“Casablanca”,
sempre. De vez em quando, a «TV Memória» lembra-se de nos bafejar com
esse brinde, que não perdemos. Para além de toda a beleza de desempenho e
figuras, emoção e nobreza de sentimentos, o momento empolgante em que o líder
da resistência tcheca, Victor Lazlo, faz sobrepor ao hino alemão, tocado e
entoado no café do Rick, o hino francês que electriza os frequentadores do
café, com as naturais consequências de encerramento daquele, ordenadas pelo
governo alemão sito em Casablanca. Bem posso lembrar que o mesmo fizemos em
Lourenço Marques, sem tanto brilho e mais emoção, não condicionados pela arte
coreográfica, num levantamento popular em frente à Câmara Municipal, em 1974,
ao lado da linda catedral de Nossa Senhora da Conceição, cantando, em lágrimas,
o Hino Nacional, com a bandeira hasteada, a lembrar o protesto contra os
destruidores da nação.
Vem
a referência a propósito do «Eixo do Mal» que resolvi ouvir hoje, em reposição,
há muito desligada das leviandades desses comentadores que, arrogando-se de
fina flor da intelectualidade nacional, mais não demonstram que vileza de
pensamento nas suas risadas ou comentários tantas vezes sem classe ou sequer
ética. Mas talvez o asco não fosse tão sentido como quando vejo e ouço duas
moças - uma dengosa, fazendo mímicas de simpatia determinada, mesmo quando é
atrevida e malcriada com os indigitados para o governo – anteriormente
governantes a sério - outra serenamente superior, querendo aparentar bons
sentimentos também, relativamente ao povo que as serviu com o seu voto, assim
arrancado no deslumbramento por esse par de donzelas ou donas como as do tempo
de outrora, Orianas que já seduziam os Amadises das cavalarias medievais, e
seduziram agora os peões, ciclistas, motards, automobilistas ou mesmo apenas os
que se fazem transportar de carroça, conquanto esta em vias de extinção.
O
certo é que também o “Eixo do Mal” continua mais ou menos intragável,
pequeno grupo a pretender discutir da pátria e dos patriotas, com uma pequena sabedoria
que esconde tanto de chacota pelos sentimentos alheios, daqueles que escutam
comovidamente o momento mágico de uma “Marseillaise” sobrepondo-se
entusiasticamente ao hino de um povo malignamente opressor.
Não,
os nossos palradores de política, não vibram com momentos desses, de hinos
nacionais traduzindo um qualquer orgulho ou respeito pelo seu país, conquanto
não duvide que no caso do filme norte-americano, eles não ficam indiferentes à
magia do episódio. A displicência é comum, e um elemento como Pedro Marques
Lopes, o das insinuações, da coscuvilhice sem nível, arrancada à experiência de
vida, parece-me, ou de fura-vidas, mais do que a estudo ou arte, o qual,
dizendo-se PSD, há muito segue no rasto da simpatia pelos camaradas mais
cultos, em rebaixamento vil, de quem se sente que finge ser duma cor e não
tardará a mudá-la, para sua própria sobrevivência.
Cavaco
foi o visado, pelo seu discurso “extremista e revolucionário”, condenado pelos
três protagonistas, à excepção de Luís Pedro Nunes, trapalhão mas de pensamento
mais nobre, o único, por vezes, que repõe uma certa sensatez na grosseria ou
excitação gerais.
Nobreza
para os três da esquerda (considerando entre estes o dito Lopes), é a da
esquerda – (que, todavia, tudo faz para destruir o país e qualquer projecto de
governação que nos tire do lodaçal). Cavaco, porque conhece bem essa esquerda e
a desprezou sem vitupérios no seu discurso, como homem honrado, no pesadelo que
vive dessa viragem da nação a uma esquerda há muito dirigida por rancores e
ódios e má criação, Cavaco foi chamado de ignóbil e outros epítetos de teor semelhante.
É,
aliás, isso, pecha comum, excluindo as opiniões que nos confortam, pela sua
sensatez e indignação de gente que sente. Tal a de Maria João Avilez. E a de
muitos outros que às vezes acerto em pegar, sobretudo por indicação do meu
marido.
Mas,
para todos os efeitos, a esperança de sobrevivência desapareceu, num pobre país
à deriva, por muita risada escarninha que o conceito mereça na praça. Se chegar
à praça.
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