palavras insultuosas pronunciadas naquela secção. Mas não explicou se algum deputado merecia. Também a ministra Ana Jorge levou as mãos à cabeça, impressionada.
A minha amiga é que se mostrou radiante:
- “Agora é que eu não vou perder! Agora é que eles estão cómicos! Porque tratar dos assuntos do país é tristíssimo! É dramático! A Nogueira Pinto parece que tem a mania da superioridade, é da linha de Cascais, disse o tipo!
- Ainda bem que vivemos na freguesia do Estoril!
- concluí eu também radiante.
- Mas já estou a ser castigada! Até o código que sempre usei no cartão multibanco me saiu errado. Tive que pagar cinco euros por conta. E era mesmo esse o código, garantiu o meu filho.
- As caixas da CGD também estão sempre gatadas. De vez em quando engolem as cadernetas e depois fecham para obras. A CGD não deve ter dinheiro para consertos.

- Pois! Mas a mamar cinco euros ou mais por conta dessas gafes das máquinas vai repondo a dívida das trafulhices nos bancos.
Mas mudámos de assunto, vivendo rodeadas de assuntos como vivemos. Desta vez fui eu que contei as minhas impressões:
- Há dias deram na televisão que o povo dinamarquês era o mais feliz dos povos europeus. A reportagem mostrou entrevistas de rua, imagens das ruas. Os dinamarqueses mostraram as razões da sua empatia com a vida: não eram muito ambiciosos, contentavam-se com o que tinham, razoavelmente bom, pois que não havia grandes desníveis sociais, grandes desníveis de interesses económicos, trabalhavam, cumpriam, tinham boa assistência médica, ensino gratuito, bicicletas para andarem nas ruas planas, passeios pedonais, carros menos abundantes – pelo menos nas imagens mostradas – respeito, pois, pelo ambiente, justifica-se bem a cimeira ali dos povos ricos e pobres que vão lutar pelo ambiente do Globo. Viu-se que era gente que sabia argumentar, sinal de que a Educação era uma pedra basilar no seu desenvolvimento e do seu país. Alguns falaram nos povos da miséria africana, sobretudo, nem se atreviam a manifestar-se, eventualmente, menos felizes, por comparação com esses.
- Oh! Esses não têm graça nenhuma! Tudo tão certinho! A viver com tanta monotonia de níveis, educações, satisfações, respeito por todos...
- Quem lhes fará os trabalhos de casta inferior? Serão os emigrantes? A reportagem não disse. Mas eles devem respeitar todos os que trabalham, não há que recear. Só que lhes devem faltar as “barrigadas de riso” à portuguesa, como dizia o João da Ega, nos seus esgares de risos gélidos, de quem, educadamente, nunca se desmancha.
- Nós desmanchamo-nos sempre, nas lágrimas como no riso, somos um povo emotivo. Qualquer dia, no Parlamento, até “amandamos” também o sapato às cabeças.
- Isso não. Isso está bem para os Iraquianos, que são bons guerreiros. Nós somos um povo pacífico. Sobretudo com os superiores. A nossa democracia será sempre empenada, por conta do desnível.

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