Há quem esteja descontente
Com o nosso Presidente
Achando que não tem grande jeito
Para exigir mais preceito
A um governo que asneia
Volta e meia.
Então,
Como a nação tem tendência
Para agir com imprudência
- P’ra não falar na decência –
Decidiu-se escolher
Quem mais saiba utilizar
O discurso da saudade
Da paixão e da bondade
Que a todos nos vai safar,
Embora seja outro o intento
Dessas cantigas de vento,
P’ra meninos embalar.
Lembrei-me, pois, de avisar
Através doutra canção
- Uma fábula, exactamente –
De alguém com muito tento
Que com fábulas alimentou
Multidões e gerações
De gente que o interpretou
Como gente inteligente
E que a si as aplicou
Para melhor se corrigir
Consoante o caso citado.
Propus-me então traduzir
Ainda que livremente,
Para quem não sinta enfado
A fábula de La Fontaine
“As rãs que pedem um rei”
Apenas para esclarecer
Que nos devemos contentar
Por vezes com um mau senhor
Porque o que vem a seguir
Pode ser muito pior
Contra a lei e contra a grei:
«Queixando-se as rãs um dia
Da sua democracia,
Sem ninguém a comandar,
De tal modo reclamaram
E coaxaram
Que Júpiter as submeteu
Ao poder da monarquia.
Do céu lhes caiu um Rei pacífico
Que, todavia,
Tanto estrondo fez ao cair
Que aquele povo pantanoso
Receoso
Sob as águas se foi esconder
Nos juncos, nos canaviais
Nos buracos dos paúis,
Sem ousar o rosto fitar,
Durante um certo tempo,
Daquele que julgaram grão senhor
E apenas se lhes revelava
Temível Adamastor.
Depressa puderam verificar
Que o rei que assustava
Afinal não passava
De um totó bonacheirão.
Uma das rãs aventureira
Foi a primeira
A abandonar a sua toca:
Aproximou-se a tremer
Mas logo outra a seguiu
Outra e mais outra, e outras mais.
E esta tropa fandanga,
Já muito familiarmente,
Ao pescoço do Rei saltou
Que muito se assustou
Mas que as rãs aguentou
Resignadamente.
Júpiter de novo reclamado
Ficou meio atordoado:
“ Dê-nos, disse esta gente exigente,
Um rei mais valente
E não como este,
Sem pimenta nem sal.
Então,
O monarca dos Deuses
Um grou lhes mandou,
Que os trinca, que os esfola
Que os engole avidamente
Por princípio e não por mal.
E as rãs se queixaram de novo
Ao Jove, que lhes responde com a frieza
Da sua realeza:
-“Então? Então?
O vosso desejo é sujeitar-nos caprichosamente
À vossa imposição?
Antes de mais nada
Vocês deviam
O vosso governo ter guardado.
Não o tendo feito, deveriam ter aceitado
Que o vosso Rei primeiro fosse
Bonacheirão e doce.
Contentem-se agora
Com o Grou matador
Não venha por aí ainda outro pior.»
A fábula é perceptível,
Não vamos analisar,
Mas podemos concluir
Sobre a necessidade
De pensar esclarecidamente
Antes de um candidato escolher
Para presidente,
Não venha por aí um doutor
Impostor,
A botar faladura
Com falsa ternura
E a sua amargura
De antigamente,
Para melhor
Conquistar o presente.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
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