domingo, 31 de maio de 2009

A balda da educação

Começou muito antes do 25 de Abril, sim - respondo ao comentário de Gregório Matias, sobre o papel de Veiga Simão na unificação dos ensinos. O jogo das democracias estava em efervescência, na conquista das liberdades e dos direitos – menos dos deveres - segundo a cartilha do “Maio de 68” e Veiga Simão surgiu como reformador, que até favoreceu o alargamento das estruturas do ensino, possibilitando, e tal me parece positivo, a sua liberalização, em termos de correspondência, por exemplo – (para efeitos de formação universitária dos Técnicos) - entre as Secções Preparatórias dos Ensinos Técnicos e o Terceiro Ciclo Liceal, constituído pelos 6º e 7º anos de então.
Todavia, a massificação democrática do ensino, sucedânea ao 25 de Abril, com o desaparecimento simultâneo do ensino técnico, adulterou por completo o sentido pedagógico da “Educação”, transformada em pura farsa, com a desautorização do papel do professor e o laxismo despudorado e acéfalo das actuações discentes.
Foi isto no início da revolução, em que, à semelhança do que sucedia nas diversas estruturas profissionais, onde imperavam as ambições promocionais segundo a lei do menor esforço, os meninos de então, papás dos de agora, ingressaram facilmente nessas políticas permissivas que lhes exacerbavam adolescentes rebeliões, favorecendo as ambições de atingir mais facilmente as suas metas, secundados por alguns professores camaradas que, movimentando-se bem na onda sísmica da revolução, semeavam indescriminadamente altas notas para os ajudar a vencer o ano e a conquistar o ensino universitário.
O estado caótico no ensino foi-se mantendo devido a políticas educativas que nunca desejaram repor a disciplina, tanto ao nível dos alunos como dos professores, a quem não se exigiam responsabilidades de presença, partindo de um princípio, talvez, de confiança no profissionalismo e dignidade de cada um. E - com muitas excepções, é certo - julgo que a maioria dos professores cumpria, como lhe competia, e um certo bom senso acabou por se impor. Mas a tarefa docente estava eriçada de espinhos, com a falta de respeito e a insolência de alguns alunos, em casos pontuais.
Entretanto, programas e metodologias iam adaptando-se aos ventos da modernidade, e os livros por onde se estudava apareciam recheados de maior ou menor informação, nem sempre primando pelo bom senso. (Não assim na disciplina de Português, cujos livros recordo com prazer, na sua factura técnica e formativa cuidada, auxiliares prestimosos da formação dos alunos e dos próprios professores, que mais do que nos meus tempos de aluna, estavam - estão - recheados de textos informativos e questionários descodificadores dos valores semânticos e formais dos textos - literários ou não - em estudo).
Até que ingressámos num governo de estranha prepotência e visão prática pouco esclarecida que se permitiu manipular a nação a seu bel-prazer, em arremedos de trabalho e realização que esconde tanto da perversão dos manipuladores, os quais se permitem destruir o espaço em que se movem, a língua em que se exprimem, a população que desejam dominar, estendendo-lhe a côdea, em aparência de sensibilidade social, sem deixar, entretanto, de reservar para si e os amigos o miolo, como troféus devidos, numa rede mais e mais alargada de maquiavélicos desvios, de corrupção e falcatrua.
No caso do ensino, a violência do acréscimo burocrático, com que o Ministério se permite manipular os docentes, reduzindo-os à condição de robôs sem vontade nem capacidade próprias nem sensibilidade – e é de crer que nem saúde - não interessado no aspecto formativo dos educandos, mas na apresentação de números de sucesso, que nos tirem da cauda das nações europeias, tal absurdo de violentação – e de violação - chega a ser patético na sua indignidade sem precedentes.
Mas tudo isto era de prever, que os governantes de agora pertencem bem à geração dos cravos que os promoveram.

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