Falou-se no Saramago e a minha amiga, muito enjoada – com medo que o céu lhe caia em cima, como o chefe dos Gauleses, Abraracourix, mas esperançada, também como ele – e todos nós, mesmo os desconfiados - de que “amanhã não será a véspera desse dia” - explicou que se trata duma polémica para vender:
- Ele não esteve nem um bocadinho preocupado. Vai vender que se farta. Agora que os Católicos e os Judeus reajam, temos de aceitar. Mas pronto, qualquer dia também não se fala mais nisso. Estamos esclarecidos.
Falou-se das contas públicas, da situação catastrófica, da ruína que não tem sentido para grande parte, porque continua a haver espectáculos cheios, de U2, de futebol e semelhantes, carros em barda, telemóveis topo de gama, muita viagem de férias...:
- Eu tive sempre medo de que acontecesse isso a este país. Mas não via ninguém preocupado. Incluindo a minha amiga de Economia, sem a mais pequena preocupação, porque a sua vida económica desliza “como um rio de brilhantes”...
Essa fez-me lembrar Cesário Verde em “Cristalizações” e felicitei-a pela comparação literária:
“E os charcos brilham tanto, que eu diria
Ter ante mim lagoas de brilhantes!”
Não ligou à interrupção, embalada no seu desespero:
- Quando vi na Argentina as pessoas às portas dos bancos pensei logo: Aqui também vai acontecer! E aqui aconteceu. Em pequena escala. Pessoas a dormir à porta do BPN. Mas isso já nem é nada. Um dia isto vai acontecer cá. Mas também não estou a dizer que adivinho. Nunca se discutiu isto dos Bancos a sério. Agora é a crise mundial... Como é que isto está? Não lhe dá agonia não ver saída?
- Claro! Vómitos...
- É o Sócrates que vai sofrer isto?
- Não, nem por sombras!
- O que é que vai acontecer? Há desempregados até dizer chega! Quando é que eles dizem o que se vai fazer? Até agora só vi: aumentaram a luz, o gasóleo; o rendimento mínimo fica na mesma...
- Agora é o leite...
- Quem sobrevive? O rendimento mínimo não sobe. E vamos lá a ver se não desce... Mas o que espanta são os milhares de lugares para os U2, já cheios. As pessoas dormem no chão a fazer fila. Mas se não for isto é outra coisa. O futebol, cheio. Os seus filhos não vão ver e os meus também não. E no entanto arranjam ali 50000 pessoas nas calmas. Também é verdade que a gente vai dizer assim: - E então eles não têm direito? São novos... Estou com medo deste país. Esta geração – a nova e a menos nova... Enfim! Um dia de cada vez, é o que devemos ter em mente. Eu gostava de saber como é que estamos de balança comercial: o que é que se exporta. O que se importa a gente sabe. Será que ele vai fazer o TGV? A Tap, de cavar a sete pés. Gastaram à doida, abusaram à doida. E quando foram buscar o brasileiro, ele recuperou bem. Mas agora está em crise. Então se aquilo vai abaixo, como é?
Quis mostrar que também sei coisas:
-Talvez se aliem à Tag de Angola.
Mas essa, a minha amiga não ouvira. E eu aproveitei para lhe ler um comentário que recebera por e-mail, encimado por uma linda foto de uma linda rapariga, noiva do Miguel Portas, portanto do BE, que, segunda na lista para Bruxelas, lá está, com o seu noivo, a ganhar bem... O sol quando nasce é para a esquerda, a direita, o centro... O resto, é a massa uniforme. Um dia de cada vez.
- Ele não esteve nem um bocadinho preocupado. Vai vender que se farta. Agora que os Católicos e os Judeus reajam, temos de aceitar. Mas pronto, qualquer dia também não se fala mais nisso. Estamos esclarecidos.
Falou-se das contas públicas, da situação catastrófica, da ruína que não tem sentido para grande parte, porque continua a haver espectáculos cheios, de U2, de futebol e semelhantes, carros em barda, telemóveis topo de gama, muita viagem de férias...:
- Eu tive sempre medo de que acontecesse isso a este país. Mas não via ninguém preocupado. Incluindo a minha amiga de Economia, sem a mais pequena preocupação, porque a sua vida económica desliza “como um rio de brilhantes”...
Essa fez-me lembrar Cesário Verde em “Cristalizações” e felicitei-a pela comparação literária:
“E os charcos brilham tanto, que eu diria
Ter ante mim lagoas de brilhantes!”
Não ligou à interrupção, embalada no seu desespero:
- Quando vi na Argentina as pessoas às portas dos bancos pensei logo: Aqui também vai acontecer! E aqui aconteceu. Em pequena escala. Pessoas a dormir à porta do BPN. Mas isso já nem é nada. Um dia isto vai acontecer cá. Mas também não estou a dizer que adivinho. Nunca se discutiu isto dos Bancos a sério. Agora é a crise mundial... Como é que isto está? Não lhe dá agonia não ver saída?
- Claro! Vómitos...
- É o Sócrates que vai sofrer isto?
- Não, nem por sombras!
- O que é que vai acontecer? Há desempregados até dizer chega! Quando é que eles dizem o que se vai fazer? Até agora só vi: aumentaram a luz, o gasóleo; o rendimento mínimo fica na mesma...
- Agora é o leite...
- Quem sobrevive? O rendimento mínimo não sobe. E vamos lá a ver se não desce... Mas o que espanta são os milhares de lugares para os U2, já cheios. As pessoas dormem no chão a fazer fila. Mas se não for isto é outra coisa. O futebol, cheio. Os seus filhos não vão ver e os meus também não. E no entanto arranjam ali 50000 pessoas nas calmas. Também é verdade que a gente vai dizer assim: - E então eles não têm direito? São novos... Estou com medo deste país. Esta geração – a nova e a menos nova... Enfim! Um dia de cada vez, é o que devemos ter em mente. Eu gostava de saber como é que estamos de balança comercial: o que é que se exporta. O que se importa a gente sabe. Será que ele vai fazer o TGV? A Tap, de cavar a sete pés. Gastaram à doida, abusaram à doida. E quando foram buscar o brasileiro, ele recuperou bem. Mas agora está em crise. Então se aquilo vai abaixo, como é?
Quis mostrar que também sei coisas:
-Talvez se aliem à Tag de Angola.
Mas essa, a minha amiga não ouvira. E eu aproveitei para lhe ler um comentário que recebera por e-mail, encimado por uma linda foto de uma linda rapariga, noiva do Miguel Portas, portanto do BE, que, segunda na lista para Bruxelas, lá está, com o seu noivo, a ganhar bem... O sol quando nasce é para a esquerda, a direita, o centro... O resto, é a massa uniforme. Um dia de cada vez.
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