«Sua Majestade Leoa um dia desejou conhecer
De que povo o Céu o tinha feito senhor.
Mandou então, por deputados,
Convocar vassalos de toda a feição,
Enviando para todos os lados
Uma escritura circular que carimbou
Com o carimbo real,
Como era sua obrigação.
Atestava a escritura
Que o Rei convocava
Para, durante um mês, uma corte plenária,
Cuja abertura
Consistiria
Em enorme festim seguido de um festival
Com um espectáculo bufão.
Por este rasgo de magnificência
O Príncipe a cada cortesão
Demonstrava o seu poderio
E mesmo a sua potência.
Convidou-os para o seu Louvre.
Que Louvre! Um verdadeiro ossário
Cujo cheiro
Atingiu primeiro
O nariz das gentes. O Urso, pesadão,
Tapou as narinas com má criação.
O seu esgar desagradou. O Monarca irritado
Logo o despachou para Plutão
A fazer de enjoado.
O Macaco aprovou muito esta severidade
E excessivamente lisonjeiro
Continuou a louvar – a cólera primeiro,
E a garra do Príncipe, e o seu antro
E sobretudo o cheiro.
Não houve âmbar, não houve flor
Que lhe não parecesse alho, em comparação
Com o infecto odor,
Para ele, delicioso
E mesmo saboroso,
E até formoso,
Se quisermos utilizar
A sinestesia
Como elemento de figuração
Da sua algaravia.
A sua tola lisonja não deixou de ser punida
Imediatamente,
Que este Senhor Rei Leão
Era parente de Calígula
Provavelmente.
A Raposa estava por ali perto
E logo o Rei Senhor
Lhe perguntou:
- E tu que sentes? Que cheiras?
Diz-mo sem disfarçar.
Mas a outra se excusou
Com a sua forte constipação,
Não podendo senão alegar
Que o cheiro lhe estava a faltar.
E assim se desenvencilhou.
Isto serve-vos de lição:
Não sejais na corte
Se quiserdes agradar,
Nem insípido adulador
Nem falador
De tola sinceridade.
E tratai de responder
Com a ambiguidade
Da falsidade:
Nem sim nem não
À provocação.»
Está visto
Que La Fontaine sabia disto.
Na nossa corte, contudo,
Os ursos são em menor quantidade,
Que não há rei que ature
Tamanha sinceridade.
Os lisonjeiros é natural
Que abundem,
Mesmo que cheire mal
No reino da Dinamarca.
Mas, ao contrário do macaco da fábula
Que foi castigado,
Têm constante lugar na nossa rábula
Ou na comédia diária
Do nosso reino.
Não vamos esclarecer, é melhor.
Quanto à raposa ambígua
E manhosa
Há em toda a parte e não só na corte.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
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