sábado, 12 de dezembro de 2009

“Oropa” na nossa “Tristesse”

Falou-se do Victor Constâncio e da sua candidatura a vice-Presidente do BCE. Dizem os de cá de dentro que ele tem boa reputação lá fora, o Sr. PM reitera-o, o Sr. PR congratula-se, bem como os demais patriotas, que gostam de ver o bom nome da nossa Pátria tão bem projectado.
Só que a minha amiga não é a primeira vez que encara as inabilidades internas como ponto de referência para as habilidades ou sequer inabilidades externas. Basta que se portem mal cá dentro, têm garantida a passagem para céus europeus. É a sua convicção, explicitada com a truculência habitual. E lembrou a propósito um empresário em Quelimane, dos ricos, que ao fim de cada ano de lucros, obtidos com o trabalho e a eficiência, como era usual naqueles tempos de maior rigor, e mesmo de melhor democracia, costumava dizer: “E agora, vou p’r’à “Oropa”, a férias”. Parece que ficou na lenda, nas risadas gerais, acompanhando o O que a minha amiga reproduziu vivamente com os dedos polegar e indicador, ao mesmo tempo que pronunciou a frase do conhecido empresário: “Vou p’rá Oropa”. Ri-me também, mas considerei que nem todos vão para lá. Ficam por cá em “Oropas” empresariais, e é vê-los aumentar os rendimentos pessoais que às vezes vêm a lume nos jornais indiscretos, provando que agora vigora sobretudo um regime egocrático, protegido numa rede paralela de empenhocracia.
- Estamos tramados! - considera a minha amiga, tristemente, passado o momento divertido do episódio “oropeu”.
Mas eu ontem também tinha ficado escandalizada com a transmissão da entrega do prémio Nobel da Paz a Barack Obama, e disse-o à minha amiga.
Foi em Oslo que o recebeu e nele admirei a cabeça ligeiramente inclinada sobre o seu lado direito, em nobre manifestação de atenção delicada ao discurso do orador, e de superioridade natural, resultante da sua condição de Presidente do mais importante país da Terra.
Pois os dois comentadores invisíveis da Sic, jamais se calaram, em grande dispêndio de dados, a que ninguém conseguia prestar atenção, na expectativa da tradução dos discursos que, naturalmente não se fizeram, por ser em directo.
E nem mesmo aquando do concerto final ao piano por um jovem chinês, se calaram com respeito. Creio que consegui perceber que se tratava da “Tristesse” de Chopin, mas só ouvia o martelar de vozes na Sic, sobrepondo-se ao momento musical.
Esse, recuperei-o pela Internet, na execução de uma jovem também chinesa, e igualmente pela bela voz de Tino Rossi, nas melancólicas palavras de um Amor que se vai, tristemente, tal como a Paz , que se deseja em vão:
« L’ombre s’enfuit, tout n’est que songe
Et tu n’es plus, malgré tous nos désirs,
Qu’un souvenir ».

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