- Já se deu o primeiro caso. O ano começou com a sua violência tão grande, tão grande... Ela tinha uns miúdos com ela, que assistiram a tudo. Foi em Almada, o homem matou-a mesmo à frente das crianças, um dos rapazinhos teve que fugir para não ser morto também, porque gritou. O homem deu um tiro nele, a seguir, funcionou assim.
- Ainda bem que deu o tiro nele. Morreu?
- Não morreu.
- Foi pena! – exclamo compungida.
- Não, deve morrer mas em sofrimento, deve pagar. Ai, eu tenho tanta pena dos miúdos! Deviam ser muito agarrados à mãe. É outro drama, para os pais do rapaz, um homem que faz isto. Era uma rapariga bonita, com belíssimo aspecto. E ele também. Mas não interessa o nível social. O homem foi largado e não aceita, qualquer que seja o nível. O ser humano é a coisa mais incrível. Não há bicho pior. Porquê? Porquê? Porquê? Se ele até vai aprendendo, conforme vai convivendo... Depois os psicólogos vêm explicar que o orgulho ferido é o pior. Até podia ter um rebate de consciência - “eu não posso fazer isto.” Mas faz. As mulheres não têm safa. Mesmo que elas se queixem à polícia, a polícia não dá protecção. Não há safa para estas mulheres. Devia haver uma comunicação com a polícia, um telefone para ligar, carregando um botão, como os idosos da Assistência social. Elas não têm protecção nenhuma, nenhuma. Há organizações – A.P.A.V. – que fazem alguma coisa por elas. Podem pedir asilo e eles não sabem onde elas estão. Mas têm que ir trabalhar e eles descobrem. Não têm safa.
- Mas também é horrível, terem que sair das suas casas, com os filhos...
-Há seres humanos fabulosos, e depois há estes. Ontem vi uma rapariga portuguesa, nova. Ganhou um prémio. Vive no Dubai.
- Já sei, é a hospedeira do ar...
-A ida para o Dubai mudou-lhe a vida. Já vai em 600 crianças do Bangladesh as que ela protege. Perguntaram-lhe como conseguia. Respondeu: “Eu peço dinheiro a toda a gente. Se não puderem, que façam publicidade.” O Bangladesh é pior do que o Haiti. Vai uma rapariga para o Dubai, como hospedeira de bordo e depara-se-lhe a miséria de tanta gente. Resolve seguir as pisadas da Madre Teresa. Está a actuar há cinco anos e já tem obra. Já pôs aquelas raparigas com aulas de dança e música, e com algum orgulho em si. É muito jeitosa. É portuguesa. Nota-se que há já uma pronunciazinha. Talvez do inglês.
- E continua a trabalhar?
- Continua a trabalhar. Mas a vida dela está virada. Com este prémio tornou-se conhecida. Mas disse que não é isso que interessa. O que interessa são aqueles filhos que ela tem. O Projecto dela chama-se “Dhaka Project”. A gente não faz ideia do que aquilo era. Será que vão abrir os olhos?
A minha amiga falou quase continuamente. Nem deu para responder que eu achava que não iam. O mundo não se interessa por raquitismos, salvo quando são mediáticos, fruto de grandes catástrofes, que nos sensibilizam para ficarmos bem na foto. As misérias haitianas estavam ignoradas, antes do sismo. Há muitas mais por esse mundo. Mas são precisos sismos para o mundo solidário se aperceber e interferir.
Quando vim para casa ouvi o Parlamento sobre o Orçamento. Os ataques do costume, os contra-ataques do costume, as omissões do costume do Governo a respeito da obra do Governo. Obra adiada, alguma obra feita, promessas de obras que os sensatos põem em causa, acabando por dar o seu aval... Mas não se fala em industrialização, em emprego, em rentabilidade, em trabalho, a não ser no que está nos projectos grandiosos. Fala-se em obra social, numa visão sempre unilateral. Como a visão da minha amiga sobre este mundo dos porquês.
- Ainda bem que deu o tiro nele. Morreu?
- Não morreu.
- Foi pena! – exclamo compungida.
- Não, deve morrer mas em sofrimento, deve pagar. Ai, eu tenho tanta pena dos miúdos! Deviam ser muito agarrados à mãe. É outro drama, para os pais do rapaz, um homem que faz isto. Era uma rapariga bonita, com belíssimo aspecto. E ele também. Mas não interessa o nível social. O homem foi largado e não aceita, qualquer que seja o nível. O ser humano é a coisa mais incrível. Não há bicho pior. Porquê? Porquê? Porquê? Se ele até vai aprendendo, conforme vai convivendo... Depois os psicólogos vêm explicar que o orgulho ferido é o pior. Até podia ter um rebate de consciência - “eu não posso fazer isto.” Mas faz. As mulheres não têm safa. Mesmo que elas se queixem à polícia, a polícia não dá protecção. Não há safa para estas mulheres. Devia haver uma comunicação com a polícia, um telefone para ligar, carregando um botão, como os idosos da Assistência social. Elas não têm protecção nenhuma, nenhuma. Há organizações – A.P.A.V. – que fazem alguma coisa por elas. Podem pedir asilo e eles não sabem onde elas estão. Mas têm que ir trabalhar e eles descobrem. Não têm safa.
- Mas também é horrível, terem que sair das suas casas, com os filhos...
-Há seres humanos fabulosos, e depois há estes. Ontem vi uma rapariga portuguesa, nova. Ganhou um prémio. Vive no Dubai.
- Já sei, é a hospedeira do ar...
-A ida para o Dubai mudou-lhe a vida. Já vai em 600 crianças do Bangladesh as que ela protege. Perguntaram-lhe como conseguia. Respondeu: “Eu peço dinheiro a toda a gente. Se não puderem, que façam publicidade.” O Bangladesh é pior do que o Haiti. Vai uma rapariga para o Dubai, como hospedeira de bordo e depara-se-lhe a miséria de tanta gente. Resolve seguir as pisadas da Madre Teresa. Está a actuar há cinco anos e já tem obra. Já pôs aquelas raparigas com aulas de dança e música, e com algum orgulho em si. É muito jeitosa. É portuguesa. Nota-se que há já uma pronunciazinha. Talvez do inglês.
- E continua a trabalhar?
- Continua a trabalhar. Mas a vida dela está virada. Com este prémio tornou-se conhecida. Mas disse que não é isso que interessa. O que interessa são aqueles filhos que ela tem. O Projecto dela chama-se “Dhaka Project”. A gente não faz ideia do que aquilo era. Será que vão abrir os olhos?
A minha amiga falou quase continuamente. Nem deu para responder que eu achava que não iam. O mundo não se interessa por raquitismos, salvo quando são mediáticos, fruto de grandes catástrofes, que nos sensibilizam para ficarmos bem na foto. As misérias haitianas estavam ignoradas, antes do sismo. Há muitas mais por esse mundo. Mas são precisos sismos para o mundo solidário se aperceber e interferir.
Quando vim para casa ouvi o Parlamento sobre o Orçamento. Os ataques do costume, os contra-ataques do costume, as omissões do costume do Governo a respeito da obra do Governo. Obra adiada, alguma obra feita, promessas de obras que os sensatos põem em causa, acabando por dar o seu aval... Mas não se fala em industrialização, em emprego, em rentabilidade, em trabalho, a não ser no que está nos projectos grandiosos. Fala-se em obra social, numa visão sempre unilateral. Como a visão da minha amiga sobre este mundo dos porquês.
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