sábado, 5 de dezembro de 2009

“Parecem as lavadeiras de Caneças”

- Mas era melhor chamar-se-lhes gatos fedorentos.
Foi o começo do comentário da minha amiga sobre a discussão de ontem no Parlamento. Continuou, sem dar azo a resposta:
- Mas admite-se que se perca tempo? Pode-se? Mas parece que eles vão p’r’ali p’r’a isso. Mas eu gostava mais que se discutisse como é que se salva o país! Ou não vale a pena? Ai que cenas! Ai que cenas! Ai que cenas!
Consegui titubear:
- Foi um escândalo, de facto.
- Não sei, que venha alguém que explique se aquilo é normal!
Tentei justificar:
- Casa onde não há pão...
Mas nem cheguei a completar, nem era preciso.
- Eu estava à espera que começassem a trabalhar a sério. Ó rais ta parta. Não ponha isso! Eu devia estar calada que nem um rato! Eu não estou a dizer mal do PM. Estou a dizer mal da conjuntura. Ai que coisa! Faz-me tanta raiva! A gente saber que tantas horas são perdidas! Que façam algumas perguntas, tudo bem!
- Ele não responde.
- Aquela frase do ministro que o Louçã perguntou e ele respondeu: “Mas isto é um interrogatório policial?”, pois não, não respondeu.
Saco dos meus conhecimentos:
- Foi a frase do Vieira da Silva...
Mas esqueci-me da frase. Só sei que tinha a ver com espionagem de Estado, acusação sobretudo contra o PSD, na pessoa da sua leader. Se o Primeiro Ministro tinha apresentado queixa às entidades judiciais.
- E pronto! E por causa daquilo que ele disse nunca mais se trabalhou. Só falta começarem a insultar-se com nomes daqueles em que a televisão terá que pôr piii.
- Então e aquela insistência do PM em falar nos 25 euros do ordenado mínimo! A cada orador exigindo respostas o PM disparava: “Pois! Mas do ordenado mínimo, não fala!?” Fazia lembrar as repetições obsessivas de algumas personagens cómicas do Molière, ditas mecanicamente, obstinadamente, reveladoras de monomanias resultantes de interesses que obstruíam qualquer outra ponderação sensata.
- Somos cómicos, sim! Só o Jerónimo de Sousa é que lhe satisfez o gosto, falando nos 25 euros como dado positivo do governo de Sócrates.
- Por isso foi muito elogiado pelo nosso PM. O pior foram outras acusações dele, merecedoras de repúdio.
- O que eu acho é que nunca mais somos governados assim!
- Não, nós estamos a ser desgovernados!
- Completamente! A situação é gravíssima! Ah! Mas os vencimentos destes novos ministros! É tudo gente que está a viver muito bem! Não são todos, mas a maioria está muito bem! Têm casas, ordenado fabuloso... A Alçada é a das que tem mais. Também é casada com um homem que ganha muito bem, da Gulbenkian, Rui Vilar.
- Como sabe tanta coisa?
- Tiveram que declarar os rendimentos. Ai, o Nosso Senhor protege os políticos!
- Mas há mais protegidos. Auto-protectores, muitos deles. É preciso saber, para se ser.

Nenhum comentário: