quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Pequena Maddie

A minha amiga estendeu-me o “Destak” de hoje, quarta-feira, 13 de Janeiro de 2010, com o casal McCann, ambos lindos de morrer, autênticas estampas em passagem de modelos, sempre de mãos dadas, como há três anos, embora mais desprendidos no vestir nessa altura de primavera, tempo de praia e do seu luto.
A pequena Maddie desaparecera, nesse 3 de Maio de 2007, os dois irmãos dormindo, os pais jantando com amigos, avisada a televisão inglesa, antes de o ser a polícia portuguesa. Sofrimento, críticas aos pais descuidados, a fé na filha viva, os mistérios e os mitos em torno do rapto, os apelos comovidos dos pais, a devoção na igreja da aldeia algarvia da Luz e junto ao santo Padre, o recurso às entidades policiais, as más línguas da Internet negando a presença da menina, a crença popular numa mistificação dos pais para angariar fundos, a polícia constituindo arguidos os pais, por crença na sua responsabilidade na morte, o regresso a Inglaterra, os cães ingleses farejantes de pistas, a intervenção de gente grada inglesa, em cada ano que passa novos apelos do casal McCann, novos fundos para a sua fundação, talvez também para o seu vestuário, novas vindas à aldeia da Luz para novas demonstrações e pistas, e os diversos anúncios de uma menina com traços de Maddie levada por gente esquiva ou outra. E os comerciantes da aldeia da Luz queixando-se amargamente, pelo défice no turismo que o caso tão mediatizado provocara nos seus negócios.
Entretanto o ex-Director da Polícia Judiciária, Gonçalo Amaral, postas em causa as suas alegações condenatórias do casal McCann, escreve o livro “A Verdade da Mentira” sobre o estranho caso. Mas luta com gente de poder, ligada ao partido trabalhista inglês.
E é o bonito casal de mãos dadas sempre, que o Destak destaca, que vem defender a sua justiça inglesa contra a justiça portuguesa – ou de alguma da justiça portuguesa, porque se a nossa justiça sofre pressões dos poderosos do nosso poder, não deixará de sofrer as da Inglaterra, de poder mais poderoso ainda.
E a minha amiga contou da entrevista que leu, à mulher de Gonçalo Amaral, de saúde arruinada, os bens congelados, os filhos pequenos, a perspectiva de terem de pagar milhões à fundação McCann, caso percam o caso, no que a minha amiga crê.
- Meteram-se com gente poderosa, devia ter ficado mudo e quedo. Só os McCann conhecem o caso na sua verdade.
Eu nunca acreditei numa mistificação, na sua falsidade, figuras tão sóbrias, tão dignas, tão sérias, tão sempre de mãos dadas, contendo emoções no seu mútuo apoio, que os isolava dos outros, não sei se por desprezo pelos outros. Embora estranhasse o profundo sono dos dois irmãos de Maddie. E o aviso prioritário dos pais à televisão inglesa. De facto, nada daquilo me pareceu humano, tudo bem elaborado, a comoção contida dos seus apelos, que logo lhes proporcionou fundos financeiros, a beleza das suas figuras, das suas démarches, dos seus apelos cronometrados, figuras da tragédia grega, sóbrias e belas. E trágicas. Nunca acreditei que não fosse verdade.
Mas tanto a minha irmã como o meu filho mais velho sempre os condenaram. No abandono dos filhos, em vez de arranjarem uma babby sitter que velasse por eles enquanto se divertiam com os amigos, contando, para se justificarem, das suas idas frequentes ao quarto dos filhos.
A minha irmã perguntou-me hoje pela minha amiga, que é sua também. Expliquei-lhe do teor da nossa conversa, mostrei-lhe o Destak, com a foto de estampa.
- Cretinos! Não vão nada ganhar! O Gonçalo Amaral é que tem razão! O que eles querem é ganhar algum!
Geralmente acredito na minha irmã. Gostava que tivesse razão hoje. Por causa dos filhos de Gonçalo Amaral. E dos pais deles.
Mas há sempre duas justiças, como temos visto cá. E quem ganha sempre é a justiça dos fortes - não em carácter mas em poder.

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