sexta-feira, 15 de maio de 2009

Os excursos da nossa governação


Venho agora das compras, onde costumo ir com a minha amiga Ilda. Ainda ontem, vergadas ao peso dos sacos do Pingo Doce, considerávamos quão pouco tempo nos resta para entrar no rol das octogenárias, e interrogámo-nos sobre a hipótese de nessa altura os ossos – mais os meus do que os dela - ainda nos possibilitarem os odisseicos excursos com os sacos do nosso descontentamento.
Nem sempre, contudo, mergulhamos em coisas comezinhas. Também a intelectualidade despretensiosa esfuzia nos nossos discursos de exaltação. Como ela está sempre em protesto, já que lê mais jornais e ouve mais programas do que eu, que sou, aliás, de índole mais passiva, dá-me muitas vezes o mote para eu esbater ao computador o nervoso causado pela nossa actuação política interna e externa. Aliás, nesse ponto, também devo prestar homenagem ao meu marido que, esse sim, lê as notícias à boa maneira portuguesa - e não só aos domingos como referiu Sttau Monteiro, enquanto a mulher se esfalfa nas lides que lhe foram distribuídas, por debilidade - mas diariamente, que diariamente compra o Diário de Notícias e aos fins de semana o Expresso, inspirando-me temas e sugerindo as soluções do nosso bom senso comum de dois.
Mas hoje, as nossas conversas ao café, já arrumadas as compras na bagageira, versaram, entre outras, sobre os motivos do desacordo da Ilda - o nosso Presidente da República e os seus discursos de “Josezinho” simplório, que explica o seu “emploi du temps” nos passeios à Turquia onde já em tempos tinha ido com a família e os amigos, e onde, enquanto ele se entrega, no presente excurso, às altas reuniões de negócios turcos a obter, permite à esposa que faça as compras para os presentes para a família, não pagas com multibanco, note-se, mas mesmo com euros à vista, expressivos de comedimento económico e oportuno sentido da crise.
Eu, que em tempos admirei bastante o Dr. Cavaco Silva, quando ele era mais discreto em referências pessoais, logo o defendi, todavia, e achei que, pelo contrário, os excursos dele não diferiam dos nossos, sobretudo no que concerne o viajar de carro e o carregar dos sacos, que até nos aproximava humanamente da nossa Primeira Dama, a qual também os carrega, fazendo reverter sobre nós uma aura nobilitante, motivo mais que suficiente para a nossa ufania.
Quanto aos excursos do Engenheiro José Sócrates à Madeira, igual motivo de condenação da minha amiga, por lhe parecer humilhante a sujeição do nosso Primeiro Ministro a alguém que tanto o tem desfeiteado, encontrei igualmente motivos para a sua defesa - o profundo amor à Pátria que revela, pela difusão da cultura magalhanense, e pelo estreitamento dos laços que não deixarão de se verificar, eliminando tensões, certamente com a oferta de lindas flores do jardim madeirense, que vão, sem dúvida, contrapor-se aos sapos vivos que o nosso corajoso Ministro vai ter que engolir no seu excurso insular. O que lhe vale é que ele não se rala muito. Ou não se chamasse Sócrates.

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