Mais um artigo assustador de Vasco
Pulido Valente – Mais baralhadas – Público, 26/2/16 – em que
ataca a oposição pelo alarido à volta de um hipotético Plano B, necessário para
o caso de Bruxelas não aceitar o “Plano A” do Orçamento proposto por António
Costa. Porque Vasco Pulido Valente não tem dúvidas sobre a existência do Plano
B, pois que as exigências caprichosas de reformas várias feitas pela esquerda
insaciável - para mostrar um bom trabalho de preocupação pelas classes
desprotegidas - sem olhar a meios nem a
compromissos, coisa irrelevante para ela - levarão ou ao impasse com Bruxelas
ou ao impasse com o acordo à esquerda.
António Costa, no entanto,
parece feliz ao lado do seu ministro Centeno, e mastiga, na sua boca empapada
em regozijo, promessas de uma economia
progressivamente em ascensão. Nós só desejamos acreditar, capuchinhos vermelhos
no espanto da enormidade de certos traços fisionómicos do lobo feroz.
Mas a conclusão da história é
vária. E o mais natural, quanto a mim, é que o caçador não apareça, ele próprio
esmorecido em debilidade, para retirar a avozinha e a neta do ventre do lobo,
também esfaimado, que as tragou.
Mais
baralhadas
Vasco
Pulido Valente
O alarido que a oposição está a
fazer para que o PS revele o Plano B do Orçamento é inteiramente absurdo. Toda
a gente tem sempre um Plano B para tudo o que faz. Se desconfia do tempo, leva
um guarda-chuva. Se pensa que vai ter calor, deixa a camisola no carro. Se
desconfia que não vai acordar a tempo, põe um despertador. Só o dr. Cavaco, que
nunca se enganava e raramente tinha dúvidas, não se preocupava, para o mal dele
e para o nosso, com o plano B. Claro que há um plano B para o Orçamento do PS,
sugerido ou não sugerido por Bruxelas. Se não houvesse, António Costa seria
absolutamente louco e não devia estar em S. Bento, devia estar num manicómio. A
importância que a direita deu ao caso só mostra a desorganização e vácuo
intelectual da dita direita.
Tanto mais que essa mania frívola, e se me permitem,
estúpida, impediu que ela visse o que estava à vista: que o Orçamento do PS não é de fiar.
A extrema esquerda começou, mas não acabou, a sua lista de exigências. O PC e Bloco
informaram a Assembleia disso com a maior clareza. E, cá fora, a CGTP também. Só
Deus sabe a que disparates o zelo do radicalismo nos vai conduzir. Já se fala
em nacionalizar o Novo Banco (com a bênção do reverendíssimo Vítor Bento); já
se fala em estender a ADSE à família dos funcionários públicos (mulheres,
maridos, filhos vivendo em casa com menos de 30 anos); já se anunciou até a
nomeação de 90 inspectores para liquidar de uma vez o trabalho precário. Esta
corrida não acaba antes de Portugal inteiro ficar devidamente subsidiado e
falido.
A direita mal abriu a boca sobre o problema essencial do
Orçamento. O problema do Orçamento não vem do que lá foi escrito e votado
pela Assembleia da República, vem de quem o propôs. Parece que o primeiro
ministro, com o peso da sua rotundidade crescente, pede confiança: o que em
princípio não seria completamente despropositado. O pior é que a pede também
para o PC e o Bloco que não a merece e nunca a ganharão. O cidadão vulgar
quer poupar para a trapalhada que se anuncia ou arranjar maneira de proteger o
seu dinheiro, se por acaso ainda lhe sobrou algum. Ninguém pensa investir um
tostão em nada sob o alto patrocínio da sra. Catarina Martins e do camarada
Jerónimo de Sousa. E aqui, como lá fora, as pessoas tremem. Com razão.
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