O artigo de António Barreto mostra o cancro que
rói a Europa, em que povos bem posicionados financeiramente e culturalmente sonharam
uma união fundada em solidariedade financeira como estratagema de interajuda em
confrontações possíveis com o resto do mundo. Para nós, portuguesinhos
valentes, como mostra a Lenda (inacabada)
de S. Frei Gil, de Eça de Queirós, em que aquele, ainda jovem e
apaixonado, vai – para os lados de Vouzela - com os seus homens em busca da sua
namorada Soleima, que fora raptada, e ao passarem pelo castelo de Lanhoso, “dois
homens acorreram com chuços, gritando: Cá por aqui é honra! A que
vindes?”, a que outros homens se juntaram dispostos à briga, o que fez
faiscar os olhos de D. Gil, que foi, no entanto, dissuadido de lutar, pelo seu
conselheiro Pêro Malho, lembrando que eram apenas sete contra os latagões armados de chuços. D.
Gil, pois, facilmente desistiu de lutar pela sua Soleima, o que não fez D.
Quixote que arrostaria contra gigantes, embora facilmente despenhado, sendo D.
Gil mais dado às letras e às curiosidades do mundo. Mas também D. Quixote não
lhe ficava a dever nada em sabedoria e boas sentenças, a verdade seja dita. Quanto à valentia, se é
certa a história do S. Frei Gil, ela parece vigorar mais nos homens com chuços,
o que vem em apoio da tese da valentia do nosso Zé Povinho intemerato e esperto.
Retomando a tese de António Barreto, da “Europa
a mais”, verifica-se que ela está a mais é para a nossa Esquerda,
certamente que apoiada pelas gentes que ela própria apoia, com a sua virtude e
o dinheiro alheio, as quais gentes, depois de terem usufruído dos nacos
provindos dessa Europa, a título de empréstimo, entendem que “cá por aqui é
honra”, continuaremos no nosso cantinho, como Rafael Bordalo Pinheiro nos
esculpiu, com a manha necessária e a
valentia suficiente para, sem escrúpulos, nos desobrigarmos dessa Europa a
mais, que nos exige um pagamento incomportável, de juros absurdos.
E a culpa é da Europa, que nos devia ter
ensinado como as dívidas devem ser pagas, pois parece que não sabíamos : “Ao contrário do
que se esperava, a Europa não ajudou à disciplina financeira dos portugueses.
Mas contribuiu para o endividamento e não colaborou na afirmação da
responsabilidade nacional.”
Lembro-me de que a gente
por cá se aboletou, e fez farras em vez de guardar os dinheiros, embora muitos
o tivessem guardado fora, diz-se, para não pagar impostos, além de outros
desleixos fraudulentos de que muito se fala, quase todos os dias. “Também
é verdade que Portugal se pôs a jeito. Endividou-se e desgovernou-se. Julgou
que a Europa era um projecto de solidariedade e que estaria sempre ali,
generosamente, para nos acudir. Tudo ao contrário: a União ajudou e depois
condenou o desregramento!
Enfim, a culpa
disto tudo é, pois, da Europa que quis ajudar e de facto ajudou, sobretudo, a modernizar
o país e a enriquecer uns tantos espertos. Mas quando chegou a hora de prestar contas ficámos tramados. Diz-se que os juros
que a Europa exige são fabulosos e é por isso que não conseguimos libertar-nos
da dívida. “ O Pacto Orçamental a que Portugal pertence desde 2012
constitui apertada tenaz que parece impedir, ao mesmo tempo, o
endividamento, o reembolso e o crescimento. Já nem se pode falar da mão
invisível da União, agora temos um murro na mesa.”
Mas é
extraordinária a intenção da Esquerda, autêntico conto não de fadas mas de bruxas: “Se fizermos como o PCP e o
Bloco querem, é simples. Reclamamos a reestruturação e o perdão da dívida, não
aceitamos imposições nem metas sobre o défice, exigimos empréstimos e
financiamentos, até chegarmos ao ponto, por aqueles ambicionado, que consiste
em sair do euro, do Pacto Orçamental, dos pactos de estabilidade e da União...”
Enfim! A Europa “Deu
algumas garantias a quem procurava um caminho, como Portugal e Espanha. Mas
também ajudou a hipotecar as liberdades e a democracia a quem já tinha uma e outras.
O problema é que...
fora da Europa é pior!
Concordo com a última
afirmação. Nunca Portugal ergueu tanto a cabeça como nos dias de hoje, no
borbulhar de gentes com saliência desportiva, científica, artística... Mas o Zé
Povinho é que manda: “Ai, Jesus, que lá vou eu”.
Europa
a mais!
António
Barreto
D.N.,
23/10/2016 – “Sem Emenda”
Os últimos tempos
têm sido penosos para os povos europeus, sobretudo para os países com mais
problemas de instabilidade política, de endividamento, de indisciplina
financeira e de menor desenvolvimento económico. Quer isto dizer que os que se
queixam são aqueles a que a Europa mais falta fazia. A Europa soube (e
bem...) reintegrar a Alemanha e a Itália na democracia, como soube resistir (e
bem...) às ameaças comunistas internas e externas. Mas a
sofreguidão integracionista, a ambição alemã e a ilusão dos intelectuais
tecnocratas fizeram com que se não parasse. Cada dia era "mais
Europa" e a cada crise a resposta era "mais Europa". Jacques
Delors inventou uma parábola: tal como a bicicleta, a Europa, se pára, cai.
Com esta ideia, correu-se para o desastre. A verdade é que, sem parar, a
bicicleta corre o risco de se espetar contra a parede. Estamos nas vésperas
desse eventual acidente. Falta saber se é possível mudar o rumo. Voltar atrás,
não. Mas mudar a trajectória, talvez.
Ao contrário do que
se esperava, a Europa não ajudou à disciplina financeira dos portugueses. Mas
contribuiu para o endividamento e não colaborou na afirmação da
responsabilidade nacional. A Europa quis andar depressa, estreitar os Estados,
"entrosar os povos", casar à força e harmonizar o que nunca o deveria
ser. As últimas notícias portuguesas, do Banif ao BPN, do
endividamento sem limites às PPP, da CGD aos orçamentos, mostram uma União sem
rédeas. Também é verdade que Portugal se pôs a jeito. Endividou-se e
desgovernou-se. Julgou que a Europa era um projecto de solidariedade e que
estaria sempre ali, generosamente, para nos acudir. Tudo ao contrário: a União
ajudou e depois condenou o desregramento!
Há Europa a mais. Os últimos
anos confirmaram esta evidência. Está definitivamente consolidado o poder da
União (especialmente da Alemanha) sobre o orçamento, os bancos públicos e
privados, a administração, os projectos de investimento e grande parte das
leis. O Pacto Orçamental a que Portugal pertence desde 2012 constitui apertada
tenaz que parece impedir, ao mesmo tempo, o endividamento, o reembolso e o
crescimento. Já nem se pode falar da mão invisível da União, agora temos um
murro na mesa.
Como voltar atrás?
Como abandonar as provisões actuais sobre o orçamento, a despesa, o
investimento e o Estado social? Se fizermos como o PCP e o Bloco querem, é
simples. Reclamamos a reestruturação e o perdão da dívida, não aceitamos
imposições nem metas sobre o défice, exigimos empréstimos e financiamentos, até
chegarmos ao ponto, por aqueles ambicionado, que consiste em sair do euro, do
Pacto Orçamental, dos pactos de estabilidade e da União...
A Europa ajudou a
modular os países membros e a regular as consequências da globalização. Mas
hoje o mesmo esforço parece exigir alguma autonomia nacional, o que a Europa
parece já não saber oferecer. Portugal e a Alemanha não devem nem
podem regular-se ou defender--se da mesma maneira.
A Europa transforma
ou esbate identidades. Talvez, mas não parece muito grave. A Europa
limita a independência nacional. Certamente. É difícil, mas poderia ainda
aceitar--se, caso a Europa soubesse substituir-se a algumas funções do Estado. A
Europa condiciona as soberanias e a democracia. É verdade, mas começa a ser
complicado, quem sabe se dramático.
A Europa trouxe
democracia a quem a tinha pouca. Ajudou a receber países que dela se tinham
afastado, como a Alemanha e a Itália. Deu algumas garantias a quem procurava um
caminho, como Portugal e Espanha. Mas também ajudou a hipotecar as liberdades e
a democracia a quem já tinha uma e outras.
O problema é que...
fora da Europa é pior!
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