quinta-feira, 7 de maio de 2009

“Um País ingovernável”

O Dr. Alberto João Jardim usou a expressão, mas enganou-se em parte. Não é só o país que é ingovernável, faltam-lhe também bons governantes. Governantes exigentes de lisura, de ordem, de esforço em função da colectividade, exigentes também de uma colectividade que respeite a ordem, a honestidade, que trabalhe e produza e seja compensada por isso. Tudo o que não temos. Não se pede uma sociedade manietada, mas uma sociedade esclarecida, firme e disciplinada.
Já tivemos uma sociedade mais disciplinada, mas nem sempre tratada com a consideração igualitária que merece todo o ser humano, porque permitimos a desigualdade.
Quando, quase diariamente, assisto a um programa na TVCinq – “Questions pour un champion” – maravilho-me com a tessitura humana que por ali aparece – alunos, professores, profissionais de altos estudos, é certo, mas também outros de profissões com menor exigência intelectual e que participam e até ganham, como os outros. Porque não se limitaram a fazer o pão ou a construir as ruas e os jardins, nas suas vidas. A sociedade culta em que se inserem força-os a participarem nela de uma forma esclarecida em autodidactismo ou integrados em cursos que os valorizem. E a Larousse contribui com a difusão de obras que dali escorrem, fertilizando o “solo” pátrio.
Tudo o que não temos. Não temos "Larousses" beneméritas, ainda que subsidiadas, e os nossos reformados – quantos reformados aparecem a concorrer, no concurso do Julien Lepers! – mas a maioria dos nossos, a gente vê-os nos bancos dos jardins, em grupos ou isolados, arrastando a sua solidão, sem sequer um rádio ou um jornal consigo, a esclarecê-los sobre o mundo que os cerca, vegetando, como os cães que por lá giram. Contudo, a nossa sociedade elegante, pedante e fútil, não melhora o nosso “visual”. E quando se ouve falar nas tais “derrapagens” de custos de obras que triplicaram em relação ao projectado, sentimos a vergonha da nossa incapacidade, onde só imperam a incompetência, o compadrio e a trafulhice. Mas quando os nossos governantes também estão marcados por idênticos desmandos, perdemos a esperança, embarcados nos princípios de que só os “chicos espertos” é que se “safam” aqui.
Porque os que se esforçam e são diferentes – que tantos são, felizmente – nem por isso os reconhecem, nem talvez eles desejem ser reconhecidos, limitando-se a cumprir como lhes foi ensinado segundo os parâmetros da tal lisura.
Num país assim ingovernável, porque também não tem quem o governe, talvez nos fizesse dar uma reviravolta, todavia, um governante estrangeiro, mais rígido e esclarecido, que impusesse regras e exigisse o seu cumprimento. Tal como fez a TAP, ao deixar-se administrar por um brasileiro. Façamos como a TAP, passemos a pasta. Ainda que temporariamente. Porque blocos centrais a governar não serão mais que outro meio de uns tantos “enfardarem”, segundo os critérios de sempre.
À maneira da interrogação ansiosa do nosso António Nobre, na espera mágica da sua “Purinha”, assim vivemos nós, pois, os "Velhos do Restelo", e certamente os que foram despejados dos seus empregos, na espera do “Desejado”, do que nunca veio, mas que poderá ainda vir, mesmo com a névoa da lenda:
“Meninas, lindas meninas!
Qual de vós é o meu Ideal?
Meninas, lindas meninas
Do Reino de Portugal!”
Para isso, passemos a pasta a alguém lá de fora, que tenha cabeça e critério e nos ensine como deve ser. A ver se dá. Podia ser que desse.

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