Sugerem-me o tema três exemplares
nossos – aparentes - do PSD
Começo por Garrett e a sua
balada da sereia. Foi o que me lembrou, pensando em Marcelo Rebelo de Sousa:
Pescador da barca bela,
Onde vás pescar com ela
Que é tão bela,
Ò pescador!
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela.
Onde vás pescar com ela
Que é tão bela,
Ò pescador!
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela.
Mas cautela,
Ò pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ò pescador.
Ò pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Ò pescador.
Pescador da barca
bela,
Inda é tempo, foge de ela
Foge de ela,
Ò pescador! Almeida Garrett
Inda é tempo, foge de ela
Foge de ela,
Ò pescador! Almeida Garrett
Nós somos os pescadores que muito escutámos com algum
fervor MRS, que nos sossegava um pouco o espírito ao domingo à noite na TVI,
parecendo ter no bolso a receita para a nossa serenidade, embora a minha mãe,
que não acompanhava, há alguns anos, as suas falas, que a forçávamos a escutar,
todos sentados nos sofás religiosamente àquela hora, família unida colhendo os
privilégios da cultura televisiva – a minha mãe costumasse comentar, madona
poderosa: “É um fala-barato!”
O certo é que Marcelo parecia tudo saber, tudo
resolver, de tudo dar conta, velozmente, com optimismo e confiança na nação,
defendendo causas que nos pareciam ser as correctas, sereia cantando bela a sua
música celestial que impunha, sem diálogo, magister dixit, orientando,
sem contestação, Fénix no seu poleiro intocável, sempre velozmente perorando,
torneira jorrando sem pingue-pingue de hesitações.
De repente a sereia mostrou o seu temperamento real,
de nos comer a todos por parvos. Transformado em presidente hipotético, ele seria
o de todos os portugueses, comia de todos os repastos, como já a tantos víramos
fazer na vida, “Pescador da barca bela, inda é tempo, foge dela!”
A figura seguinte lembrou-me Camões e o seu Adamastor,
Mostrengo do fim do mar, horrendo e tenebrosamente ameaçador:
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo.
Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo! (Lus., V, 40)
Que pareceu sair do mar profundo.
Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo! (Lus., V, 40)
«Sabe que
quantas naus esta viagem
Que tu fazes, fizerem, de atrevidas,
Inimiga terão esta paragem,
Com ventos e tormentas desmedidas;
E da primeira armada que passagem
Fizer por estas ondas insofridas,
Eu farei de improviso tal castigo
Que seja mor o dano que o perigo! (Lus. V, 43)
Que tu fazes, fizerem, de atrevidas,
Inimiga terão esta paragem,
Com ventos e tormentas desmedidas;
E da primeira armada que passagem
Fizer por estas ondas insofridas,
Eu farei de improviso tal castigo
Que seja mor o dano que o perigo! (Lus. V, 43)
José Pacheco
Pereira,
o inspirador do paralelo, cada vez mais raivoso para com os da Coligação, a que
dizem que pertence, sem que consiga esclarecer cabalmente por que vomita tanto
fel, sob a aparência, todavia, de buda sereno, mastigando saberes em voz de
falsete, Adamastor que me desculpe, que tem uma personalidade mais definida e
humana, nos seus amores de engano, pela traiçoeira Tétis, P. Pereira provavelmente
de tendências mais p’ró Narciso.
Para Pedro
Marques Lopes, só me lembro de “piu-piu”, como paralelo.
Todavia,
dentro do espírito de “traição” que tais comportamentos implicam, não posso
olvidar a quantidade de fábulas à volta desse tema, entre as quais a do Lobo e
o Cordeiro. Para não falar em Shakespeare, é claro, que dá muito mais
trabalho a decifrar. Ou na própria Ilíada pioneira.
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