quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Entre nós vai começar



Agora é que vamos repor a justiça, por que sempre ansiámos, acho que Vasco Pulido Valente não tem razão nos seus esclarecimentos sobre o fim da tal época da social democracia, que para todos os efeitos é uma doutrina da esquerda. Entre os povos mais maduros em capacidade e trabalho, talvez tenha acabado, mas a nossa social-democracia, mais recente e de apoio externo colaborante, só falhada porque distorcida pelos individualismos gerais, vai certamente dar todos os frutos agora, no estabelecimento escrupuloso das igualdades sociais. Começa por uma extorsão, é certo, com manigâncias de promessas e salamaleques de conluio, há muito que Costa age com risos de herói, na subversão que pretende estabelecer. E agora é que a justiça vai reinar, o novo PREC se avizinha, de um “salve-se quem puder” de precipitação, mal a Europa nos retire a passadeira, o que não vai tardar:

O fim de uma época
Público, 09/10/2015
A “social-democracia” acabou na maior parte da Europa por volta de 1970. Depois da guerra, a grande força igualitária, quem tinha combatido e sofrido queria dos políticos duas coisas básicas. Primeiro, o pleno emprego e salários crescentes. Segundo, um Estado Social mínimo: pensões de velhice, saúde gratuita, educação para todos.
Pouco a pouco, os partidos da esquerda e alguns da direita foram dando à massa da população o que ela pedia. Isto durou quando muito vinte anos. Só que a supremacia da Europa (e da América) a partir de 1965-1968 já não permitia este confortável arranjo. Começaram por desaparecer o pleno emprego e os salários crescentes. A seguir, a educação do Estado voltou pouco a pouco a beneficiar os filhos da alta classe média. A sociedade estagnou nas velhas formas de uma desigualdade inamovível.
O breve regresso da “social-democracia” acabou por ser uma batalha defensiva, que nunca conseguiu restabelecer a situação do passado. Os partidos do socialismo fizeram um esforço para recomeçar o caminho de 1948-1949. Não conseguiram; até a Inglaterra teve de pedir ajuda ao FMI; e os “trabalhistas”, que suspiravam pelo radical Tony Benn, entregaram o governo à sra. Thatcher. Dali em diante, excepto em economias particularmente prósperas, a “social-democracia” passou a viver do imposto (cada vez mais pesado) e das dívidas que se iam acumulando à conta de um passado glorioso. Claro que, nesta queda, Espanha, Portugal e a Grécia, que precisavam de recuperar anos de miséria e de paralisia, caíram primeiro e desceram mais baixo.
Hoje há uma pergunta: que fazer dos partidos socialistas ou, se quiserem, social-democratas (no sentido próprio da palavra)? Quase nenhum pode continuar o programa tradicional de aperfeiçoamento e extensão do Estado Social (e o nosso PS menos do que outro). Emigrar para as simplicidades do século XX como o comunismo (na verdade, o estalinismo) ou qualquer outra espécie de seita revolucionária levaria directamente à mais desoladora pobreza. Ficar no sítio que sempre ocuparam, fingindo que o mundo não mudou, seria a receita para a divisão e para uma absorção lenta de cada uma das partes pela esquerda ou pela direita. O socialismo e a social-democracia chegaram ao fim do seu tempo. Só que a sua morte vai inevitavelmente provocar um abalo, e um abalo sério, no frágil edifício da democracia europeia.

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