Agora é que vamos repor a
justiça, por que sempre ansiámos, acho que Vasco Pulido Valente não tem razão
nos seus esclarecimentos sobre o fim da tal época da social democracia, que
para todos os efeitos é uma doutrina da esquerda. Entre os povos mais maduros
em capacidade e trabalho, talvez tenha acabado, mas a nossa social-democracia, mais
recente e de apoio externo colaborante, só falhada porque distorcida pelos individualismos
gerais, vai certamente dar todos os frutos agora, no estabelecimento escrupuloso
das igualdades sociais. Começa por uma extorsão, é certo, com manigâncias de
promessas e salamaleques de conluio, há muito que Costa age com risos de herói,
na subversão que pretende estabelecer. E agora é que a justiça vai reinar, o
novo PREC se avizinha, de um “salve-se quem puder” de precipitação, mal a
Europa nos retire a passadeira, o que não vai tardar:
O
fim de uma época
A
“social-democracia” acabou na maior parte da Europa por volta de 1970. Depois
da guerra, a grande força igualitária, quem tinha combatido e sofrido queria
dos políticos duas coisas básicas. Primeiro, o pleno emprego e salários
crescentes. Segundo, um Estado Social mínimo: pensões de velhice, saúde
gratuita, educação para todos.
Pouco
a pouco, os partidos da esquerda e alguns da direita foram dando à massa da
população o que ela pedia. Isto durou quando muito vinte anos. Só que a
supremacia da Europa (e da América) a partir de 1965-1968 já não permitia este
confortável arranjo. Começaram por desaparecer o pleno emprego e os salários
crescentes. A seguir, a educação do Estado voltou pouco a pouco a beneficiar os
filhos da alta classe média. A sociedade estagnou nas velhas formas de uma
desigualdade inamovível.
O
breve regresso da “social-democracia” acabou por ser uma batalha defensiva, que
nunca conseguiu restabelecer a situação do passado. Os partidos do socialismo
fizeram um esforço para recomeçar o caminho de 1948-1949. Não conseguiram; até
a Inglaterra teve de pedir ajuda ao FMI; e os “trabalhistas”, que suspiravam
pelo radical Tony Benn, entregaram o governo à sra. Thatcher. Dali em diante,
excepto em economias particularmente prósperas, a “social-democracia” passou a
viver do imposto (cada vez mais pesado) e das dívidas que se iam acumulando à
conta de um passado glorioso. Claro que, nesta queda, Espanha, Portugal e a
Grécia, que precisavam de recuperar anos de miséria e de paralisia, caíram
primeiro e desceram mais baixo.
Hoje
há uma pergunta: que fazer dos partidos socialistas ou, se quiserem,
social-democratas (no sentido próprio da palavra)? Quase nenhum pode
continuar o programa tradicional de aperfeiçoamento e extensão do Estado Social
(e o nosso PS menos do que outro). Emigrar para as simplicidades do século
XX como o comunismo (na verdade, o estalinismo) ou qualquer outra espécie de
seita revolucionária levaria directamente à mais desoladora pobreza. Ficar no
sítio que sempre ocuparam, fingindo que o mundo não mudou, seria a receita para
a divisão e para uma absorção lenta de cada uma das partes pela esquerda ou
pela direita. O socialismo e a social-democracia chegaram ao fim do seu tempo.
Só que a sua morte vai inevitavelmente provocar um abalo, e um abalo sério, no
frágil edifício da democracia europeia.
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