Foi Arquimedes de Siracusa que afirmou um dia - creio que já depois do lendário grito “Eureka” com que anunciou que descobrira a fórmula de obtenção do volume dos corpos, partindo da água da banheira onde se banhava - afirmou que, com um ponto de apoio e uma alavanca ele moveria o mundo.
Tratava-se de um sábio, talvez descrente dos mitos que explicavam a criação do mundo e a sua infinita variedade. Daí a arrogância do dito, que serviria, no entanto, a outros sábios e a outras descobertas posteriores.
Entretanto, um povo com tendências místicas, achara que tal criação do mundo, que povos politeístas atribuíam a poéticos deuses responsáveis pela organização de guerras e a criação de heróis na Terra, fora, pelo contrário, ordenada por um só Deus e que esse Deus a ele confiara pessoalmente o seu papel nessa criação, ditando-lhe umas leis que ficaram inscritas na pedra e anunciando, progressivamente, depois de muito castigar os homens, a vinda dum Messias que com a sua morte os salvaria.
Politeísmo, monoteísmo, formas de justificar aquilo que o Homem procura em vão conhecer, o problema da Criação, o problema do Criador. Religiões responsáveis pela criação de obras humanas, com maior ou menor veracidade, mas cuja autoria se perde na noite dos tempos – caso das epopeias gregas, caso das narrativas da Bíblia. E todas elas de extraordinária profundidade e beleza, a par de uma criatividade que nos maravilha, mau grado a bruteza de tantas delas, aliadas ao sentido do milagre nas histórias bíblicas do Velho Testamento, e até do Novo, de que a morte de Cristo seria a mais cruel e inútil.
O monoteísmo, prevalecendo sobre outras formas de teísmo, na formação do judaísmo, islamismo, cristianismo, espíritos racionalistas tentariam pôr em causa, posteriormente, o problema dos dogmas, defendendo a liberdade de pensamento, combatendo a superstição, como o fizeram os filósofos da Revolução Francesa, como Voltaire, com o seu frio deísmo racionalista, ou Rousseau, com o seu poético deísmo sentimental, seguidores, de resto, da filosofia inglesa, defendendo a liberdade e a tolerância religiosas, responsabilizando a própria natureza humana pelos seus males e misérias.
Muitos mais filósofos se lhes seguiram, os adeptos do agnosticismo teísta ou ateísta, que nega ao homem a possibilidade de definir cientificamente Deus, os primeiros baseando na fé a sua crença, os segundos negando Deus.
É esta última a posição de Saramago, que se proclama ateu e que escolhe uma personagem bíblica para condenar a Bíblia, como livro de “maus costumes”, a pretexto de que ficou marcado em criança já, pela injustiça de Jeová contra Caim.
Entre as várias parábolas tão poéticas ditas por Jesus aos seus apóstolos, também lembro a história do “Filho Pródigo” como uma história de injustiça, que poderia atrair igual vingança do irmão cumpridor, que nunca teve vitelo nem banquete a festejá-lo. Mas a doutrina de Cristo é de bondade e perdão, temos que a aceitar, enquanto que a de Jeová é de vingança e retaliação.
Não é caso para se condenar duma assentada uma obra tão extraordinária criada pelo homem, até porque, ressalvada a perícia de alguma obra sua, o ponto e a alavanca de Saramago não têm a dimensão para destruir que tiveram os de Arquimedes para construir, movendo.
Tratava-se de um sábio, talvez descrente dos mitos que explicavam a criação do mundo e a sua infinita variedade. Daí a arrogância do dito, que serviria, no entanto, a outros sábios e a outras descobertas posteriores.
Entretanto, um povo com tendências místicas, achara que tal criação do mundo, que povos politeístas atribuíam a poéticos deuses responsáveis pela organização de guerras e a criação de heróis na Terra, fora, pelo contrário, ordenada por um só Deus e que esse Deus a ele confiara pessoalmente o seu papel nessa criação, ditando-lhe umas leis que ficaram inscritas na pedra e anunciando, progressivamente, depois de muito castigar os homens, a vinda dum Messias que com a sua morte os salvaria.
Politeísmo, monoteísmo, formas de justificar aquilo que o Homem procura em vão conhecer, o problema da Criação, o problema do Criador. Religiões responsáveis pela criação de obras humanas, com maior ou menor veracidade, mas cuja autoria se perde na noite dos tempos – caso das epopeias gregas, caso das narrativas da Bíblia. E todas elas de extraordinária profundidade e beleza, a par de uma criatividade que nos maravilha, mau grado a bruteza de tantas delas, aliadas ao sentido do milagre nas histórias bíblicas do Velho Testamento, e até do Novo, de que a morte de Cristo seria a mais cruel e inútil.
O monoteísmo, prevalecendo sobre outras formas de teísmo, na formação do judaísmo, islamismo, cristianismo, espíritos racionalistas tentariam pôr em causa, posteriormente, o problema dos dogmas, defendendo a liberdade de pensamento, combatendo a superstição, como o fizeram os filósofos da Revolução Francesa, como Voltaire, com o seu frio deísmo racionalista, ou Rousseau, com o seu poético deísmo sentimental, seguidores, de resto, da filosofia inglesa, defendendo a liberdade e a tolerância religiosas, responsabilizando a própria natureza humana pelos seus males e misérias.
Muitos mais filósofos se lhes seguiram, os adeptos do agnosticismo teísta ou ateísta, que nega ao homem a possibilidade de definir cientificamente Deus, os primeiros baseando na fé a sua crença, os segundos negando Deus.
É esta última a posição de Saramago, que se proclama ateu e que escolhe uma personagem bíblica para condenar a Bíblia, como livro de “maus costumes”, a pretexto de que ficou marcado em criança já, pela injustiça de Jeová contra Caim.
Entre as várias parábolas tão poéticas ditas por Jesus aos seus apóstolos, também lembro a história do “Filho Pródigo” como uma história de injustiça, que poderia atrair igual vingança do irmão cumpridor, que nunca teve vitelo nem banquete a festejá-lo. Mas a doutrina de Cristo é de bondade e perdão, temos que a aceitar, enquanto que a de Jeová é de vingança e retaliação.
Não é caso para se condenar duma assentada uma obra tão extraordinária criada pelo homem, até porque, ressalvada a perícia de alguma obra sua, o ponto e a alavanca de Saramago não têm a dimensão para destruir que tiveram os de Arquimedes para construir, movendo.
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