quarta-feira, 13 de maio de 2009

“Estão verdes”

Dois sentimentos opostos se me albergaram no espírito, ao ouvir hoje o noticiário das treze: de alegria e de tristeza. Alegria, por verificar que afinal não há grande diferença entre os homens, quaisquer que sejam a sua nação, credo político ou religioso, bem-estar ou penúria material ou intelectual, e que foi ingenuidade minha supor o contrário. Foi isso quando ouvi que os participantes da governação inglesa todos eles abusaram dos dinheiros públicos para refazer as suas piscinas ou viajar na Terra. Tal como os nossos, e isso me fez regozijar-me por não sermos únicos nesses actos reprováveis, segundo o meu conceito, que reconheço agora bastante rígido, porque os povos com mais posses materiais e espirituais os cometem também.
No entanto, a esse sentimento positivo para a minha auto-estima, em que as psicologias de agora fazem tanto finca-pé, seguiu-se, de imediato, a reacção oposta, de tristeza, confesso que acrescentada da negra inveja, porque alguns dos ministros e deputados não se ralaram nada com as acusações e prometeram desportivamente devolver os dinheiros usados indevidamente, que no seu caso foi de libras, por conservadorismo, orgulhosamente britânico, de não adesão aos euros da uniformidade continental.
Os nossos do governo e seus aderentes, que também sempre usaram e abusaram dos tais dinheiros públicos, como se tem visto ao longo destes anos todos, não só na sua envergadura exterior bem apessoada, como na frota transportadora topo de gama com que o governo lhes complementa o vestuário e a distinção, como também nos tais arranjos domésticos, ou nas passeatas pelo mundo que fazem, ou mesmo na deposição dos ditos dinheiros, de que tanto se fala, nos tais sítios paradisíacos para a fiscalidade, pois os nossos não prometem devolvê-los, sem desportivismo nenhum, como os seus irmãos em competências, do governo britânico. Vê-se que o dinheiro é o grande motor das suas ambições e têm razão nisso, mas deviam reconhecer o erro da sua extorsão e não o fazem, o que me entristece e envergonha.
Por isso olho com pesar as figuras sorridentes dos outros, tal como a raposa que não pode apanhar as uvas da latada, e limito-me a justificar o facto com os cães da desculpa raposina. Não são para nós gestos assim.

Nenhum comentário: