quinta-feira, 24 de março de 2016

Atropelar a Justiça mas com a virtuosa consciência do pecado




Leio, no DN de 20/3, numa página, aliás, duas, toda dedicada ao caso Lula-Dilma, um artigo de opinião de Viriato Soromenho Marques que me pareceu uma expressiva resenha histórica sobre o poder judicial e a sua importância no comando das nações.
O primeiro nome que me acudiu à mente foi até um das palavras cruzadas – AOD, juiz de Israel – e recordei a seguir algumas práticas de julgamento do passado histórico, mas só depois de mortos os homens, como as do tribunal de Osíris, antes de os corpos embalsamados serem enfiados nos mausoléus. Também me lembro de Minos, um dos deuses do inferno, mas grego, creio que também das palavras cruzadas, sendo a balança um instrumento simbólico da Justiça, deusa romana de olhos vendados, Dikê, a sua representante grega, de olhos bem abertos e espada vingadora.
 Isso me levou à Epístola de S. Paulo aos Romanos, que procurei na Internet, segundo  Martinho Lutero, “a mais importante peça do Novo Testamento. É o mais puro Evangelho. Vale a pena para um Cristão não somente memorizar palavra por palavra, mas também ocupar-se com ela diariamente, como se fosse o pão diário da alma", escreveu Lutero.
Da Internet  transcrevo, pois:
«Os católicos aceitam a necessidade da para a salvação, mas apontam para Romanos 2:5-11 para a necessidade de viver uma vida virtuosa e praticar as boas obras, assim:[9]
«Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus, o qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber, a vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção, mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes a verdade e obedientes à iniquidade, tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego, glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego. Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas.

A interpretação protestante é mais objectiva, mais dirigida ao homem terreno, sobre a necessidade de praticar o Bem, não em função da Vida Eterna, mas por respeito por si próprio,  como ser com valores, condenando as suas contradições entre os seus ensinamentos e as suas práticas, como se diz que fez S. Tomás. Isso nos diz muito sobre as diferenças de comportamentos entre católicos e protestantes:
«Eles também apontam para os escritos de Romanos 2:21-25:
«Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, cometes sacrilégio? Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?» »

Mas leiamos o artigo de Viriato Soromenho Marques, sobre os pecados brasileiros e os seus juízes, antecipados por doutas referências históricas sobre os abusos do poder da “justiça”:

O mito da república de juízes
DN, 20 DE MARÇO DE 2016
Viriato Soromenho Marques
Num artigo publicado em 1788, em defesa da Constituição dos EUA, Alexander Hamilton (1755--1804) salientou algo que hoje, a propósito do Brasil, como ontem, a propósito de Itália ou de Espanha, muitos comentadores esquecem: "O poder judicial não tem influência nem sobre a espada nem sobre a bolsa (...) e até para a eficácia dos seus julgamentos depende da ajuda do poder executivo." Os juízes não mobilizam exércitos nem lançam impostos. Falar em república de juízes é um disparate. A primeira coisa que os atuais governos "democráticos" da Hungria e da Polónia fizeram foi amarrar os tribunais. Poderemos condenar algumas atitudes de juízes brasileiros envolvidos no Lava-Jato, mas escandaloso seria impedir que a verdade da corrupção política fosse revelada. A divulgação da conversa telefónica entre Dilma e Lula pode ser discutível, mas o que é inaceitável é ver Lula entrar no governo Dilma para neutralizar as suspeitas que sobre ele incidem. A história mostra que, na maioria das vezes, os juízes não passaram de instrumentos dóceis dos chefes de governo. Veja-se as imagens do infame juiz Hans Rehse, do Volksgerichtshof nazi. Ou os abomináveis algozes dos Processos de Moscovo. Nas raras democracias é diferente. As instituições e as leis prevalecem sobre o carácter e a vontade dos homens. No Supremo Tribunal dos EUA, que obrigou Nixon a demitir-se devido ao caso Watergate, três dos nove juízes haviam sido nomeados pelo presidente, incluindo o juiz presidente, Wiliam E. Burger. Mas não foi isso que impediu a justiça de ser servida. Os juízes partilham os defeitos da nossa imperfeita humanidade. Mas não é Sérgio Moro quem está a querer incendiar o Brasil, só para esconder os abusos que a "influência sobre a bolsa" pública permite.

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