sábado, 9 de julho de 2016

Voz do povo é voz de Deus




São noções básicas estas sobre a necessidade de pagar as dívidas. É um gestor que no-lo diz – Pedro Jordão - além de outras noções sobre uma austeridade provocada por esbanjamento indevido, ou mesmo por má definição de prioridades de actuação na decisão de devolver esses dinheiros, abrutalhadamente, coisa em que ainda hoje estamos todos envolvidos, sem que, ao que parece, a dívida vá diminuindo nem a economia progredindo, nem a dívida saldando.
E vêm à liça velhos provérbios que pesquei na internet, de orientação de trabalho, poupança e pagamento de dívida, que se podem citar, no rasto dos dez Mandamentos pregados por Deus a Moisés, no monte Sinai, e que os Homens sensatos pelos tempos fora criaram, a partir das suas experiências e afeições:

1º - Não deites foguetes antes da festa.
2º - Em casa em que não há pão todos ralham e ninguém tem razão.

3º -  Guarda de comer, não guardes de fazer.
4º - Não se pescam trutas a bragas enxutas.
5º - Não há boa terra sem bom lavrador.
6º - Quem em novo não trabalha, em velho come palha.
7º- Quem cabritos vende e cabras não tem, dalgum lado lhe vem

8º - Quem não tem vergonha todo o mundo é seu.
9º- Ao bom pagador não dói o penhor.   
10º- Quem não deve, não teme.

Estes dez Mandamentos podem-se sintetizar facultativamente nos dois seguintes, para efeitos psicológicos de optimismo e de progressão nas carreiras:
1º Viver não custa, o que custa é saber viver.
2º- Vaso ruim não quebra.

Austeridade – A sensatez e as demagogias
Pedro Jordão
Público, 13/06/2016
Um dos dramas da política é a simplista obsessão de se catalogar com uma linearidade que a realidade não tem. Esse fundamentalismo pseudo-ideológico tolda a inteligência e a criatividade. Quer-se ser “pró” ou “anti”. São ingénuas hiper-simplificações. A discussão sobre ser-se pró ou anti austeridade tornou-se num debate parcialmente imbecilizante, porque ideologicamente fanatizado. Os tristes cidadãos pagam, com o seu sofrimento, também estes duelos. O mundo não é preto ou branco.
Austeridade é um princípio de sensatez, o de evitar esbanjar o dinheiro dos cidadãos, bem como o de, tanto quanto possível, limitar os gastos aos recursos gerados. Essa via evita a acumulação de dívida, que reduz a capacidade de financiamento numa posterior fase difícil e que cria custos financeiros que drenam a aplicação de recursos em domínios prioritários para os cidadãos e para a criação de riqueza. É um conceito de bom senso. Com todo o respeito, alguém afirmar ser anti-austeridade é um contra-senso. Por outro lado, perante um continuado défice orçamental que gerou uma dívida que nos esmaga, outros dizem-se pró-austeridade com o entendimento de que tal significa cortar custos e extorquir impostos já no campo da insanidade e da desumanidade, mesmo que tal disfuncionalize a própria economia.
Em situações normais devemos evitar qualquer défice. Quando ele existe temos que anulá-lo tão rapidamente quanto possível mas não mais depressa do que é sustentável. Quando, conduzindo um automóvel, constatamos que a velocidade é excessiva, desaceleramos com segurança; não fazemos uma travagem a fundo que nos pode despistar. Pressa é inteligente, precipitação é perigosa. A via inteligente é a de aumentar (muito) a criação de riqueza na economia e de, enquanto esse efeito algo lento se forma, cortar o que é supérfluo ou adiável mas sem incorrer em disparates que destruam a economia, o poder de compra (uma alavanca da economia) e a dignidade dos cidadãos. O que resulta desta matriz de impactos a curto e médio prazo é um défice decrescente a gerir com sensatez. Esse défice temporário exige acréscimos externos de financiamento do Estado. Teremos o acordo dos financiadores? É uma negociação. Os financiadores tentam invocar o ”rigor técnico”, nem sempre com fundamento.
O povo foi dolorosamente endividado por décadas de políticos que decidiram obras faraónicas que os engrandeceram em inaugurações mas que nos destruíram o presente e o futuro. Contudo, não é verdade que as despesas do Estado sejam, em Portugal, elevadas. Mas são pessimamente escolhidas. É um mito que o peso do Estado seja o nosso problema. Em percentagem do PIB, as despesas do Estado são, em Portugal, inferiores às da França, da Áustria, da Dinamarca, da Bélgica, da Finlândia ou da Suécia. O Estado simplesmente tem sido mal gerido e o dinheiro muito mal gasto.
A União Europeia e a Zona Euro assumem posições críticas. Uma parte da dívida monstruosa que nos estrangula foi contraída na realização de obras megalómanas e supérfluas com parcial financiamento comunitário, com o acordo de autoridades europeias, assim co-responsabilizadas. Terão essas entidades a autoridade moral e técnica para nos criticarem com sobranceria? Será sempre austera a forma como a União Europeia gasta rios de dinheiro que provém dos impostos dos cidadãos? Será exemplo de austeridade o facto de o Parlamento Europeu, baseado em Bruxelas, gastar fortunas dos cidadãos em cada mês para, por uns dias, irracionalmente reunir em Estrasburgo, em França? Falta humildade de todos.
A criação da Moeda Única teve vantagens (propagandeadas) e inconvenientes (desvalorizados). Apesar das suas virtualidades, o Euro é uma das principais causas da gradual perda de competitividade da economia portuguesa, enquanto aumenta artificialmente a competitividade da Alemanha ou da Holanda. O Tratado de Maastricht, que instituiu o Euro, inclui componentes pouco sólidos. Embora seja necessária disciplina orçamental no contexto de uma moeda comum, o valor limite para o défice, de 3%, nada tem de rigorosamente científico. É um valor. Em alguns casos um défice de 1% pode ser irresponsável e noutro caso um défice de 4% pode ser inteligente se se focar na aceleração da riqueza nacional, tal como numa empesa que, num momento, investe para incrementar a sua futura rentabilidade. O primeiro país a violar esta “sagrada” regra foi a própria Alemanha. Em qualquer caso, decidir que um país cambaleante, em desequilíbrio financeiro superior a 3%, deve pagar uma multa que o derrube, é uma surreal ideia de burocratas europeus.
Outros defendem um “estímulo” estatal para induzir crescimento, mas num país com um profundo hábito politico de esbanjar em idiotices o dinheiro dos cidadãos existe o risco de se induzir temporária actividade económica que branqueie os indicadores (como os estádios desnecessários do Euro 2004), mas que em seguida afunde o país em nova dívida. Outras formas de estímulo são interessantes, não essas.
Talvez o nosso maior défice seja o défice de ideias e de sensatez.
Gestor

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