Numa das muitas antologias literárias que me passaram
pelas mãos, fixei a quadra inicial de um poema mais ou menos narrativo de António
Feliciano de Castilho, sobre uns amores de dois adolescentes, “cena Romeu e
Julieta estás a ver?” – amores proibidos pelos respectivos progenitores – mas
terminando alegremente com a perspectiva da destruição da sebe das roseiras para
um final feliz («Mas queiras tu, queira eu…» - creio que assim começa a
última quadra, sem que me lembre do resto, que, com grande pena, não encontro
na Internet, e há muito perdi o rasto da antologia antiga, Castilho naturalmente
arrumado dos programas escolares, como objecto de curiosidade, quando muito referido de passagem por conta da Questão
Coimbrã, polémica que marcou uma viragem literária, contrária certamente a uma
sua literatura mais ou menos artificial, apesar da graciosidade de alguns
quadros bucólicos que descreveu, como o poema que a Internet revela “Treze
Anos”: “Já tenho treze anos /Que os fiz por Janeiro/ Madrinha casai-me /
Com Pedro Gaiteiro” ). Começava assim o poema de Castilho, de que me
lembrei a propósito da Quadratura do Círculo desta semana:
Há entre os nossos
quintais
Duas sebes de roseiras
Foi posta por nossos
pais
Para servir de
fronteiras.
Na verdade, a imagem da sebe me veio à ideia - a “cena”
dos muros sendo demasiado pretensiosa no caso presente - com Pacheco Pereira a
convidar os amigos das disputas habituais a irem abrir os três a janela diante
do mar, para a lufada de ar da maresia, após as informações esplendorosas de
Jorge Coelho de que o investimento se vai mesmo realizar em Portugal - com a
injecção de capital exterior para isso - o que, aliás, explica a alegre
confiança e ironia de António Costa contra os do Restelo que lhe desfazem na “geringonça”,
desconhecedores da injecção, ao contrário de Jorge Coelho, que a conhece e sabe
dar valor às carências nacionais, condenando decididamente as políticas
anteriores de Passos, (esquecido dos condicionalismos em que navegava a nau
deste).
Mas, retomando a sebe, de facto, existe uma entre os
três da quadratura, não por oposição de parentes contrariados, mas por incompatibilidades
próprias, resultantes das ideologias pessoais, sebe, aliás, bastante florida de
rosas também, os espinhos, quando eriçados, logo retomando os punhos de renda
das civilidades, que se me perdoe o surrealismo da imagem. Mas nunca, como
hoje, a sebe fora tão esplendidamente anulada, no geral regozijo que sucedeu à
informação do opositor socialista, adepto inquestionável das virtudes
governativas de António Costa.
O debate hoje iniciou-se a respeito da escaramuça
altissonante causada pela proposta do Bloco de Esquerda de taxar o imobiliário
com que os ricos disfarçam a sua riqueza escondida nos tais paraísos fiscais, isenta
dos impostos pátrios, e criando nessas mansões o seu próprio paraíso vivencial,
saboreando da pátria o bom clima e o saboroso alimento, que ainda é o que se
leva desta vida, além da brincadeira, ai, ai. É claro que os ricos não gostaram
da graça e António Costa teve que pôr água na fervura, explicando que não era
tanto assim, como o Bloco dizia que queria que fosse, com Mariana Mortágua a
explicar e dizendo verdades muito justas e muito sentidas que, de resto,
Pacheco Pereira, que não perde a ocasião de cascar em Passos Coelho, apoiou, afirmando que o que ela disse já
Passos o propusera, bem claro - taxar as casas dos ricos, por conta dos
dinheiros resguardados fora, para buscar as côdeas dos remendos pecuniários de
que Costa precisa para o seu acordo com Bruxelas, para Bruxelas não se zangar
connosco, continuando a servir-nos e a taxar-nos, como é justo, mas cada vez
mais excessivamente, por conta da insignificância dos investimentos cá.
Não importa continuar o relato sobre os temas
disputados na Quadratura, cada um a seu modo, com a perspicácia e a orientação
específicas, Pacheco Pereira, como sempre lançando as garras (linguagem
surrealista) sobre o pobre Passos Coelho, com pano para mangas, secundado desta
vez por Lobo Xavier, por causa do tal livro que se comprometeu a apresentar mas
de que se escusou posteriormente, o que também lhe não é perdoado, no empolamento
da moralidade para os bons costumes.
Quanto a Jorge Coelho, gostei que se escusasse à lavagem da roupa suja, e em
vez disso tirasse o tal coelho da cartola, a respeito da veracidade dos
investimentos, como bom prestidigitador, o que fez terminar o debate sem sebe e
com o perfume da maresia, sugerido por Pacheco Pereira.
2 comentários:
Gostei. Grande abraço de saudades Dona Berta Brás. Cumprimentos. Casimiro Rodrigues
Desculpe, sr. Casimiro Rodrigues, ficou em duplicado e não sei apagar Também tenho uma grata lembrança de si. Obrigada e um abraço. Berta Brás
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