sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Somos todos mulherzinhas do Barba Azul

A curiosidade, quando excessiva, bem que trama toda a gente. É o nosso caso, o de pretendermos aceder às escutas dos telefonemas entre Sócrates e Vara, só para descansarmos a alma sobre alguma irregularidade cometida pelo nosso PM, que se fecha em copas e não responde às perguntas sensaboronas dos curiosos a respeito dos sucateiros. Ele é PM, não tem que responder. Para além de pronunciar ordens de um autêntico paizinho, do tipo de “tenha juizinho”, avesso às algaraviadas e exigências da nossa imaturidade, só tem que proibir que se escute ou se abra a porta do quarto escuro onde estão as mulheres que matou – figurativamente falando - por terem desobedecido às suas ordens de não abrir o tal quarto. Aquilo da sucata é um “ver se te avias” em rapidez e lucro. Por conta dos carros e electrodomésticos cujas prestações deixámos de poder pagar. Creio que o Barbe Bleue também trabalhava em sucata, de tal modo enriqueceu.
O mal é que a última donzela com quem Barba Azul casou, também curiosa, abriu a porta e descobriu o segredo. O quarto estava cheio de cadáveres das mulheres com quem ele casara e a quem sadicamente entregara a chavezinha do quarto da proibição. Bem se diz que a curiosidade matou o gato, neste caso as gatas do Barba Azul, que a recente esposa descobriu mortas, nem sei mesmo se embalsamadas por via da corrupção. Ficou esta apavorada, temendo pela sua sorte, mas a chavezinha do quarto ficou manchada de sangue que não conseguiu lavar, nem por um milagrezito a calhar. E o Barba Azul, entretanto chegado da sua sucata, descobriu o sangue da desobediência e quis punir. A esposa pede adiamento da partida para o além, para rezar, mas em vez disso, que era da qualidade do nosso Saramago, sobe à torre com a irmã, esperando a chegada dos irmãos salvadores, mais velozes e amoráveis que o Jeová da versão do nosso Nobel. Depois do suspense que o Perrault não deixou de criar, para mostrar quanto são importantes os irmãos salvadores, mesmo que não sejam nadadores, todos eles chegaram, pois, mesmo na hora H e mataram o patife do Barba Azul, que empalideceu totalmente, depois de morto, até mesmo a barba.
A viúva do Barba Azul teve riqueza em barda para distribuir pela família, ela incluída. Mas nós, mulherzinhas ou homenzinhos curiosos, não teremos chance. Que o nosso Barba Azul, mesmo falido, não entrega a chave nem por sombras, por muita curiosidade que manifestemos.
"Tenham juizinho!" , é a sua resposta paternalista à nossa indiscrição descabelada.

Um comentário:

Unknown disse...

Eu tenho juizinho, mas fecho-me em copas, que só nos saem duques...