sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Arte de Talma

A minha amiga falou da entrevista da Judite de Sousa ao Armando Vara:
- A gente ouve-o e considera-o inocente. Ele argumenta por A mais B que não foi nada daquilo que dizem. E é verdade, quando há uma coisa que ele disse que abona a favor dele: pede para as escutas serem ouvidas. Isso quase me convenceu, pá! Também tenho muita pena de que alguém seja acusado injustamente. Porque este homem, se é mentira o que dizem dele, coitado, não está certo. Para eu ser julgado tem que haver provas do que dizem. Provas não há.
- Mas há sempre truques nestas engrenagens. Eles podem ter feito manigâncias, recebido ou oferecido massas ou entrado em conluios sem deixar provas à vista. Basta que o façam subrepticiamente.
- Claro! Eles também não são burrinhos. Não vão deixar provas à mostra. Mas esta gente está sempre sujeita a grandes calúnias.
- Olhe, o meu marido o que disse - que eu nem ouvi a entrevista, entretida com “Uma famìlia às direitas” da TV Memória - mas o que ele perguntou, muito indignado, foi como é que a RTP, que é formada por amigalhaços do PS, embora todos nós paguemos para isso, se pode dar ao luxo de entrevistar um senhor que está indiciado criminalmente. Que aquilo foi tudo muito bem estudado para ele ir ali defender-se e com ele o seu amigo PM, tudo muito bem orquestrado. Que ele falou em quarenta anos de trabalho honrado, por isso é o primeiro a querer saber, honradamente, o que se passa. Parece que o meu marido não se comoveu com a decisão de ele querer esclarecer - para mais dita em tom de pessoa ofendida e triste - porque acha que há muitos como ele que também trabalharam bem e não chegaram tão longe, e nem mesmo a lado nenhum. O Vara esqueceu-se de dizer que, se subiu de degrau a degrau, ou mesmo galgando alguns degraus, foi à custa da política e dos que o apoiaram.
Mas a minha amiga hoje deu-lhe para o sentimento. Viu-se que ficou impressionada com o Vara e até contou um caso de novela, exemplificativo das calúnias que a Internet hoje em dia possibilita:
- A Alexandra entra numa telenovela da TVI, onde ela desempenha o papel de mulher um bocado poderosa. Eu estou a acompanhar a novela. Ela é uma actriz inteira. Mostrou ontem ali como se pode dar cabo da vida de uma pessoa com o computador. Ela é mazinha que se farta, é diabólica. Como foi substituída no sentimento do parceiro, pensou assim: “Vais-me pagar.” Ela, para tramar o que a pôs de parte, fez uma declaração a dar plenos poderes a esse e mete-a na pasta do patrão da empresa. O que acontece? O patrão – Nicolau Breyner, seu sogro - que não assina nada sem ver - fica possesso de raiva: “O que é isto? Isto é para me tramar?” Despede o amigo do peito. A Alexandra, que tinha tramado a coisa, mostra afectuosamente o seu desacordo com o sogro: - “Não te precipites, vê bem!” - que fica danado com ela. Ela não faz mais nada: contrata um técnico de computadores para passar aquilo para o computador de um rapaz lá empregado. Faz um pedido de readmissão do antigo namorado, mandando iniciar buscas sobre a origem da perfídia, encontram-na no computador do rapaz. Quem vai para a rua é o rapazinho. Ela agora tem os dois na mão. E ali mostraram como se pode entalar a vida duma pessoa. Mas a fulana trabalha muito bem. Pode ser considerada das melhores.
E foi assim que passámos a eruditas observações sobre as actrizes passadas, tão consideradas, embora na nossa comum opinião, demasiado formais, como a Amélia Rey Colaço e a Palmira Bastos, modelos de muitas das nossas actrizes.
A minha amiga falou da Eunice Muñoz:
- Outro dia prestaram homenagem à Eunice Muñoz. Os elogios são tantos, tantos! Aquilo que se disse parece uma coisa impressionante. É a melhor do mundo. Ela a mim nunca me fez essa coisa. Mas reconheço que tem que ser boa: tem oitenta e tal anos, a trabalhar desde os treze.
Confesso que não compartilhei a ironia sobre o engenho criado pela experiência:
- Eu gosto dela sobretudo como actriz cómica. Uma seriedade que não se desmancha, acho-a espantosa de sobriedade e graça!
- Mas quem vê as séries inglesas ou americanas, as novelas brasileiras... ou as actrizes fabulosas do passado e de agora... Aí é que há bom material! Eu é que já não vejo as séries, nem os filmes, não tenho paciência! Mas a Alexandra, acho-a muito boa, e versátil.
- Às vezes também encontramos bons actores na vida real, mesmo através da televisão.

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