sábado, 10 de outubro de 2009

Hipódromo de Pedrouços

Hoje a minha amiga não tinha nada para dizer:
- Nada! O que tenho para dizer é só mal! Este carnaval das autárquicas! Eh pá! Depois daquela fornada que a gente teve que acompanhar! E se aquilo custa dinheiro! E isso irrita ainda mais!
-É!
- Aquela Elisa Ferreira! Quase que lhe salta tudo da cara com medo de perder aquele lugar!
- Então, se não ganhar, não tem o Parlamento Europeu?
- Pois! Está tudo assegurado! O que vale é que somos um país rico!
- Então não entendo tais raivas que ela manifesta no ataque contra o Rio.
- E a Ana Gomes é outra que tal! Tem uma folha de serviços ampla, e é ver os homens antigos do PS de roda dela, como concorrente à Câmara de Sintra. Os discursos de sempre, as graças de sempre, o partido de sempre e muita risota. Somos um povo de muita risota.
- E o Santana? Acha que vai ganhar? Ele defende-se bem, mas o Costa é mais manhoso.
- É o Costa que ganha. Lisboa tem muitos da esquerda, eles apoiam-se. Parecem inimigos entre si, mas apoiam-se na luta contra os outros. E a coisa mais cómica é eles arrasarem-se mutuamente.
- Os contentores...
- Os contentores é obra do Costa. Mais terra-a-terra, sabendo dar a pedalada certeira. O outro é mais sonhador. Tanto é assim que contratou o arquitecto mais caro que havia... Temos muita gente maluca. Mas o Santana diz que fez obra. Apresentou uma lista que eu fiquei parva a olhar para ele. A gente sabe os gastos que ele fez. É verdade que a gente não sabe exactamente o que eles fizeram. Mas com as listas fica-se a saber.
Essa frase trouxe-me à lembrança a definição das corridas no hipódromo de Pedrouços, de Pedro da Maia, em resposta a Dâmaso Salcede, na casa de Maria Eduarda:
“Dâmaso: -... Olhe, minha senhora, de uma coisa pode Vossa Excelência estar certa, é que hipódromo mais bonito não há lá fora. Uma vista até à barra que é de apetite... Até se vêem entrar os navios... Pois não é assim, Carlos?
- Sim – disse Carlos sorrindo – não é propriamente um campo de corridas... Verdade seja que não há jóqueis... Ora é verdade que não há apostas... Mas é verdade que também não há público...
Maria Eduarda ria, alegremente.
- Mas então?
- Vêem-se entrar os navios, minha senhora...”
A minha amiga concluiu:
- E é o que fazemos todos, neste país. Andamos a ver navios...
- Mas agora entram menos navios na barra.
- É o mesmo filme há anos. Passam-se os anos e eles aí estão, na roda, e nas danças, e nos comícios...
- Os velhos – que causaram a ruína - voltam sempre, para mostrarem que ainda estão para as curvas, os novos começam agora a ascensão, com mansa seriedade, outros recomeçam-na, com muito empenhamento, aparentemente todos em luta por ideais nacionalistas, sem nunca declararem as verdadeiras razões dessa luta, nunca unindo esforços
para juntar os cacos do vaso partido. “Mas é verdade que também não há público...”

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