Falámos de formas de governação a propósito do 5 de Outubro, e a minha amiga perguntou-me se preferia a Monarquia ou a República. Nunca vivemos na monarquia, mas lembrei que também aquilo lá não devia ser pera doce, que os reis, muitos deles, pouco se ralavam com os que trabalhavam para eles. E era geralmente o povo que alombava com os “carregos”. Até mesmo em França isso se passava, senão não tinham feito a Revolução que nós imitámos quase dois séculos depois.
Recordei mesmo uma fábula, a propósito, do La Fontaine, que, de resto, a atribuiu já a Esopo, prova de que vêm de longe e de sempre as discrepâncias sociais. É a fábula do lenhador que, “sous le faix du fagot aussi bien que des ans” ( e chamei a sua atenção para o ritmo quadripartido e aliterativo do alexandrino, a traduzir a marcha esforçada do pobre do lenhador, velho e a transportar o pesado molho de lenha), o qual, às tantas, em desespero de causa, atira o molho ao chão, queixa-se da sua miséria familiar, com impostos à mistura e muitas penas, de tal forma que chama a Morte. Mas quando esta surge, rápida no atendimento, o lenhador pede-lhe apenas ajuda para repor o molho às costas.
Por isso, temos que concluir com os fabulistas: “Le trépas vient tout guérir, / Mais ne bougeons d’où nous sommes. / Plutôt souffrir que mourir / C’ est la devise des hommes” e usá-la só como recurso poético ou fictício, em acidente de perturbação momentânea.
Não, os nossos reis semearam muito pouco bem-estar, a estruturação social permitia que eles fossem os maiores, o clero, a nobreza, tudo sobrecarregou o povo pesadamente e estupidamente, sem a preocupação de o ilustrar, embora a burguesia começasse a levantar voo com maior liberdade e rebeldia inteligente.
Mas a minha amiga continua a estranhar que, ainda nestes nossos tempos, as monarquias signifiquem tão excessivas riquezas e luxos, como se reconhece pelas notícias e pelas crónicas sociais, em contraste gritante com as excessivas misérias pelo mundo fora.
E as repúblicas, que aparentemente pretendem uma maior comunhão entre os homens, conseguem-no mal, numa liberalização democrática mais anárquica, enquanto que as monarquias, para além dos princípios cívicos que parecem impor, de maior respeito pelas instituições, são garante de maior estabilidade e grandeza.
Todavia, pode isso depender também dos cidadãos mais trabalhadores e educados, em climas menos propícios ao desleixo e ao prazer - os nórdicos – do que os do sul, de climas que apelam à modorra. Por isso, os inúmeros cafés, cá entre nós, poluem os espaços como instituição preclara e indispensável ao nosso prazer de viver, e ao nosso pouco apego ao trabalho sério e ao estudo.
E as desigualdades na distribuição das riquezas continuarão saecula saeculorum, como já afirmava Gil ao seu amigo Bieito, pela pena de Sá de Miranda, quer seja em Monarquia, quer em República, não há que reclamar:
“Um possui de serra a serra,
Outro nada, ou dois tojais.”
Não chegámos a nenhuma conclusão convicta.
Recordei mesmo uma fábula, a propósito, do La Fontaine, que, de resto, a atribuiu já a Esopo, prova de que vêm de longe e de sempre as discrepâncias sociais. É a fábula do lenhador que, “sous le faix du fagot aussi bien que des ans” ( e chamei a sua atenção para o ritmo quadripartido e aliterativo do alexandrino, a traduzir a marcha esforçada do pobre do lenhador, velho e a transportar o pesado molho de lenha), o qual, às tantas, em desespero de causa, atira o molho ao chão, queixa-se da sua miséria familiar, com impostos à mistura e muitas penas, de tal forma que chama a Morte. Mas quando esta surge, rápida no atendimento, o lenhador pede-lhe apenas ajuda para repor o molho às costas.
Por isso, temos que concluir com os fabulistas: “Le trépas vient tout guérir, / Mais ne bougeons d’où nous sommes. / Plutôt souffrir que mourir / C’ est la devise des hommes” e usá-la só como recurso poético ou fictício, em acidente de perturbação momentânea.
Não, os nossos reis semearam muito pouco bem-estar, a estruturação social permitia que eles fossem os maiores, o clero, a nobreza, tudo sobrecarregou o povo pesadamente e estupidamente, sem a preocupação de o ilustrar, embora a burguesia começasse a levantar voo com maior liberdade e rebeldia inteligente.
Mas a minha amiga continua a estranhar que, ainda nestes nossos tempos, as monarquias signifiquem tão excessivas riquezas e luxos, como se reconhece pelas notícias e pelas crónicas sociais, em contraste gritante com as excessivas misérias pelo mundo fora.
E as repúblicas, que aparentemente pretendem uma maior comunhão entre os homens, conseguem-no mal, numa liberalização democrática mais anárquica, enquanto que as monarquias, para além dos princípios cívicos que parecem impor, de maior respeito pelas instituições, são garante de maior estabilidade e grandeza.
Todavia, pode isso depender também dos cidadãos mais trabalhadores e educados, em climas menos propícios ao desleixo e ao prazer - os nórdicos – do que os do sul, de climas que apelam à modorra. Por isso, os inúmeros cafés, cá entre nós, poluem os espaços como instituição preclara e indispensável ao nosso prazer de viver, e ao nosso pouco apego ao trabalho sério e ao estudo.
E as desigualdades na distribuição das riquezas continuarão saecula saeculorum, como já afirmava Gil ao seu amigo Bieito, pela pena de Sá de Miranda, quer seja em Monarquia, quer em República, não há que reclamar:
“Um possui de serra a serra,
Outro nada, ou dois tojais.”
Não chegámos a nenhuma conclusão convicta.
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