sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Eu, pecador, me confesso




É certo que me confesso em vão.
Nem ele quer saber do meu pecado,
Habituado
Que está às zoeiras no passado
Que são
As muitas que teve em seu redor.
Por tal motivo melhor seria
Que eu deixasse incógnita esta alegria
De reconhecer que pequei,
Por ter imaginado sequer que ele iria
Ser diferente do que tantas vezes foi,
Solitário, indiferente, superior,
Um tanto ridículo, com o ar simplório,
Mas pacientemente consciente
De que algo construíra
A favor da multidão reclamadora,
E de uma pátria que amou e segurou por várias vezes,
Por cima do barulho e da cegueira
Dos que, depois de bem servidos,
Com muitos pruridos,
Só viam nele mal, ingratamente.
“Gigante”, como lhe chamei um dia
Em “Figuras de papelão”, num cenário de cartão
Com que foi perfidamente entrevistado
Por Margarida Marante e companhia,
Tal como hoje, pretensiosamente,
Ululando displicências pela frente,
Hoje, todavia, antes pelas costas,
Por ser mais difícil de apanhar,
Ao ruído indiferente.
Eu própria distribuí por ele a ironia,
Achando que ele deveria actualmente
Ser mais rápido em execução,
Não deixando que o país sofresse
Tanta angústia por desconhecer
O seu pensamento no cenário humano
Tingido de sorrisos amarelos
Entre os quais os dele,
E de certezas dos que viravam
O país do avesso e se deliciavam
Na perspectiva da transformação.
Cavaco Silva respondeu
Como sempre, à multidão,
Com dignidade e a mesma chama
De cavaleiro andante com a cruz à frente,
Mau grado a idade da fragilidade.
Perdão!
Eu, pecador, me confesso,
Mesmo em vão.
Ainda que a resposta parlamentar
Deite tudo a perder.
Para Cavaco Silva
A minha muita gratidão
Por continuar a ser.

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