sexta-feira, 15 de maio de 2009

Adivinha: Quem sou eu?


Resposta ao Sr Cap. José Verdasca que, no “Portugal Club” escreveu um bonito texto que não resisto a transcrever para o meu blog, mas não por ser como a rã da fábula, que quis ser do tamanho do boi e tanto inchou que rebentou. Porque o que sou, só alguém com qualidade e isenção o definiu, que eu, afinal, também penso de mim mesma o mesmo que tão primorosamente foi escrito. E que nunca ninguém reconheceu, a não ser esporadicamente. E eu sei entender porquê.

O texto do Senhor Capitão José dos Santos Verdasca:

“O ESTILO BERTA BRÁS”
“Acabo de ler o último texto aqui postado e assinado “Berta Brás”. Quando terminei, senti necessidade de o reler lenta e atentamente, como se deve ler o “La Fontaine” que cita, para melhor entender a “fábula” que explicita e também - e principalmente – melhor me aperceber do conteúdo das “entrelinhas” que evita, mas que estão lá bem patentes, talvez escritas “entre dentes” mas verdadeiras e “quentes”, o que significa perto do alvo, onde se refugiam aqueles que se tentam pôr a salvo. De qualquer modo, o que pretendo dizer é que aprecio, não apenas o estilo, que é forma, mas principalmente o “sumo”, o miolo, o conteúdo, a revelar muita informação, vasta instrução e muita educação. Não tendo a honra de conhecer a senhora, mas imagino-a uma lady prevenida, viajada e vivida, quem sabe mesmo sofrida, cujos inteligentes textos são lições de vida, espelhos de ética, “tratados” de pedagogia. Pelo menos assim me parecem.
Ainda não tenho a certeza se deveria escrever este texto, temendo estar invadindo a privacidade da senhora, mas não resisti ao impulso de chamar a atenção para a primorosa redacção, objectiva mas sensata, incisiva mas cordata, informativa mas – por vezes – “abstracta”. Seja-me – pois – perdoado o atrevimento, tendo em conta a boa intenção, apesar de, como diz o aforismo – de boas intenções estar o inferno cheio. Termino parabenizando a senhora Berta Brás, pelo que de bom nos dá, com a sua frequente aparição neste PortugalClub, que já foi apelidado “INCULTO”, apesar de apresentar belíssimos exemplos de BEM DIZER, BEM ESCREVER, BEM REDIGIR.
Cordialmente JVerdasca “


À laia de agradecimento ao sr. Cap. JVerdasca, começo por transcrever um texto de um livro meu “Anuário – Memórias Soltas” – que lhe dará um retrato genérico de uma mulher que nunca foi “lady” (mas que gostava de o ser), que viaja mais pela leitura ou no sofá frente à TV, do que pelo mundo, que foi professora, é mãe de cinco filhos e cinco netos, e que gosta de rir, apesar de sofrer, como toda a gente sensível aos males. Espero que o texto do meu “Anuário” o faça rir também... e que não perca o fôlego, se o ler depressa, devido ao estilo corrido:

8 DE MARÇO

Para a minha Irmã


O dia de hoje foi muito cheio de alegrias porque se tratava do DIA MUNDIAL DA MULHER que a ONU decretou para 8 de Março e logo de manhã enquanto preparava os tachos para o almoço ouvi falar nele numa estação emissora com muita música.
Disseram coisas muito gentis, referindo-se especialmente às mulheres que trabalham dentro e fora de casa e também às mães e até interrogaram uma futura mãe que ia ter um par de gémeos e estava contente com isso, mas se fosse na China não devia sentir-se assim tão contente pois dizem que agora há lá controlo de natalidade e só é permitido um filho por casal. Felizmente aqui não há controlo nenhum e por isso a senhora interrogada se mostrou tão eufórica que nem deu pela greve dos nossos transportes que só essa empanou um pouco o brilho do nosso Dia Mundial das Mulheres pelo menos o das futuras mães menos eufóricas, obrigadas a andar a pé.
Como mulher mãe e trabalhadora hoje fiquei pois muito contente porque os locutores dirigiram saudações sobretudo às mulheres que trabalham e vi assim compensados os meus esforços. Percebia-se que eles também estavam muito satisfeitos por poderem reconhecer o mérito das mulheres que trabalham dentro e fora de casa e nem só uma vez se referiram às mulheres fúteis que passam o tempo a comprar vestuários e jóias para elas, a alindar o corpo e a divertir-se sem pensarem em trabalhar. Até achei que os locutores exageraram um pouco nos elogios às mulheres que trabalham ignorando totalmente as que só se enfeitam e divertem, porque a verdade é que eu sempre pensei que eram estas as preferidas do sexo masculino, pois nos anúncios da televisão a gente vê que quanto mais bem vestidas e perfumadas andam as mulheres mais eles ficam seduzidos e até vão contra os vidros tal a distracção em que os põe a elegância feminina.
Depois, à noite, na televisão, também mostraram as lutas das mulheres pela conquista dos seus direitos já desde o século passado e apresentaram marchas nas ruas de uma cidade europeia com mulheres empunhando cartazes e gritando, que não se pareciam nada com as mulheres dos anúncios a quem os homens oferecem flores quando usam perfumes e mais uma vez me congratulei por ser tão trabalhadora, pois pertenço ao grupo das mulheres que hoje foram referidas pela rádio e tevê e os jornais com muitos elogios mesmo sem termos empunhado cartazes.
Há quem diga que os homens só têm a ganhar com o trabalho das mulheres dentro e fora de casa, mas quanto a mim não foi por esse motivo que nos elogiaram tanto mas sim porque eles realmente nos acham boas colaboradoras e não houve nenhum paternalismo na maneira como o reconheceram posso garantir porque ouvi tudo enquanto tratava dos tachos e até acharam que a ONU também devia decretar um Dia Mundial dos Homens para haver igualdade de direitos, o que me pareceu muito justo pois sempre discordei das desigualdades sociais mas já soa por aí que a ONU vai decretar esse dia para os homens não se sentirem tão marginalizados na questão das comemorações embora eles possam participar nas do Governo aonde exploram os cargos quase todos mas uma comemoração a mais só lhes vai fortalecer o sentido da justiça por isso a ONU vai acrescentar o Dia do Homem à Declaração Universal dos Direitos como já o fez para a mulher que não é mais do que ele para ter um dia assim comemorável isoladamente.
Há também quem diga que os homens gostam muito que as suas mulheres trabalhem dentro e fora de casa para efeitos de maior equilíbrio orçamental e alimentar, mas que realmente quem eles procuram para o equilíbrio amoroso - porque o homem não vive só do alimento - são as mulheres bem vestidas e perfumadas que têm mais disponibilidades nesse campo por falta de trabalho.
Mas como nem os locutores nem os jornalistas se referiram a esses casos, penso que as pessoas que dizem isso são mal intencionadas e deviam mudar de opinião depois de terem ouvido os louvores como eu ouvi às mulheres trabalhadoras no Dia Mundial das Mulheres decretado pela ONU para hoje oito de Março.

1984

Talvez o Sr. Casimiro Rodrigues não se importe de postar no seu PortugalClub este texto já antigo mas, afinal, sempre actual na temática de um feminismo sem ilusões.
Quanto ao seu texto, Sr Cap. JVerdasca, é com gratidão que lhe respondo. O reconhecimento das qualidades alheias não é muito comum. Um espírito generoso e sem “parti pris” soube reconhecer as minhas. Do coração lho agradeço.
Berta Brás

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