Falámos na pandemia.
- Agora já não se fala nas medidas profilácticas.
Mas a minha amiga percebe muito mais da poda do que eu:
- Houve alguém que disse que o vírus não morre na barra do sabão. Fica lá. Veio uma técnica falar nisso, e aconselhou o sabão líquido. Mas foi a única que falou.
- Provavelmente era sócia de alguma fábrica de detergentes...
- Mas há quem diga que vai morrer muita gente. Bom! Pode ser que não seja nada! Deus nos livre que venha uma coisa dessas. Onde é que há técnicos?
Uma onda de terror passou por nós.
-Não falemos nisso, credo!
Tomávamos a bica numa esplanada, com o ar fresco matinal a impedir os pensamentos alarmantes. Pegámos nas eleições, mais adequadas ao riso, para disfarçar inquietações:
- Eu, por exemplo bato palmas aos de Felgueiras! Souberam descartar-se da Fátima! – comentou a minha amiga saboreando a bica.
- Nunca se sabe se é a sério - “à séria”, ouvi eu ontem a uma escritora estimada. “Fátima” é um nome muito importante. A de Felgueiras pode bem voltar, se é que sai mesmo – digo eu, muito pessimista, ingerindo o copo de água do genérico do conselho médico.
Chegou, entretanto, a Mimi, queixando-se dos ossos. Defendeu o Isaltino com ardor, ao ouvir o ataque da minha amiga aos de Oeiras, por o terem eleito.
- O que é preciso é que haja uma lei que diga que os que têm rabos de palha na justiça não podem concorrer a eleições – exclamou a minha amiga, com a determinação usual.
E a Mimi, apesar dos ossos, falou com entusiasmo:
- Ele trabalha! Tem uma Oeiras como ninguém tem.
Eu também defendi o Isaltino:
- Além disso, essa lei excluiria muito governante, tantos são os rabos de palha que a Justiça ignora, por ser a primeira a tê-los. E o Isaltino sabe-o bem e por isso todo se torce. De gozo.
- É! - concordou a Mimi – Porque será que os processos se acumulam dez, doze anos?
Dou detalhes:
- Há uma ligação afectiva entre o Governo e os Tribunais. Olha aquele que condenou o Paulo Pedroso do PS, por pedofilia! Está tramado, a carreira congelada... É o que se diz! E ninguém deslinda os tais casos de pedofilia, o Freeport, etc, com todos “à molhada”, gozando que se fartam e enriquecendo, nas barbas do Zé Povo. Por isso o Isaltino se ri. E o Valentim, e... Fora os que estão para vir, que não tardaremos a conhecer, enquanto os primeiros se apagam das memórias.
A D. Paula comia a sua torrada, na mesa ao lado. Era conhecida, entrou na conversa, defendeu com razões válidas:
- Pior que o Parlamento, pior que o Governo, é ali o meu condomínio. Não fazem ideia! Intrigas, não pagam, sempre em rixas e acusando! Eu digo: É um horror! O Governo, ao pé disto é um anjinho.
Aproveito a deixa, para concluir: Anjinho não será. Apenas o reflexo de um povo sem estrutura moral nem mental, o povo donde partiu. Um povo que grita e pula e dança, em esgares de adoração, indiferente à pouca lisura com que é tratado, porque se enquadra nessa pouca lisura, que desculpabiliza a sua própria, e lhe vai fornecendo as lentilhas do seu prato, ou o tacho aos de maior substância.
Foi João de Deus que o satirizou, num dos seus epigramas:
“Eleições
Há entre el-rei e o povo
Por certo um acordo eterno:
Forma el-rei governo novo,
Logo o povo é do governo
Por aquele acordo eterno
Que há entre el-rei e o povo.
Graças a esta harmonia
Que é realmente um mistério,
Havendo tantas facções,
O governo, o ministério
Ganha sempre as eleições
Por enorme maioria!
Havendo tantas facções
É realmente um mistério!
Vem, pois, de longe - nem outra coisa poderia ser.
- Agora já não se fala nas medidas profilácticas.
Mas a minha amiga percebe muito mais da poda do que eu:
- Houve alguém que disse que o vírus não morre na barra do sabão. Fica lá. Veio uma técnica falar nisso, e aconselhou o sabão líquido. Mas foi a única que falou.
- Provavelmente era sócia de alguma fábrica de detergentes...
- Mas há quem diga que vai morrer muita gente. Bom! Pode ser que não seja nada! Deus nos livre que venha uma coisa dessas. Onde é que há técnicos?
Uma onda de terror passou por nós.
-Não falemos nisso, credo!
Tomávamos a bica numa esplanada, com o ar fresco matinal a impedir os pensamentos alarmantes. Pegámos nas eleições, mais adequadas ao riso, para disfarçar inquietações:
- Eu, por exemplo bato palmas aos de Felgueiras! Souberam descartar-se da Fátima! – comentou a minha amiga saboreando a bica.
- Nunca se sabe se é a sério - “à séria”, ouvi eu ontem a uma escritora estimada. “Fátima” é um nome muito importante. A de Felgueiras pode bem voltar, se é que sai mesmo – digo eu, muito pessimista, ingerindo o copo de água do genérico do conselho médico.
Chegou, entretanto, a Mimi, queixando-se dos ossos. Defendeu o Isaltino com ardor, ao ouvir o ataque da minha amiga aos de Oeiras, por o terem eleito.
- O que é preciso é que haja uma lei que diga que os que têm rabos de palha na justiça não podem concorrer a eleições – exclamou a minha amiga, com a determinação usual.
E a Mimi, apesar dos ossos, falou com entusiasmo:
- Ele trabalha! Tem uma Oeiras como ninguém tem.
Eu também defendi o Isaltino:
- Além disso, essa lei excluiria muito governante, tantos são os rabos de palha que a Justiça ignora, por ser a primeira a tê-los. E o Isaltino sabe-o bem e por isso todo se torce. De gozo.
- É! - concordou a Mimi – Porque será que os processos se acumulam dez, doze anos?
Dou detalhes:
- Há uma ligação afectiva entre o Governo e os Tribunais. Olha aquele que condenou o Paulo Pedroso do PS, por pedofilia! Está tramado, a carreira congelada... É o que se diz! E ninguém deslinda os tais casos de pedofilia, o Freeport, etc, com todos “à molhada”, gozando que se fartam e enriquecendo, nas barbas do Zé Povo. Por isso o Isaltino se ri. E o Valentim, e... Fora os que estão para vir, que não tardaremos a conhecer, enquanto os primeiros se apagam das memórias.
A D. Paula comia a sua torrada, na mesa ao lado. Era conhecida, entrou na conversa, defendeu com razões válidas:
- Pior que o Parlamento, pior que o Governo, é ali o meu condomínio. Não fazem ideia! Intrigas, não pagam, sempre em rixas e acusando! Eu digo: É um horror! O Governo, ao pé disto é um anjinho.
Aproveito a deixa, para concluir: Anjinho não será. Apenas o reflexo de um povo sem estrutura moral nem mental, o povo donde partiu. Um povo que grita e pula e dança, em esgares de adoração, indiferente à pouca lisura com que é tratado, porque se enquadra nessa pouca lisura, que desculpabiliza a sua própria, e lhe vai fornecendo as lentilhas do seu prato, ou o tacho aos de maior substância.
Foi João de Deus que o satirizou, num dos seus epigramas:
“Eleições
Há entre el-rei e o povo
Por certo um acordo eterno:
Forma el-rei governo novo,
Logo o povo é do governo
Por aquele acordo eterno
Que há entre el-rei e o povo.
Graças a esta harmonia
Que é realmente um mistério,
Havendo tantas facções,
O governo, o ministério
Ganha sempre as eleições
Por enorme maioria!
Havendo tantas facções
É realmente um mistério!
Vem, pois, de longe - nem outra coisa poderia ser.
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