Os
de lá de fora arreganham a dentuça, indiferentes a provas dadas. Os de cá de
dentro não aceitam essas provas. E açulam os de dentro e os de fora, com o seu
muito nobre saber a que as bem cuidadas barbas acrescentam eficácia
representativa. Desde o início, com efeito, Pacheco Pereira mostrou, quer na
Quadratura do Círculo, quer nos seus nobres artigos de opinião, um ódio feroz
contra as políticas de Passos Coelho, atraiçoando, assim, os princípios da boa solidariedade
partidária, já que também se diz PSD, não sei porquê. Mas, apesar da mudança
para um governo que lhe quadra mais à alma, Pacheco Pereira consegue retocar o
discurso antigo, ignorando Costa para só se debruçar sobre Coelho – o grande
responsável de todo o mal. E assim cozinha a coisa, prevendo hipóteses a
respeito das sanções prováveis, continuando a ignorar Costa, continuando a
acusar Coelho, deslumbrando – fulminando - com a sua catadura, com a sua
escritura, com a sua faladura, numa irascibilidade sem tréguas e sem admissão de objecções, pelo menos na escritura, que na faladura lá está o Lobo
Xavier - e por vezes o Jorge Coelho - a destruir-lhe a pompa, com simplicidade
certeira.
No
mesmo Público de 9/7 há, todavia, um artigo
- de Teresa Morais, (Deputada, Vice-Presidente do PSD) - «Como
o PS desgoverna uma Nação» - que poderia servir como orientação técnica de
resposta, num pensamento menos sinuoso e mais responsável. Mesmo que menos
fulgurante. Menos fulminante. Mas P. P. não vai em
orientação que não seja a sua.
A questão portuguesa na
União Europeia
Público, 09/07/2016
Tópicos: França; Alemanha; Governo; PSD; Pedro Passos Coelho;
União Europeia; Eurogrupo; António Costa; Comissão Europeia;
Bruxelas
Tudo é mau esta semana, para não variar, embora a pátria
esteja entregue às delícias do futebol para se distrair. Mas há uma coisa nova,
que tanto pode dar para o torto, como criar uma pequeno espaço de oportunidade
para aliviar as grilhetas do Tratado Orçamental. Volto de novo atrás: eu
escrevi que não sei, à data em que escrevo, como é que esta matéria vai
evoluir, mas que existe, existe. Existe hoje na Europa uma “questão
portuguesa”, como no passado houve uma questão grega e há no presente uma
questão britânica, inglesa, escocesa e norte-irlandesa, logo, a prazo, uma
questão espanhola.
Como
se vê as companhias para a “questão portuguesa” não são brilhantes, pelo que
não sei até que ponto haver “questão” é bom ou mau. Os partidários do “bom
aluno” na versão actual Passos-PSD, acham que é péssimo haver essa “questão” e
que o ideal seria, como agora se diz, Portugal estar fora do “radar” da actual
“Europa”, com o seu eco nas agências de rating e nos mercados. Compreende-se
esta posição que mistura a submissão com a concordância política. As políticas
que a “Europa” quer impor são o programa que o PSD não pode enunciar em
público: continuação da austeridade por mais duas décadas pelo menos, e manter
como alvo dessa austeridade os salários, as pensões, as reformas e os custos
sociais do estado. O PSD quando fala da “oportunidade perdida” e do “desbaratar”
que o PS estaria a fazer dessa “oportunidade” fala da continuidade da política
de austeridade, mas não o pode fazer explicitamente como já não o fez nas
últimas eleições. Disfarçou-o, mas a política é esta. A grande ajuda do PSD é
que seja a “Europa” a impô-la, criando uma crise de legitimidade política no PS
(“estão a ver como eles fazem o mesmo”), acentuando a tese da inevitabilidade e
esperando que a imposição dessas políticas divida a coligação virtual que
permite a Costa governar.
Se
não houvesse a “questão portuguesa” a margem de manobra do governo Costa seria
já nula, embora permaneça muito escassa, e, como ela existe, acentua a
esperança do governo de passar pelos pingos da chuva por parte do governo e a
esperança contraditória de que os amigos do PSD no PPE e nos mais agressivos
“ajustadores” do Eurogrupo, a começar por Schäuble, se voltem contra Portugal
com o mesmo vigor punitivo que tiveram com a Grécia. A essência da “questão
portuguesa” é que já não o podem fazer com o à-vontade com que o faziam antes,
visto que há hoje na Europa uma clara divisão entre países no entendimento da
aplicação do Tratado Orçamental, em particular nas suas consequências
sancionatórias.
Não
oferece dúvida para ninguém que para Schäuble, Djisselbloem, Dombrovski, a
actual solução governativa e a política a que chamam de “reversões” são
inaceitáveis e a abater. Não é que Portugal seja muito importante, mas o
exemplo é mau. A questão das “reversões” daquilo a que chamam “reformas
estruturais”, – insisto, nenhuma das medidas tomadas pelo governo anterior com
excepção da legislação laboral foi estrutural, – é para eles vital, porque a
sua concepção do controlo do défice e da política que entendem ser necessária
passa por ter como alvo o estado social e os rendimentos do trabalho ou das
pensões. Se pensam que é 0,1 ou 0,2% do défice que os irritam, desenganem-se.
Já fecharam os olhos muitas vezes a violações bem mais graves ao Tratado. O que
eles não querem é que o alvo da austeridade mude. O que protege a França não é
só “ser a França”, como disse reveladoramente Juncker, mas ver Valls tão
empenhado na nova Lei do Trabalho. Esta é a música que gostam de ouvir.
Convém
não minimizar o poder destes homens, com origem na Alemanha, que hoje manda na
União e que entende que todas as “reformas” necessárias, como se vê nos textos
de Schäuble, vão no sentido de tirar os poderes já residuais dos parlamentos
nacionais, e ultrapassar a Comissão, que acham demasiado sensível às pressões
políticas, para as entregar a um grupo de tecnocratas, certamente escolhido
pela Alemanha. Como propõe Schäuble, que sabe muito bem o que quer, essa nova
instituição teria poderes para reprovar orçamentos dos estados nacionais e
propostas deste tipo são vistas como a resposta “integratória” pós-“Brexit”.
Por isso, estes homens olham com preocupação para a situação portuguesa, embora
não tenho dúvidas que estão confiantes de que, no momento necessário, a podem
esmagar sem contemplações. E podem.
O
outro lado da “questão portuguesa”, o lado que deu alguma folga a Portugal,
embora não se saiba se é para durar, foi visível no modo como a questão das
sanções por incumprimento foram apresentadas. Percebe-se muito bem pelas
palavras de Moscovici que tipo de discussões existiram e como essas discussões,
de clara natureza política, impediram algumas manobras em curso. Pelo menos
para já. A mais importante era apresentar as sanções sobre o incumprimento de
2014-5 como sendo uma avaliação da política do governo Costa em 2016. O governo
que não cumpriu o défice, o de Passos Coelho, era poupado politicamente pela
difusão de culpas e responsabilidades com o governo Costa. Aliás foi o que
“fontes” europeias, que nunca estiveram tão faladoras, assim como reiteradas
afirmações de Passos, Maria Luís e Cristas, na semana passada, estiveram a
dizer, acompanhados pela corte de comentadores e jornalistas que se formou nos
últimos quatro anos a favor do “ajustamento”. A tese era de que a haver
sanções, que neste caso eram claramente desejadas, elas seriam resultado da
“desconfiança” que existiria sobre o governo Costa e os resultados da sua
política, logo o país iria ser punido não pelo défice deixado por Passos
Coelho, em ano eleitoral e negando todas as juras de que tudo estava
controlado, mas pelas “reversões” de Costa que colocariam Portugal às portas de
um novo resgate.
Se
não existisse uma “questão portuguesa” teria havido na Comissão ambiguidades
bastantes para permitir essa interpretação. A irritação de Passos Coelho é que
as declarações da Comissão não só não assentaram nessa tese, como
explicitamente a negaram. Moscovici fez questão de repetir várias vezes, e esta
repetição não é inocente, de que estava a falar de 2015 e não de 2016. Ou seja,
Moscovici estava a par, como os seus colegas na Comissão, do significado político
interno das sanções, das polémicas que o PSD suscitou na semana anterior para
se desresponsabilizar, e fez questão de se demarcar de Passos, Cristas e Maria
Luís. Não sei se o fez por iniciativa pessoal, mas a insistência em 2015
significa que a questão foi debatida na Comissão e que esta está dividida. Ora,
como Renzi, Hollande, Tusk e Schultz fizeram declarações explícitas e públicas
contra a aplicação de sanções a Portugal, estamos perante algo que não tem
precedente nos últimos quatro anos de coligação PSD-CDS. Isso significa que na
União começa a haver a divergência que interessa a Portugal, a contestação
ainda embrionária, mas densa de significado político, da aplicação rigorosa do
Tratado Orçamental e esse é um dos lados da “questão portuguesa”. Pode ficar
pelo caminho, face ao poder alemão e dos seus aliados, mas que existe, existe.
Como
o PS desgoverna uma Nação
Teresa Morais
09/07/2016
Sete meses passados a Nação portuguesa corre riscos evitáveis!
No
seu afã de reverter, desfazer e destruir as reformas realizadas na anterior
legislatura, o atual governo não se preveniram os resultados desta política.
Impunha-se agradar, se possível a todos, mas em especial àqueles em que o
governo se apoia para garantir a sua sobrevivência.
O
governo deu a cada um dos seus parceiros o mais importante que cada um deles
exigiu. E quando isso não foi possível, cada um engoliu o seu sapo, a bem da
sobrevivência desta anacrónica “Equipa de salvação de António Costa”.
Aumentaram
os impostos mas esta é a austeridade virtuosa e, portanto, subscrita por PCP e
BE. Fez-se um orçamento que em muitas áreas tidas como as ”meninas dos olhos”
destes partidos – veja-se o caso da Cultura – não lhes atribuiu mais um euro.
Convidaram-se amigos para tratar de assuntos fundamentais do Estado. Reviram-se
as normas das remunerações dos gestores públicos para acomodar as milionárias
pretensões salariais do futuro presidente da CGD, e BE e PCP silenciaram-se. Os
que no passado clamavam pela verdade no Parlamento e nas ruas recolhem-se agora
em comentários contidos. Para esta nova maioria a verdade mata!
Todos
os indicadores relevantes da nossa economia se degradaram em apenas sete meses
desta governação. Exportações, dívida, crescimento da economia, emprego,
investimento, confiança, tudo se reverte à frente dos nossos olhos. O BE, cego
com a vertigem do poder que lhe caiu no colo, talvez não veja. O PCP, finge que
não vê.
E
enquanto tudo isto se passa, o Primeiro-Ministro passeia pelo país alegre e
prazenteiro. É o exemplo vivo de que “tristezas não pagam dividas” e, portanto,
cresça a dívida, atrasem-se os pagamentos do Estado, destrua-se emprego, falte
o crédito às empresas, falhem as transferências essenciais ao funcionamento dos
hospitais, mas sorria-se! Sobretudo sorria-se, sempre! Porque é isso que mantém
a ilusão de que a Nação está bem!
Também
lá por fora o Primeiro-Ministro sorri! Acompanhado por uma equipa inchada de si
própria - sem razões para isso – suportam-se as críticas, mas sorri-se!
Aguentam-se as pressões, mas sorri-se! Simula-se a defesa do esforço de
ajustamento feito pelo anterior governo e sorri-se. O sorriso cínico deste
Primeiro-Ministro tornou-se a imagem de marca deste governo.
E
quando, de dentro e de fora, se multiplicam os avisos, quando os números do INE
e do Banco de Portugal, as previsões da UTAO e os pareceres do Conselho das
Finanças Públicas, as declarações de altos responsáveis de instituições
internacionais tornam inevitável admitir, ainda que de forma minimalista, que
as coisas afinal não estão a correr bem, o ministro das finanças lá diz,
baixinho, que o governo poderá ter que rever as suas previsões. Mas logo de
seguida, o Primeiro-Ministro apressa-se a afirmar, em alta voz, que tudo vai
bem no seu reino. O da sua fantasia!
E
quando se é forçado a reconhecer alguma dificuldade, há sempre um “culpado” à
sua disposição: a crise num qualquer país, que nos afeta; as instituições que
nos financiam e depois andam a maçar-nos para cumprirmos os nossos compromissos;
ou o mais escolhido de todos “os culpados” – o anterior governo. Esse mesmo, o
que herdou um País arruinado pelos socialistas, o que cumpriu um programa de
ajustamento dificílimo e libertou o País da tutela da Troika, o que deixou a
subir todos os indicadores económicos que este governo já deteriorou.
Tudo
isto seria risível se fosse inofensivo. Mas não é! O país volta a debilitar-se
quando finalmente se fortalecia. Repetem-se erros do passado. Perde-se a
confiança daqueles que tanto precisávamos que acreditassem em Portugal.
Lamentavelmente,
a Nação enfrenta de novo riscos maiores, pela mão dos mesmos!
Deputada,
Vice-Presidente do PSD
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