quinta-feira, 1 de outubro de 2009

“O Conselho dos Ratos”, fábula de La Fontaine

Um gato de seu nome Rodilardo
Fazia entre os ratos tal usura
Que a raça destes quase se extinguiu
Tantos os que mandou p’r’à sepultura.
Dos poucos que restavam
A sair do buraco não ousavam,
Para comer só achavam
Um quarto do que era habitual.
E o gatarrão
Passava entre eles não por gato
Mas por um diabo fatal
Perfeitamente vilão.
Ora um dia,
Em que ao longe e lá num alto,
O galante foi procurar esposa,
Como bem dali se via,
Durante o regabofe com a dama
Da sua cortesia,
Os ratos que restavam
O cabido a um canto reuniam,
Para a discussão
Sobre a aflição em que viviam.
Logo de início o deão,
Prudente,
Opinou sobre a necessidade urgente
De atar um guizo ao pescoço
Daquele gato indecente.
Assim, quando ele andasse
Na guerra do seu almoço,
Do seu andar avisados,
Eles esconder-se-iam no poço.
Só esse meio acudia
À ideia do deão.
Todos foram de igual opinião,

Nada mais salutar lhes pareceu.
A dificuldade estava no guizo,
Na forma de o atar,
Sem o gato perceber.
Disse um deles: “Eu não vou,
Pois parvo não sou”. Logo outro adiantou:
“Eu não o posso fazer. Faça-o outro, se quiser”.
Mas nenhum se ofereceu.
E sem nada resolver,
Todos se furtaram
A um risco de que não gostaram.

Eu já vi muitos cabidos,
Cabidos não de ratos mas de padres
E até mesmo de cónegos licenciados
Que assim se comportaram,
Com muito paleio mas pouca acção.
Daqui, a conclusão:
Para se deliberar,
A corte abunda em conselheiros.
Para se executar,
Falta coragem, faltam os guerreiros.»

E a continuação:

Não sei se a fábula vem a calhar:
Também entre nós
Abundam os conselheiros
E faltam os guerreiros.
Conselheiros, nem sempre,
- Mesmo a maior parte das vezes –
Em uniformidade de voz
Mas sempre,
Como diria o “Lavrador”
De uma das Barcas de Gil Vicente,
Cada um péla o vilão
- Isto é, a Nação -
Por seu jeito”,
Ou seja, em seu proveito.

Aqui, aliás, nem se trata tanto do guizo
Que a maioria até soube pôr ao pescoço
Do “Gato”, com bastante gozo.
Como diz o “Fedorento”
Eles só falam falam falam...”
Todos gostam de falar
Criticar, atacar, murmurar,
Mas quando é preciso actuar,
Não nos vamos arriscar
Que ele pode não gostar,
E aí vai o resto dos ratos
P’r’à boca do Rodilardo.

Em minha opinião,
Por imensos partilhada,
Por ser menos arriscada,
O nosso bom Rodilardo
Deixemos com a sua acção
Que ele acha de muito tento,
Para dar o alimento
A esta feliz Nação.

Um comentário:

Anônimo disse...

يا لها من خرافة عظيمة ومروعة في نفس الوقت