Foi ao professor João Salgueiro que ouvi ontem, no “Prós e Contras”, a referência ao problema da gordura que se vai espalhando homogeneamente em todo o corpo. Ainda pensei que estivesse a sugerir qualquer tratamento à base de dieta ou de controlo massagista, dentro dos recentes conselhos de poupança alimentar ou energética para o país refazer as suas economias. Tratava-se, de facto de uma questão económica, mas era apenas uma imagem sobre o contributo de cada partido para aumentar a dívida – a gordura homogénea - sempre na expectativa de o caso se solucionar depois. Como disse o economista João Salgueiro, cada um contribui para a engorda – da dívida, neste caso – e “chuta para a frente. Rebenta no próximo”, afirmou nervoso.
Eram quatro pessoas entrevistadas por Fátima Campos, bastante sérias e atentas, entre as quais recordo o economista João Salgueiro e o gestor de empresas António Carrapatoso. Tratava-se do problema das finanças, daí a seriedade da preocupação.
Falou-se em falta de responsabilização, em descontrolo, em desperdício, em despesismo, em necessidade de encorajamento para a colaboração dos portugueses, de investimento nos transportes urbanos, de jardins de infância, de emprego em tarefas repudiadas pelos portugueses, actualmente mais desempenhadas pelos emigrantes, como agricultura e construção, de necessidade de exportar serviços de saúde, de ter uma agricultura exportadora, de ajudar a aperfeiçoar a pesca em vez de a liquidarmos, contrariamente aos Espanhóis. Enfim, ganharíamos em ter um Parlamento capaz, considerando-se o regime eleitoral insatisfatório. E impunha-se uma estratégia de formação dos dirigentes políticos.
Mas Portugal, nas perspectivas da OCDE apresenta um empobrecimento progressivo em relação aos outros países. Não haverá recuperação possível. Nem com aumento de impostos que essa é a única estratégia a que se costuma recorrer desde há séculos, o povo vergando, num país sempre deficitário, e especialmente nos tempos de agora.
Ninguém falou em devolução de dinheiros roubados, ninguém falou em racionamento de vencimentos de escândalo. Fá-lo a minha amiga, em constante rebelião contra o estado de sítio em que vivemos.
Lembrei-me então de um diálogo com a minha neta de quatro anos e sete meses, que veio cá ontem despedir-se porque ia passar uns dias a Trancoso, com os avós maternos e estava muito feliz, ao colo do avô paterno. Fiz uma cara de choro ciumento:
- Pois é, tu só gostas de ir para os teus outros vovós, porque têm piscina e campos com flores e couvinhas.
A Mafalda ficou surpreendida com o ataque. Mas como sempre, respondeu, não prontamente, mas depois de pensar:
- Ó vovó, é que o avô Ismael e a avó Sofia estão longe, não me vêem muitas vezes.
Concordei com a razão sagaz e retomei o riso da aceitação prudente.
Sim, há sempre uma justificação, encontra-se sempre uma solução. Mas é preciso reflectir primeiro, para que a resposta saia correcta em argumento e expressão.
Precisamos de reflectir na necessidade de interapoio, precisamos não de mergulhar em questiúnculas permanentes, em discursatas com muitos argumentos de ataques e contra-ataques, mas de procurarmos soluções. Junto de gente competente e séria.
Como o fizeram ateus e crentes, comunistas e democratas, monárquicos e republicanos, no tempo da Resistência em França, durante a Segunda Guerra, limando divergências, apenas unidos no amor da pátria, “la belle prisonnière des soldats”, contra o inimigo alemão sequestrador. Aragon o disse, no seu belo poema “La Rose et le Réséda”:
Celui qui croyait en Dieu
Celui qui n’y croyait pas
Tous deux adoraient la belle
Prisonnière des soldats
…
Qu’importe comment s’appelle
Cette clarté sur leur pas
Que l’un fut de la chapelle
Et l’autre s’y dérobât
Celui qui croyait au ciel
Celui qui n’y croyait pas
Tous deux étaient fidèles
Des lèvres, du cœur, des bras
Et tous deux disaient qu’elle
Vive et qui vivra verra...
Era necessário que também pensássemos na nossa « belle », para que os vindouros ainda a pudessem ver, sem vergonha dos seus antepassados de fresca data. Era necessário que deixássemos de contribuir todos para o engordamento da dívida, “chutando para a frente”, indiferentes ao “rebentamento no próximo”. Era necessário reflectir. E amar. “Des lèvres, du cœur, des bras.”
Eram quatro pessoas entrevistadas por Fátima Campos, bastante sérias e atentas, entre as quais recordo o economista João Salgueiro e o gestor de empresas António Carrapatoso. Tratava-se do problema das finanças, daí a seriedade da preocupação.
Falou-se em falta de responsabilização, em descontrolo, em desperdício, em despesismo, em necessidade de encorajamento para a colaboração dos portugueses, de investimento nos transportes urbanos, de jardins de infância, de emprego em tarefas repudiadas pelos portugueses, actualmente mais desempenhadas pelos emigrantes, como agricultura e construção, de necessidade de exportar serviços de saúde, de ter uma agricultura exportadora, de ajudar a aperfeiçoar a pesca em vez de a liquidarmos, contrariamente aos Espanhóis. Enfim, ganharíamos em ter um Parlamento capaz, considerando-se o regime eleitoral insatisfatório. E impunha-se uma estratégia de formação dos dirigentes políticos.
Mas Portugal, nas perspectivas da OCDE apresenta um empobrecimento progressivo em relação aos outros países. Não haverá recuperação possível. Nem com aumento de impostos que essa é a única estratégia a que se costuma recorrer desde há séculos, o povo vergando, num país sempre deficitário, e especialmente nos tempos de agora.
Ninguém falou em devolução de dinheiros roubados, ninguém falou em racionamento de vencimentos de escândalo. Fá-lo a minha amiga, em constante rebelião contra o estado de sítio em que vivemos.
Lembrei-me então de um diálogo com a minha neta de quatro anos e sete meses, que veio cá ontem despedir-se porque ia passar uns dias a Trancoso, com os avós maternos e estava muito feliz, ao colo do avô paterno. Fiz uma cara de choro ciumento:
- Pois é, tu só gostas de ir para os teus outros vovós, porque têm piscina e campos com flores e couvinhas.
A Mafalda ficou surpreendida com o ataque. Mas como sempre, respondeu, não prontamente, mas depois de pensar:
- Ó vovó, é que o avô Ismael e a avó Sofia estão longe, não me vêem muitas vezes.
Concordei com a razão sagaz e retomei o riso da aceitação prudente.
Sim, há sempre uma justificação, encontra-se sempre uma solução. Mas é preciso reflectir primeiro, para que a resposta saia correcta em argumento e expressão.
Precisamos de reflectir na necessidade de interapoio, precisamos não de mergulhar em questiúnculas permanentes, em discursatas com muitos argumentos de ataques e contra-ataques, mas de procurarmos soluções. Junto de gente competente e séria.
Como o fizeram ateus e crentes, comunistas e democratas, monárquicos e republicanos, no tempo da Resistência em França, durante a Segunda Guerra, limando divergências, apenas unidos no amor da pátria, “la belle prisonnière des soldats”, contra o inimigo alemão sequestrador. Aragon o disse, no seu belo poema “La Rose et le Réséda”:
Celui qui croyait en Dieu
Celui qui n’y croyait pas
Tous deux adoraient la belle
Prisonnière des soldats
…
Qu’importe comment s’appelle
Cette clarté sur leur pas
Que l’un fut de la chapelle
Et l’autre s’y dérobât
Celui qui croyait au ciel
Celui qui n’y croyait pas
Tous deux étaient fidèles
Des lèvres, du cœur, des bras
Et tous deux disaient qu’elle
Vive et qui vivra verra...
Era necessário que também pensássemos na nossa « belle », para que os vindouros ainda a pudessem ver, sem vergonha dos seus antepassados de fresca data. Era necessário que deixássemos de contribuir todos para o engordamento da dívida, “chutando para a frente”, indiferentes ao “rebentamento no próximo”. Era necessário reflectir. E amar. “Des lèvres, du cœur, des bras.”
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