quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

“VAE VICTIS!”

Quando ouço as vozes do nosso optimismo – as do Dr. Mário Soares são uma delas, trazida constantemente à liça dos anúncios televisivos, não sei se a pedido do governo socialista que nele se apoia em recurso, não direi de extrema unção, mas de extrema finura para captar os extremamente fáceis de captar e de manipular, que somos nós como povo sintético em questão de mentalidades – transcrevendo Vasco da Graça Moura, escritor, que no seu artigo de 20 de Janeiro “A !8ª Autonomia” no “DNForum”, nos chama “uma sociedade invertebrada, inconsequente, irresponsável e de um analfabetismo político encarapaçado, uma sociedade cujo governo canceroso uma governação assim... (a governação deficiente de “piruetas”, de “derivas estridentes sobre temas secundários, de controlo subreptício e crescente da comunicação social, tudo com o objectivo de serem levantadas quantas nuvens de poeira sejam necessárias para iludir as questões...” ) – quando ouço, pois, vozes optimistas a mando da tal governação, não da extrema unção mas da extrema finura, sinto-me logo confiante na retoma e condeno esses que nos tomam por atrasados mentais, como o escritor Vasco Graça Moura que não faz parte.
Entro mesmo em confiantes malabarismos de projectos caseiros, por conta já desses optimismos encomendados, “porque eu quero ser feliz”, como disse Dulce Pontes, além de que também “a desdita não se diz” como a Dulce também disse, ao contrário do fado nacional que diz.
Mas o artigo de Vasco G. Moura deprimiu-me, apesar desse meu anseio de felicidade, ao mostrar que estamos a caminho de nos tornarmos a 18ª autonomia espanhola. Transcrevendo, do texto de Graça Moura: “Infelizmente, os iberistas de serviço verão a sua posição triunfar deste modo ínvio. Por obra e graça de desacreditada governação socialista, Portugal está a caminho de se tornar na 18ª autonomia espanhola, a mais periférica, a mais desinteressante, a mais pobre”.
Resta-me a esperança de que não nos queiram “nem de graça”, como eu também já disse e mais uma vez vou transcrever o que disse, que parece que adivinhava o que o escritor Vasco da Graça Moura ia dizer ontem. Mas pode ser que também ainda não seja desta que nos tornemos no que ele disse. Vejamos o que disse eu em “Anuário – Memórias Soltas” num texto de 1983, pedindo desculpa por estas transcrições pessoais de exóticas e poéticas advertências que foram inúteis na altura como o são agora, com retórica ou sem ela, que é o próprio da poesia, a sua inutilidade:

“É comprar, Senhores...”

«Os jornais deram há dias reportagem primorosa sobre a integração lusitana no bloco peninsular. Andamos baixos de escudos de forças de homens de crenças queremos ajuda alheia seja qual for o seu preço dai-nos vossa mão Senhores.

Já não temos que comer nem solas p’ra pôr de molho o gageiro sobe ao mastro e não topa terra firme nas areias portuguesas Sebastião não virá na manhã de nevoeiro as barras de ouro herdadas dos tempos da ditadura estão em vias de extinção nada temos p’ra deixar aos filhos do nosso amor dai-nos vossa mão Senhores não nos deixeis liquidar.

Os Espanhóis são mais ricos bem nos podem ajudar pelo prato de lentilhas como Jacob deu ao irmão damos-lhes a governança da nossa nau naufragada dai-nos lentilhas Senhores em troca da nossa barca.

Não era a primeira vez que Espanhóis nos governavam somos ineptos Senhores isso está mais que provado arriscai Senhores em nós valemos pouco dinheiro arriscai Senhores em nós o nosso preço é barato.

Temos desejo de ordem e de governos de força oito séculos de História é lirismo p’ra esquecer arriscai Senhores em nós bem nos podeis apoiar.

A vida é curta gozemo-la tendes as vossas pesetas ficar-vos-emos mui gratos se nos quiserdes comprar valemos pouco dinheiro o nosso escudo é barato dai-nos vossa mão senhores queremos continuar seja qual for vosso preço.

Ninguém nos quer? Oh! horror! Não nos quereis nem de graça? Seremos nós pobres párias de toda a parte excluídos? Arriscai Senhores em nós prometemos ser fiéis dai-nos depressa as lentilhas não nos deixeis afundar.

Dai-nos vossa mão Senhores...»

É então a hora agora?

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